“A arte só está próxima
do absoluto no passado, e é apenas no Museu que ela ainda tem valor e poder.”
Maurice Blanchot
Meu grupo é tão seleto
que não existe, vivo no limbo da desatenção, permaneço só. A multidão amordaça,
é calada, dizimada que nem cauda da serpente explodindo por balas perdidas.
Vejo no espelho o
movimento do corpo, a luz difusa, a névoa de um domingo quase sol meio cinza.
Corro louco, feito refugiado, do meu próprio país para ver o mar. Não olho para
trás nunca mais é forte demais. Fuga dos sonhadores, minha alma dentro do
casaco cinza que atravessa o frio sem se entregar.
Depois, nado fundo para
não mais voltar. Jamais. Sigo em braçadas até o fim do livro. Leitura voraz,
audição do silêncio. A mesma cena que passa aos olhos é um filme autoral, a
mesma cruz um sonho insistente de causar questionamentos. Ouço o tilintar do
pensamento, notas dissonantes, ritmo das pernas, braços em sincronia ao bater
na água.
O presente é apenas um
arremedo do passado aos que não resistiram às tempestades. Demarco uma linha
imaginária na tela, traço fugas, planejo novos roteiros em novas cartografias
do coração. Enfim, terminei a leitura e o céu abriu o clarão das ideias.
*Prof. Dr. Luis Antonio
Paim Gomes
Filósofo. Editor. Escritor.
Livre Pensador.
Porto Alegre/RS
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