“A
alma anda por todos os caminhos.
A
alma não marcha numa linha reta nem cresce como um caniço.
A
alma desabrocha, qual um lótus de inúmeras pétalas.”
(Khalil
Gibran)
Percorrer caminhos desconhecidos,
aventurar-se nas planícies dos destinos incertos de cada alma: eis a missão do
terapeuta. Antes da palavra germinar em frases que emanam silêncios incertos,
ela está sendo gerada nos territórios mais recônditos do coração. Expressar
vida em palavras é um grito de liberdade diante de uma história que está ainda
em processo de construção.
Ouvir exige atenção, escutar necessita
do coração. Muitos ouvem, contudo não escutam. Escutar é deixar que o outro
faça do diálogo uma oportunidade de encontro. Quando apenas ouvimos a paciência
é limitada. O desejo incontido de dar uma opinião, por mais simples e singela
que seja parece incontrolável.
Em toda alma há um dispositivo que diz:
“Minha opinião é importante!”. Será mesmo? Ouvir não basta, é preciso
acrescentar a fala alheia as teses de nossa experiência como medicação que irá
cicatrizar as feridas de uma história que conhecemos a apenas cinco minutos. A
pressa em solucionar as dores é o veneno que extermina o restante de vida a
palpitar em uma alma machucada.
A cada frase elaborada e pronunciada
deveríamos fazer um silêncio respeitoso e acolhedor diante do mistério que
habita cada palavra pronunciada. Escutar requer tempo e delicadeza,
características sutis de um bom ouvinte. Somente o que foi assimilado pelo
coração pode ser compreendido pela alma.
O silêncio faz parte da liturgia de
muitas igrejas. Para escutar a Deus alguns mestres espirituais aconselham
silenciar o coração. A alma silenciosa pode mergulhar no mistério que
ultrapassa as palavras. Os apaixonados sabem o valor secreto de um olhar
profundo. Não é preciso palavras quando o encontro supera as fronteiras do
ouvir e mergulha na escuta apaixonada.
O terapeuta mais qualificado não é
aquele que na academia desenvolveu as melhores teses e tem as palavras mais
acalentadoras para a fragilidade da alma, mas sim aquele que no silêncio do
ouvir deixou rastros do seu amor na escuta amorosa.
Em cada história muitas vidas e
personagens gritam e pedem espaço para serem ouvidos e compreendidos. Talvez a
vocação do terapeuta seja esta: escutar cada história e compreender no silêncio
amoroso que em cada personagem encontra-se um retalho da grande colcha que
compõe a história do partilhante. Somos tantos em apenas um. O ouvir é uma
ponte para que a escuta nos ajude a superar o medo desbravar outros mundos que
estão sendo gestados naquele exato momento que estão sendo expressos.
*Pe Flávio
Sobreiro
Filósofo. Teólogo. Poeta. Estudante de
Filosofia Clínica
Cambuí/MG
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