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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) a vida que se leva por dentro não é a vida terrena" "(...) ela indicava o nome íntimo das coisas, ela, os cavalos e alguns outros; e mais tarde as coisas seriam olhadas por esse nome" "(...) alguma coisa que se estava construindo e que só o futuro veria" "Amanhã (...) é o que vem quando se dorme" "Já lera biografias de pessoas que de repente passavam a ser elas mesmas e mudavam inteiramente de vida, pelo menos de vida interior" "Já entrei contigo em comunicação tão forte que deixei de existir sendo. Você tornou-se um eu. É tão difícil falar e dizer coisas que não podem ser ditas" "Na certa mereceria um dia o céu dos oblíquos onde só entra quem é torto" "Ela acreditava em anjo e, porque acreditava, eles existiam" "Cada minuto que vem é um milagre que não se repete" *Clarice Lispector in " Clarice na cabeceira " - Org. José Castello. Ed. Rocc

Uma jornada existencial*

Seus cabelos brancos amarrados em rabo de cavalo sobre jaqueta rota lembrava os anos 70. O rosto bronzeado e com rugas de vida sentida intensamente contava a história dos amores e dores. A serenidade da sabedoria aprendida ao longo da jornada existencial convidava ao encontro amigo. Realmente ele se tornara um ser especial que atraia amigos por onde passava. Perguntaram-lhe o que pensava sobre isto e aquilo. Ele sorria e olhava fixo nos olhos respondendo firmemente: - Quem sou eu para julgar e criticar algo ou alguém se todos e tudo é representação e espelho meu? O que vejo me vê. Prefiro meditar, mergulhar em meus pantanais e analisar minha ação no mundo. Prefiro respeitar o outro e compreender sua ação no mundo. Cada um dá o que tem. Seu passo lento, observador, terno e amoroso caminhava por entre ruas e jardins compreendendo a singularidade e a liberdade de cada um ser o que se fez. Somos o que pensamos. Era um hippie, um velho sábio, um herói ou apenas um simple

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) experiências que, ao evocarem crises, preparam caminho para uma nova teoria" "Qualquer nova interpretação da natureza, seja ela uma descoberta, seja uma teoria, aparece inicialmente na mente de um ou mais indivíduos. São eles os primeiros a aprender a ver a ciência e o mundo de uma nova maneira. Sua habilidade para fazer essa transição é facilitada por duas circunstâncias estranhas à maioria dos membros de sua profissão. Invariavelmente tiveram sua atenção concentrada sobre problemas que provocam crises. Além disso, são habitualmente tão jovens ou tão novos na área em crise que a prática científica comprometeu-os menos profundamente que seus contemporâneos à concepção de mundo e às regras estabelecidas pelo velho paradigma" "Paradigmas não podem, de modo algum, ser corrigidos pela ciência normal. Em lugar disso, como já vimos, a ciência normal leva, ao fim e ao cabo, apenas ao reconhecimento de anomalias e crises" "(...) os cie

Ao pé da letra*

Uma clínica fundada exclusivamente no discurso literal pode ser areia movediça. O discurso da singularidade, se tomado ao pé da letra, desmerecendo os sentidos da autoria, pode significar uma sucessão de equívocos. Assim as armadilhas se multiplicam com o suposto saber especialista e sua classificação a priori. Ao rascunhar alguns apontamentos sobre Filosofia Clínica, é importante recordar um de seus fundamentos: a ausência de tipologias, rótulos, classificações. Nessa abordagem vale mais o discurso Partilhante. Fonte de saber e matéria prima aos procedimentos do Filósofo. O vocabulário de cada sujeito, mesmo quando usa as palavras de sua tribo, aprecia significados próprios, distorções, sentidos inesperados. Aqui se tem um refúgio de maior intimidade, por onde a pessoa exercita seus devaneios, desloca-se pela geografia de sua subjetividade. Nesse lugar descobre-se uma fonte de originais, longe daqui as expressões perdem a referência do autor.   Trata-se de um protagon

O amor e a poesia*

Fizeram um trato O amor e a poesia De não mais Se separarem. Certo dia incerto O amor falou: "Vou ali e já volto!" A poesia sentou Calou e esperou E de tanto esperar Cansou e voou E desapareceu... Tempos depois Sobrou uma lápide Naquele lugar E nela escrito: "Aqui jaz o amor Envolto no manto Da poesia..!!" *José Mayer Filósofo. Poeta. Livreiro. Especialista em Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

