“(...) Somos feitos da mesma matéria
dos sonhos”
William Shakespeare
Um dia alguém sonhou
essa vida que somos hoje. Tendo como inspiração uma poética dos desajustes, sua
repercussão anuncia horizontes em camadas de possibilidade. Nesse intervalo de
luz e sombra se refugiam múltiplos segredos.
Sua estética difusa insinua
seus códigos numa língua estranha. Ao deixar rastros esparramados num cotidiano
passando, aguarda um sentido para aquilo despercebido. Seu silêncio vivaz se
exila nas entrelinhas da redação cotidiana. A atitude filosófica acolhe essas
narrativas fora do comum.
A desenvoltura da
estrutura de pensamento (eixo de referência) determina a natureza e o alcance
desse saber aprendiz, a fatia de mundo que lhe cabe. Dentre suas
características se destaca uma aptidão multifacetada, indecifrável a um só
golpe de vista.
Nesses instantes de
interseção singular descreve uma aptidão de ser invisível. Ao antever uma
expansão dos territórios por onde a vida se dá, compõe algo inédito na forma
humana. Essa condição costuma passar despercebida ou desacreditada pelos contemporâneos,
talvez compreendidos somente nas gerações por vir. Os rascunhos assim lembrados
se oferecem nos desvãos dos dias, concebendo uma arte do devaneio.
Uma interrogação brota
desse estalo criativo, emancipando a condição para outras verdades. Ao ser incomum
acessar esses endereços existenciais, reivindica-se um sujeito capaz de avistar
algo ainda sem nitidez, transcrevendo o pensamento fugaz, num desses raros
momentos em que criador e criatura coexistem.
Desse mirante, numa condição
inicial fora de foco, se revela um discurso pessoal extraordinário. Vislumbre da
conjugação do olhar com o inesperado de seu contexto se modificando. Sua percepção
não é a simples retratação de uma história, trata-se de uma reconstrução
descritiva, expandindo e traduzindo algo mais, até então desconhecido.
As vozes exiladas
nalgum ponto de seu universo interior, antes de alguma expressividade, oferecem
um vislumbre sobre esse hoje grávido de amanhãs. Seu fenômeno distante da noção
imediata reapresenta um enredo de incógnitas, diálogos com as lonjuras e
incompletudes pessoais. Para emancipar essa condição os presságios de vida nova
encontram as vivências compartilhadas com o filósofo.
Assim se apresenta uma
concepção ligada a singularidade de onde partiu. Cada vez que alguém pensa,
sonha, imagina, contribui com sua parcela de infinito para a invenção da realidade.
Nesse sentido, ao ser incompreensível por inteiro, o esboço dessas verdades se
assemelha a um bom livro, revelando seus segredos página a página.
*Hélio Strassburger
Filósofo Clínico na Casa da Filosofia Clínica
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