“As sílabas recolhidas pelos lábios — belo
silencioso círculo — ajudam a estrela rastejante em seu centro.”
Paul Celan
Os sentimentos andam ao
lado de nossa vontade. Nossos desejos não são alterações meteorológicas e sim
psíquicas. São funções de nossas percepções e sonhos. Um cruzar de idéias que
percorrem o tempo de nossa existência. Esse cruzar complexo, onde mora o único
valor, o que pode nos manter vivos todas às manhãs quando acordamos.
É o
acordar do “trajeto antropológico” sob as imagens que circulam nosso Ser esse
tempo todo. Sonoridade na dor, na despedida e nas chegadas das imagens. O
encontro do vivido com o que buscamos mais adiante do olhar.
Meus sentimentos
começaram antes do século XX findar. Bem antes, quando ainda sentia poder
encontrar através das imagens todas as linguagens que fossem o expressar do
cotidiano. O cotidiano lançou seus dados Mallarmaicos que impulsionaria as
inspirações nos signos de hoje. Assim acordei pensando em Octavio Paz no seu
Arco e a Lira, em que diz: “Não é a técnica que nega a imagem do mundo; é o
desaparecimento da imagem que torna possível a técnica”.
As palavras tomam conta
dos dias. As gerações, eu leio, incessantemente, me afasto a cada página lida.
Fujo dos absolutos. Entrego-me incessantemente à diversidade da vida, da dor,
das paixões.
As palavras são mais do
que razões para se ter, pensar sobre os objetos e sobre as possibilidades da
verdade. Muito mais, elas, agora, a linguagem, o signo me levou para o distante
das utopias. Joga-me no deserto dos saberes, da desilusão e do fim de um tempo
que se abre ao novo. De outros: do fim dos fins. Sempre a jogar, as palavras
verdadeiramente à vida do fluxo e refluxo da dialógica dos acontecimentos.
Um olhar fenomenológico
é posto acima disso, do que está dado, é um complexo religar as imagens do
cotidiano. À deriva, ao sabor do presente e de todos os tempos, as imagens são
verdadeiras como “as noites que fixam sob o teu olho”, escreveu Paul Celan.
(Um blog, um espaço
para o texto, pensamento, as ideias, todas as possibilidades de pensar no
texto. Filosofia, literatura, arte, cinema, livros, o humano demasiado humano.
Criado em 2007, sob forte influência de Barthes, depois de ter acabado de
concluir meu doutorado, nasceu "em colocá-los numa maquinaria de
linguagem".)
*Prof. Dr. Luis Antonio
Paim Gomes
Filósofo. Editor. Livre
Pensador.
Porto Alegre/RS
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