O apanhador de desperdícios*

Uso a palavra para compor meus silêncios. Não gosto das palavras fatigadas de informar. Dou mais respeito às que vivem de barriga no chão tipo água pedra sapo. Entendo bem o sotaque das águas Dou respeito às coisas desimportantes e aos seres desimportantes. Prezo insetos mais que aviões. Prezo a velocidade das tartarugas mais que a dos mísseis. Tenho em mim um atraso de nascença. Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos. Tenho abundância de ser feliz por isso. Meu quintal é maior do que o mundo. Sou um apanhador de desperdícios: Amo os restos como as boas moscas. Queria que a minha voz tivesse um formato de canto. Porque eu não sou da informática: eu sou da invencionática. Só uso a palavra para compor meus silêncios. *Manoel de Barros

Leitura da Carne*

Velhos troncos partidos cascas grossas dispostas em lâminas camadas de história, lares para vários seres casa para nossa alma se alojar no escuro produto da terra cortiça em decomposição com todas as marcas de quem viveu ali. Com todos os sentimentos que me retiram ou que percebo dos que passaram . Indiferença, consolo da sombra, juras de amor? Se pudesse eu diria : não me vibre tão forte ! Remóis por dentro essa carne que pulsa as mãos tremem o coração talvez acelere negativo a respiração se faz susto . Como ter, dentro do corpo, respostas para um astral perdido? Crónicas de décadas lidas num minuto . Leio com a pele as vibrações dos corpos. Elas atravessam as esferas para solidificar meu ser. Corpo fechado Exista e me respeite. *Vânia Dantas Filósofa. Poetisa. Filósofa Clínica Brasília/DF

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Não há filosofia absoluta: ninguém filosofa senão a partir do que é, do que vê, do que sente..." "Nada existe, salvo o ser, que dura e que muda: nada existe, salvo o devir" "(...) o real não existe no tempo, mas é o próprio tempo" "Dirão que não haveria devir se não houvesse tempo... Sem dúvida, mas não porque o tempo seria a condição do devir: porque ele é, antes, o próprio devir" "(...) a vida, como o amor, como tudo, só é eterna enquanto dura" "O presente da natureza, ao contrário, é um perpétuo devir: é sempre agora, mas é sempre diferente. O inverso também é verdade: é sempre diferente, mas é sempre agora"  "Lembrando santo Agostinho: 'Porque esses três tipos de tempo existem em nosso espírito, e não os vejo fora dele. O presente do passado é a memória; o presente do presente é a intuição direta; o presente do futuro é a espera" "O tempo parece indefinível, inapreensíve

Sua área contribui, mas não é a única*

Tem uma frase atribuída a Abraham Maslow que diz que “Para quem só sabe usar martelo, todo problema é um prego.” É o que vejo bastante por aí. Se o sujeito é economista, o problema é somente econômico. Se é médico, deveria haver mais investimento na saúde. Se é cientista político, o problema está na organização política. Se se dedica à vida intelectual, acha que todos deveriam seguir o mesmo caminho. O mesmo acontece com pessoas dedicadas a diversas outras áreas. Isso quando a pessoa não tem um partido de estimação e acha que tudo é fruto de perseguição ao seu candidato do coração. Mas a vida é mais complexa do que isso. Devemos fazer nossa parte a partir da área em que atuamos, porém sem achar que todos devam fazer exatamente o que fazemos. Quando citam, por exemplo, países que saíram da miséria e escassez depois de investir na educação, os "defensores" da educação esquecem que muitas outras instâncias da vida e do comportamento daquele povo estavam desenvolvida

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) uma suposta doença cerebral só se converte em doença cerebral autêntica quando comprovada por dados histopatológicos e patofisiológicos apropriados e sistematicamente repetíveis; e, terceiro, em que as pessoas com ou sem doenças cerebrais só são 'pacientes' na medida em que consentem em assumir esse papel, visto que, como indivíduos numa sociedade livre, elas têm um direito fundamental de rejeitar o diagnóstico médico, a hospitalização e o tratamento"   "A esquizofrenia é definida de modo tão vago que, na realidade, trata-se de um termo frequentemente aplicado a quase toda e qualquer espécie de comportamento reprovado pelo locutor" "Intelectualmente, a psiquiatria é um mal - porque interpreta a discordância como doença; e é moralmente um mal - porque justifica o confinamento como cura" "Os freudianos descobriram a lambuzada de fezes na arte; os lainguianos descobriram arte na lambuzada de tintas. Ou, o que vem a dar no

