Olho-me adentro sem
cessar e no silêncio
e na penumbra de mim
mesmo não me exprimo
nesse mim que se
esconde e se retrai no vago
espaço de uma célula e
vai construindo
outro mim de mim,
disposto em gêmeos compassos,
e não aparece ao olho,
ao espelho, à imagem
casualmente em máscara,
fechado à curio-
sidade de meus olhos
lacerados, cegos
de tanta luz enganosa,
nem se derrama
sobre a superfície
polida e indiferente,
enquanto cresce em mim
a presença de estranho
ser não eu, de
irrevelada e própria pessoa,
que domina esse meu
corpo, casca de angústia
e contradições
simétricas envolventes,
e me explora e me
assimila; mas sou eu só
a me percorrer e nele
me vejo e sinto,
como de dois corpos
iguais matéria viva,
e me faço e refaço e me
desfaço sempre
e recomeço e junto a
mim eu mesmo, gêmeo,
nada acabo e tudo
abandono, dividido
entre mim e mim na
batalha interminável...
*Fernando Py
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