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Sobre a inconstância ritmada dos mares*

Se aprofundamos perguntas porque questionamos respostas, nossas buscas se movem mais por dúvidas do que por certezas. Sendo a filosofia proveniente da inquietude, tendo a ataraxia (quietude da alma) como uma de suas metas, sua conquista marcaria o fim da filosofia? Ou seria um novo começo, onde os questionamentos se desdobrariam "ad infinitum"? O que seria mais sensato, aceitar ou questionar as vagas de uma vida vaga? A questão é: sensato pela ótica de quem?!... Essa merda parece não ter fim... Círculo perfeito nem na auréola etérea, sagrado rarefeito. Espiralas, Ana Rita, espiralas... Não faças da liberdade, prisão. Melhor contemplar, estava certo Platão... Se é verdade o que se vê tenho dúvidas, mas que é um bom lenitivo, isto é. Talvez estratégia de resistência da "demonizada loucura" diante de tanta "sanidade santa", tão necessária quanto desviar o olhar do abismo para nele não sucumbir de vez. Sereniza o coração, aquieta a mente... E a gente dá conta ...
Postagens recentes

A matemática simbólica e a singularidade*

A novidade da filosofia clínica é a afirmação da singularidade. Cada partilhante é critério de si, a partir de sua historicidade, fornecendo parâmetros à realização dos procedimentos clínicos ao terapeuta. Mas, alguns desdobramentos dessa abordagem terapêutica são questionáveis. Refiro-me a questões relativas à matemática simbólica. Para refletirmos, uso a filosofia clínica como o método para melhor explicá-la, corrigi-la e desenvolvê-la. As linhas seguintes demandam concisão. Considero a filosofia clínica capaz de compreender formulações complexas ao analisar suas composições estruturais. No início da “Filosofia Clínica: propedêutica”, Lúcio Packter destinou as primeiras linhas para explicar o contexto histórico que permeou sua vida no período no qual iniciava suas pesquisas para a sistematização daquilo que mais tarde receberia o nome de filosofia clínica. A categoria circunstância descrita pelo autor nos ajuda a suspeitar que como o mundo parece é um tópico determinante em sua estru...

Idioma dos olhos*

Aprendi com uma fotógrafa que para demonstrar felicidade em uma foto não é preciso sorrir com a boca, são os olhos que transmitem o estado de humor. Quantas vezes você já viu aquilo que chamamos de “sorriso amarelo”? Boca sorrindo e olhos chorando, denunciando o estado de espírito em sofrimento.  Quando uma pessoa está bem, seus olhos transmitem essa energia positiva que se projeta direto na foto. Não há como enganar. Aprendi com meu neto Bernardo, que agora completou um ano de idade, que a boca também não é necessária para ser entendido, os olhos conseguem dizer quase tudo. Quando brinco com ele e faço uma bolha de sabão, na tentativa de agarrá-la com as mãos, invariavelmente estoura. Ele me encara e seus olhos perguntam “onde foi parar a bola”? Ainda não tem capacidade de raciocínio para entender a fragilidade de uma bolha de sabão, o que ele quer mesmo saber é onde se meteu a tal bola que estava bem à sua frente, diante dos olhos. Bernardo ainda não sabe que sou seu avô, não mor...

"Filosofia Clínica, Anotações e Reflexões de um Consultório”: Quando a filosofia é a cura***

Notadamente brasileira, mais especificamente gaúcha, da província Rio Grande do Sul, a Filosofia Clínica surgiu na década de 1990 com muito estranhamento e incompreensão. Como sempre ocorre com toda a metodologia inédita, sofre descrédito e alguns ataques pusilânimes. Tive a sorte de frequentar uma das primeiras turmas na cidade de São João del-Rei/MG, nos inícios dos anos 2000 e fui ver de perto a aplicabilidade, ao menos teórica. As aulas foram ministradas pelo competente e carismático Hélio Strassburger e resumindo o máximo para caber em uma resenha, a abordagem ia além da filosofia de aconselhamento e mergulhava a fundo na investigação das causas das nossas estruturas de pensamentos e dores existenciais. Adendo: sempre que utilizar o negrito trata-se de definição da nova disciplina. Assim sendo, nos referíamos ao termo como “EP”. Mas cabe aqui uma ressalva; os detratores foram alguns psicólogos e psiquiatras, que viram na abordagem da disciplina uma concorrência desleal. A grande b...

O que a Filosofia Clínica não é*

Não tendo pretensão de definir um conceito sobre o que é a Filosofia Clínica (F.C.), mas antes convidá-lo a refletirmos sobre alguns aspectos daquilo que ela não é, me apresento: Sou Ancile, habilitada à pesquisa em F.C. e Graduada em Psicologia. Atuo com psicoterapia de inspiração existencialista há 12 anos. Se no Novo Paradigma ainda me sinto como uma criança sendo alfabetizada, na área psi posso dizer que já concluí as “séries iniciais” e me sinto segura para propor a tentativa de traçarmos um paralelo no sentido de ressaltar as diferenças essenciais de cada área. Trago algumas características metodológicas das 3 grandes áreas  psis , Psicologia, Psicanálise e Psiquiatria, suas diferenças entre si e em relação à Filosofia Clínica. Começando pela Psicologia, fundada em 1879 por Wilhelm Wundt (1832-1920), a partir da criação do Laboratório de Psicologia Experimental na Universidade de Leipzig, Alemanha. São muitas escolas de pensamento desde então, com variadas teorias que buscam,...

