O grande vitorioso
desta eleição será o personalismo que, por meio de slogans, move as massas.
Grande parte dos eleitores do Lula/Haddad e do Bolsonaro não apóia um conjunto
de idéias, mas um herói.
A busca por heróis
salvadores da pátria é marca de povos que, em lugar de perseguir a autonomia,
buscam a tutela. Como diz Kant, quem espera que um líder lhe ensine o que
pensar e como agir não alcançou a maioridade, mas coloca-se, por sua própria
culpa, na menoridade.
O sinal mais evidente
da menoridade é o desejo de participar dos rebanhos: é o desejo de ser aceito e
abraçado por um grupo em benefício do qual a sua consciência crítica será
sacrificada. As massas que seguem slogans gritados por seus líderes – nas ruas
ou nas redes sociais – constituem um exemplo perfeito do que Nietzsche chamava
de moral do rebanho.
Infelizmente, grande
parte da população – de todas as classes sociais, de todos os níveis
intelectuais, à esquerda e à direita – deseja ardentemente participar dessa
mentalidade de gado. Quantos conhecidos nossos não estão prontos, e mesmo
ansiosos, para repetir, como autômatos, palavras de ordem ativadas por gatilhos
preparados pelas suas lideranças?
Um regime democrático
em que rebanhos anseiam pelas ordens dos seus líderes já não é mais uma democracia:
é uma tirania na qual o poder ensurdecedor das massas torna inaudível o
discurso do cidadão racional. As massas organizadas pelos slogans tomaram o
lugar do debate comunicativo – mas os slogans envenenam a inteligência e
atrofiam a razão, independentemente do lado de onde eles são gritados.
Por esse
motivo, uma disputa eleitoral baseada em slogans e lacrações não é nada mais do
que a vitória da turba irracional sobre a consciência individual; em outras
palavras, é o suspiro enfermo de uma democracia moribunda.
A democracia agoniza
porque muitos entre nós perderam – ou nunca conquistaram – a coragem de pensar
por sua própria cabeça. Por isso, mais do que nunca a lição de Kant e de
Nietzsche é necessária: é preciso pensar e agir em seu próprio nome, e não em
nome de um herói. A recusa da tutela – e a conseqüente tomada de
responsabilidade sobre a parte da humanidade que cabe a cada um – é a marca do
esclarecimento.
Afinal, não é pela
repetição de palavras de ordem que se desenvolve a consciência política
popular: é justamente pela RECUSA à repetição de slogans que um povo começa a
se esclarecer politicamente. E somente um povo em processo de esclarecimento
pode ter a esperança de se autogovernar, com serenidade, em uma verdadeira
democracia.
*Prof. Dr. Gustavo
Bertoche
Filósofo. Diretor de
Escola. Educador. Filósofo Clínico.
Teresópolis/RJ
Comentários
Postar um comentário