Percebo a cada dia, um
frio que sai de dentro do meu coração, sequioso por sol. O calor aquece a alma
dolorida e recupera a caminhada cansativa de cada dia. Estive hibernada em mim
durante muito tempo. Precisei entender processos escondidos dentro de um compartimento
secreto que só foi possível acessar depois de muita dor e sofrimento.
Não gosto do inverno e
confesso que quando sinto que ele está indo para longe trazendo a primavera,
meu coração se enche de flores perfumadas de plenitude. Moro na serra de Petrópolis,
onde há dias cinza e de nevoeiro. As tardes são úmidas e frias nessa estação
temida por quem se encolhe e se esconde debaixo de várias peles para aquecer o
corpo e o coração.
Olho pela janela do meu
quarto e vejo o céu. Isso me anima. Como o céu de inverno é bonito!!! Quase
romântico. A lua sempre exuberante me lembra vida ainda existente em algum
lugar perto ou distante de meus pensamentos que caminham em direção ao nada e à
melancolia. Volto para dentro do meu mais profundo Ser e sinto vontade de
chorar. A sensação de prisão aumenta, quase não consigo respirar de tanta
angústia e vazio no centro do meu peito. Sei que é só um momento casulo e que
em breve a libertação da beleza da borboleta metamorfoseada em gargalhadas
chegará, então, meus olhos úmidos de tanto chorar secarão e voltarei a senti-lo
brilhar diante da beleza ensolarada e quase quente da primavera.
Depois das flores se
abre em meu caminho a esperança do verão! O calor aquece minha escuridão e
quebra minha geleira interior. Tudo parece mais claro no verão. Há uma leveza
agradável no vestir livre e descontraído, as peles diminuem e o balanço do meu
andar se alarga e acalma meu coração. Expansão! Explosão! Erupção esperada e
desejada por longos dias de alma gelada, quase morta, pálida. A cor de saúde
começa a aparecer nas ruas e nas peles desbotadas de inverno dos passantes nas
calçadas. A vida se engrandece e a minha gratidão se aquece ao sol de um quase
verão.
Tudo aquilo que era
dramático e apático no inverno recomeça tomando uma forma de vida cheia de
esperança. Os pássaros cantam! A natureza se alegra e a vida recomeça para meu
existir verdadeiro. Meus poros se abrem para as gotas salgadas do suor merecido
depois de uma aula de dança. O banho no corpo desce pelo ralo levando e lavando
as tristezas esquecidas no inverno. O amor é mais rico e meu corpo pede troca
de mais calor. As gotas de suor dos poros sedentos se misturam ao ser amado e
tudo se torna uma alquimia perfeita de muito contentamento...
Começa uma nova fase em
minha alma: o verão.
Nessa fase a dor se
torna mais suportável. O amanhecer traz um ar de cheiro de café bem forte com
torradas e muita manteiga. A vibração de alegria se aproxima da minha
existência tentando provar que a vida ainda vale muito, sinto o canto dos anjos
e a beleza de um dia cheio de energia. O levantar da cama é muito agradável.
Abro a janela e vejo o sol entrar, invadir todo meu corpo, toda minha mente, o
pensamento clareai e os sentimentos se acalmam. Ai, como é bom sentir calor até
se cansar. Amo essa sensação de moleza no corpo e leveza na alma. Eu nasci para
o sol!!!
*Vanessa Ribeiro
Professora, atriz, dançarina,
filósofa e filósofa clínica.
Petrópolis/RJ
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