Encontros e desencontros*
Nós somos todos linhas tortas
porque nos encontramos. Nós somos quase todo feitos de encontros e de
desencontros também; somos um conglomerado de fragmentos de você.
Sim, nós somos linhas tortas
porque linhas retas jamais se encontram mesmo sendo curvas infinitas.
E certamente, escrever certo por
linhas tortas parece cada vez mais ser o melhor caminho. Pois muito do que eu
sou agora deve-se em grande medida as contribuições dos encontros e dos
desencontros que compuseram e impactaram a minha vida tão somente porque a
minha vida toda foi feita de histórias repletas de fatos que transcenderam e
muito a lógica comum e cotidiana imposta pelos mais superficiais e céticos.
A verdade é que quando se toma
consciência de tudo que os encontros e os desencontros nos causaram fica
difícil não nutrir paz e uma gratidão gigante e crescente por tudo que nos fora
doado nessa jornada existencial sempre tão significativa, desafiadora e
dignificante. Musa!
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Autoconhecimento e liberdade*
Se conhecer faz toda a diferença,
pois é isso que nos permite não mais nos demorarmos tanto onde persistir é uma
tarefa em vão. E curiosamente, é o fenômeno do autoconhecimento que nos dá
poder e lucidez suficientes para deixar passar algumas circunstâncias ou
recomeçar sempre que estivermos num caminho ruim ou que já não faz mais
sentido, sobretudo, porque o seu lugar já é no passado.
Somente o autoconhecimento nos
liberta e nos ensina a dizer não quando é preciso doa a quem doer comova a quem
comover. É pelo autoconhecimento que descobrimos a fundo o valor de compreender
que tudo que nos tira a paz não merece durar ao nosso lado mais do que o tempo
mínimo e inevitável.
Enfim, se conhecer é fundamental
demais porque é isso que melhor nos faz conhecer tão bem qualquer pessoa e sair
tranquilamente de mãos dadas na direção de tudo que realmente importa, desde se
ausentar em paz de um restaurante quando o menu não nos agrada até mesmo
escolher conscientemente partir, tolerar ou se manter em silêncio quando outros
ainda não são capazes de nos entender. Musa!
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Ouvir e compreender*
Não deveria ser tão comum haver
tantas pessoas confundindo radicalmente ouvir com julgar. Ouvir é tão
terapêutico, é tão regenerativo, é tão necessário, é tão libertador e é sempre
uma grande fonte de aprendizado e fortalecimento recíproco. Já julgar é mais
fácil, é mais vil, mais instintivo e é ao mesmo tempo a própria precariedade da
auto-observação e do autoconhecimento se manifestando e infectando tudo a que
consegue tocar.
Julgar é a falência do ser
cristão ou a decadência de qualquer ser humano. E curiosamente quem já caiu por
inteiro nessa armadilha da vaidade e do egocentrismo a cada dia mais
potencializa o seu veneno e o seu desejo de punir e condenar a todos e a tudo aquilo
que não condiz com os seus caprichos e com a sua hipocrisia. Entretanto, talvez
não haja melhor radiografia do caráter de uma pessoa que senão observar se ela
é capaz de ouvir ou apenas de julgar.
Quem tem a grandeza de ouvir tem
o poder da compaixão, da solidariedade, da tolerância e do respeito as
diferenças. Quem tem a fraqueza grande de julgar tem bem grande a covardia da
violência principalmente sob aqueles que não podem se defender.
Mas, por outro lado, é
surpreendente convir que quase sempre é nos mais feridos que percebemos as
maiores aptidões para curar os outros.
Portanto, provavelmente nisso
tudo haja uma oportunidade concreta de compreender que esse dom presente em
tantos feridos e injustiçados só se justifica mesmo é para nos ensinar que
devemos sim é cuidar do que nos prejudica visando a superação, enquanto cultivamos
o que nos favorece buscando a sua multiplicação para dividirmos e somarmos.
Musa!
*Prof. Dr. Pablo Mendes
Filósofo. Educador. Escritor. Musicista.
Filósofo Clínico
Uberlândia/MG
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