Intervenção literária Já*

Palavras são apenas palavras para quem não sabe ler, para quem não sabe ouvir, para quem não sabe sentir, por exemplo, que há poesia em tudo e quando não inspira, ensina demais. A poesia sempre pode nos transformar e é você quem escolhe se será por dor ou por amor. Mas, se palavras fossem apenas palavras e nada mais, não haveria escrituras, nem contratos, nem constituições inteiras e, pior ainda, não haveria nos contatos humanos nem entendimentos, nem acordos, nem abraços, nem mesmo a poesia. Porventura, as palavras são a expressão das impressões, dos sentimentos, da consciência; são de forma pujante a expressão da vida. Afinal, a arte imita a vida e é por isso que as palavras pulsam tanto aqui e agora sempre em forma de poemas provocados por você. Musa! ***** Intervenção literária já!!! Esse é o meu apelo!!! Uma vez que o povo precisa urgentemente conhecer as suas histórias locais, a história do Brasil, a literatura brasileira e a poesia pelo menos... Depois disso, o discernimento ser...

Um breve instante*

O meu filho de doze anos perguntou-me qual é o objetivo da vida. Levei uns minutos para responder-lhe, pois essa pergunta é tremendamente séria. Foi Aristóteles quem me soprou a resposta: o objetivo da vida é descobrir o que melhor fazemos aqui no mundo, e fazer isso cada vez melhor. * * * Isto é: ao descobrirmos as nossas potências, podemos agir para realizá-las. Fazendo o que fazemos melhor, podemos ocupar o nosso lugar na ordem da existência - o que nos harmoniza com o Cosmos e nos conduz pela estrada da eudaimonia. * * * Expliquei-lhe que o critério dos ganhos financeiros não deve ser tomado como medida exclusiva de sucesso. Afinal, todos conhecemos pessoas ricas que levam uma vida miserável - e pessoas de vida simples, mas feliz. Sucesso não é o mesmo que dinheiro: é bem outra coisa. O sucesso de uma pessoa deve ser julgado pelo critério da auto-realização: a pessoa bem-sucedida é aquela que encontra a realização da sua existência no trabalho que se propõe a fazer, seja intelectua...

Um jardim de possibilidades****

  O horário da manhã em dias de clima ameno, revela o orvalho nas roseiras em flor. A luz da aurora é de uma nitidez especial para registrar as cores do jardim. Ao percepcionar os detalhes das pétalas, não raras vezes se encontra minúsculos visitantes em busca de abrigo, comida, alguns namorados. O que é que esses bichinhos podem nos revelar sobre o micro bioma que se criou ali? Em direção às sensações, o cheiro de cada rosa fotografada se mistura na mente, formando um perfume natural daquele efêmero instante disponível. Amarelos, brancos, rosas, laranjas, vermelhos misturados aos diversos tons de verde, compõem o remédio que a vista precisa para iniciar bem o dia. Com um espectro de cores e aromas, a cada floração essa festa aparece. É um fenômeno importante na vida da partilhante. E nem precisa esperar pela primavera, é no inverno que as flores de amor-perfeito desabrocham. Para quem possui o submodo percepcionar, todas as estações podem ser fonte de inspiração. O jardim pens...

Apontamentos de lógica superlativa*

Existe um mundo exageradamente singular. O lugar constitui-se de eventos descritos num vocabulário de exuberâncias. Uma estrutura onde tudo se agiganta diante das expressões de êxtase. Sua sobrevida se alimenta de anúncios nos eventos realçados. Seu teor fantástico traduz rumores de imensidão. Seu ser extraordinário transborda numa perspectiva exaltada.   Nas entrelinhas do discurso bem ajustado, essa lógica dos excessos busca emancipar-se. Um devir assim aprecia o refúgio numa dialética dos sobressaltos. Ao sujeito constituído nalguma esteticidade, não é raro seu meio prescrever tipologias. Ao surgir em intensidade máxima, contrapõe-se à rotina mediana. Seu dizer superlativo emancipa o cotidiano para engendrar sonhos. Os relatos dessa linguagem sugerem um brilho incomparável ao seu autor. Desdobrando-se para além dos territórios reconhecidos, modificam o lugar-espaço-tempo ao seu redor. Uma fonte inesgotável de paixões renova suas armadilhas existenciais. Assim, caminhar pela...