Veneno do acaso*

“Liberdade de usar qualquer tom.”                Albert Camus Quando te encontrar, diante dos olhos, longo sorriso que preenche o Outro. Juro: hei de pensar antes mesmo de não pensar em mais nada. Quando um dia te encontrar, quando os olhos estiverem diante dos olhos, do corpo personificado da alma, alheio ou não. Juro: hei de seguir a sonhar e a viver sem a certeza dos absolutos. Quando te encontrar, nesse dia, não estar eu mesmo, no dia certo de disponibilidade e em disritmia diante dos fatos, estarei a dizer: hei de ser fiel aos meus instintos. Partir antes de morrer, o veneno dos encontros é que move a poética dos desencontros. *Prof. Dr. Luis Antonio Paim Gomes Filósofo. Editor. Livre Pensador. Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"A ciência normal não se propõe descobrir novidades no terreno dos fatos ou da teoria; quando é bem sucedida, não os encontra" "(...) podemos facilmente começar a perceber por que a ciência normal - um empreendimento não dirigido para as novidades e que a princípio tende a suprimi-las - pode, não obstante, ser tão eficaz para provocá-las" "(...) quando se trata de uma teoria científica, ser admiravelmente bem-sucedida não é a mesma coisa que ser totalmente bem-sucedida"  "O significado das crises consiste exatamente no fato de que indicam que é chegada a ocasião para renovar os instrumentos" "Suponhamos que as crises são uma pré-condição necessária para a emergência de novas teorias e perguntemos então como os cientistas respondem à sua existência" "Embora seja improvável que a história registre seus nomes, indubitavelmente alguns homens foram levados a abandonar a ciência devido à sua inabilidade para tole

Um minuto*

Os trovões deram uma pausa. A chuva aquietou o calor excessivo. Os ventos recolheram as nuvens. A constelação de Aquário assumiu o comando nos convocando a cuidar da humanidade. Neste minuto do novo dia o céu se abriu trazendo novos desafios. Uma concha que fora de Afrodite nos convida a entrar mar adentro. Mistérios a serem revelados nos aguardam. Navegamos até as brumas e entramos no oculto. Os raios uranianos nos esperam para abrir caminhos até então desconhecidos. Um nave espacial cheia de luzes se apresenta. A porta de metal se abre e somos sugados. As luzes dos metais ofuscam nossa visão, até que uma voz firme nos diz: "o tempo é de transição. Confiem. É só o começo. Sabemos o quanto estão assustados., mas tudo faz parte de um processo. Nada é eterno no cosmos. Tudo é um vir-a-ser. Olhem sem mágoa e rancor. Confiem. Há um mundo sendo organizado". *Dra Rosângela Rossi Psicoterapeuta. Escritora. Filósofa Clínica Juiz de Fora/MG

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Eu, alquimista de mim mesmo. Sou um homem que se devora ? Não, é que vivo em eterna mutação, com novas adaptações a meu renovado viver e nunca chego ao fim de cada um dos modos de existir. Vivo de esboços não acabados e vacilantes. Mas equilibro-me como posso entre mim e eu, entre mim e os homens, entre mim e o Deus" "Para começo de conversa, afianço que só se vive, vida mesmo, quando se aprende que até a mentira é verdade"  "Mas para se experimentar uma surpresa é necessário que a rotina dos hábitos e manias seja por qualquer motivo suspensa" "Nunca vi uma coisa mais solitária do que ter uma ideia original e nova. Não se é apoiado por ninguém e mal se acredita em si mesmo. Quanto mais nova a sensação-ideia, mais perto se parece estar da solidão da loucura" "Quero me reinaugurar. E para isso tenho que abdicar de toda a minha obra e começar humildemente, sem endeusamento, de um começo em que não haja resquícios de qualqu

Ditirambos*

Existe uma lógica superlativa em meio às façanhas usuais. Não fora seu ser extraordinário a desalojar cotidianos, poderia acessar, com mais facilidade, a epistemologia das coisas ao seu redor. Sua encenação de caráter imperfeito escolhe a vertigem para traduzir amanhãs. Um inusitado cio criativo, de essência exploratória, realiza festejos para representar mesclas de exclusão e integração. Sua essência Dionisíaca sugere uma nova página às promessas de um para sempre. Seu jogo de cena inventa linguagens para redesenhar a vida acontecendo. Essa dança de consciência alterada ensaia rupturas ao padrão existencial. Sua expressividade é das ruas, praças, teatros, diante do espelho. Seu êxtase menciona um lugar quase esquecido, recém chegando pelo deslocamento fora de si. Num estado diferenciado a existência se encontra com sua irrealidade, rascunha novas proposições. Ao surgir em retórica dançarina, o fenômeno ditirambo prescreve eventos de paixão desarrazoada. Em trânsitos d

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