A temporada de um velho*

“A velharia poética tinha boa parte da minha alquimia do verbo.”  ( Arthur Rimbaud) A vida serpenteia na solidão de Rimbaud, o melhor de tudo é o sono bêbado na praia, o movimento que pertence aos esquecidos do século, e nem mesmo a dor desfaz a realeza poética e o desejo dos esquecidos. O tesão não se contém, invade a vida na dor do corpo, até acalmar o medo e escolher seu lugar para descansar. E os ossos aquebrantados, diante do preparo da pátina nas paredes da alma, nessa bruta solidão que vomita no meu país envelhecido por sua riqueza cruel, e que não deixa revelar a imagem empenada na parede nua da vida, nas entranhas do medo que o totalitarismo faz nos velhos deste lugar, um misto cruel de racismo sem consciência, com absoluta naturalidade das desculpas e esquecimento do todo secular chamado, perdoar sem reparar. E nunca vai embora, continua escorrendo na idade da razão entre os dedos trêmulos, segura a vida que escapa, mergulha o corpo embebido em papel de livro – lá o movim...

Filosofia clínica: uma introdução*

          Esta é uma breve introdução à Filosofia Clínica. Por meio dela, pretendo elucidar algumas dúvidas iniciais dos interessados em compreender esse método e, caso queiram conhecer mais, com as informações apresentadas, saberão como e o que buscar em outros textos e livros.  A Filosofia Clínica, ao longo dos seus trinta anos, possui uma base sólida. Por isso, há muitos conceitos que requerem aprofundamento, pois apesar de ser “simples” na apresentação dos conteúdos constituintes do método, ela é complexa em sua aplicação, pelo fato de lidar com pessoas. Além disso, a prática muitas das vezes fundamentará a sua teoria.             A Filosofia Clínica visa auxiliar a quem procura terapia a alcançar seu bem-estar subjetivo, trabalhando suas questões existenciais conforme cada singularidade. É importante dizer que sem a noção de singularidade ela seria apenas mais um método terapêutico. Cada pessoa é única, possuindo a sua e...

Inquietude Investigativa*

Na filosofia clínica, há quem aprenda o método e o utilize no consultório e quem, além de realizar os atendimentos, também continue a ensinar, pesquisar, aprofundar e questionar a fundamentação e a prática.   Assim, os formados seguem acompanhando os resultados das pesquisas e os adaptam ao seu trabalho no consultório. Seu tempo é mais empenhado em fazer o atendimento da melhor maneira possível com os recursos bibliográficos e audiovisuais ao seu alcance. Com isso, podem se tornar excelentes profissionais da área, exercendo seu trabalho como filósofos clínicos. Esse é o caso da maioria daqueles que concluem a formação. O segundo grupo mencionado é constituído de uma minoria. São filósofos clínicos que não se contentam em receber o conteúdo apresentado por quem os ensinou. Antes, continuam suas investigações em prol de ter um método cada vez mais aprimorado. Por isso, pesquisam as bibliografias, reveem os fundamentos, questionam seus pares, propõem novos caminhos etc. Esse grup...

A singularidade e os princípios de verdade*

A filosofia clínica é um método terapêutico fundamentado na ideia de que cada indivíduo é um ser único, com uma história pessoal e subjetividade própria. Na formação, aprendemos que essa abordagem parte de compreender como o partilhante enxerga a existência e, a partir de sua representação de mundo, se conduz a clínica. Os procedimentos são feitos baseados no que ocorre nessa troca, em construção compartilhada. Ao contrário de abordagens generalizantes, que tendem a agrupar as pessoas em categorias pré-determinadas, a filosofia clínica busca entender cada personalidade. O terapeuta não vai encaixar o partilhante em nenhuma tipologia, a máxima do método é que cada pessoa é critério de si mesma. O filósofo clínico atua como um facilitador do diálogo, promovendo a reflexão sobre questões trazidas pelo partilhante e ajudando-o a compreender e lidar com sua própria singularidade. Essa abordagem terapêutica propõe que não existem respostas universais para os problemas humanos e defende um es...

Auschwitz, até quando?*

Um leitor me perguntou o que penso das escolas cívico-militares - um modelo escolar que se dissemina por Santa Catarina, pelo Paraná, por São Paulo. Vou responder do modo mais claro possível. As escolas cívico-militares são laboratórios de propagação do fascismo. * * * Explico. O que caracteriza o fascismo na Educação não está exatamente no conteúdo curricular explícito; está no currículo oculto. Uma escola cuja prática seja toda voltada ao adestramento de corpos e mentes; que ensine a obediência à autoridade (e pior: a obediência à autoridade militar); que não incentive a literatura, a Filosofia e as artes; que desencoraje o pensamento crítico - essa escola contribui para a propagação do fascismo. As escolas cívico-militares são instituições fascistas - e essa afirmação dura não é exagero retórico. * * * Estou com Adorno: o primeiro objetivo de toda a Educação deve ser o de impedir que Auschwitz aconteça - Auschwitz entendida como a barbárie, como a perda da sensibilid...