A primeira vista se acessa
aquilo que salta aos olhos, como: espanto, dúvida, invisibilidade. Com essa
aproximação se tem diante de si algo desconhecido. Eventos refugiados no esboço
de uma irrealidade acontecendo, num vislumbre das quimeras e utopias
esparramadas nos desvãos manuscritos da vontade inicial.
Os princípios de
verdade consagram, em seu convívio diário, um espírito de rebanho. O
cerceamento, a interdição, reapresenta a noção de paraíso e inferno. A recusa de
ser encontra na cultura sua melhor escola aos freios existenciais. Quando refém
desses agendamentos, as buscas seguem à deriva de seu melhor.
Em meio a essa vontade
interditada se especula sobre as rotas de fuga para si mesmo. Aqui se cogita
sobre a vertente não sufocada pelo contexto onde surgiu, aquilo que se mantém
apesar de. Uma conjugação de habilidades e competências a transgredir os
limites que não lhe pertencem. Assim, se pode decifrar a gramática da
subjetividade ao rever suas páginas.
O lugar de excelência
da singularidade, pode se mostrar a partir de sua trajetória – circunstanciada
– de vida, sem esquecer as condições de aproximação e diálogo com esse fenômeno
em movimento. Acolher as narrativas e sua intencionalidade é um recurso para
descrever originalidades. Outra característica é estar desfocado ao olho nu das
palavras conhecidas, numa percepção de que longe pode ser perto demais.
Uma fonte de inspiração
para legitimar-se é a inquietude viajante. Ao exercitar-se em rituais de
introspecção é possível dialogar com a posteridade. O papel dos naufrágios pode
significar o encontro, num ponto qualquer, com aquilo que se buscava noutro
lugar. Nesse sentido, estar fora de si pode significar desvendamento, hipótese,
reinvenção.
A repercussão na
perspectiva desse sujeito por vir, é o preenchimento das lacunas que nem sabia
existir, como inéditos flutuando em seus parágrafos existenciais. Ir ao cinema,
desfrutar uma boa companhia, ler um bom livro, pode valer mais que ir ao cinema,
ler um bom livro, desfrutar uma boa companhia.
O lugar sagrado em cada
um pode residir na interseção com suas margens. Ao se descobrir onde tem de se
ir e fazer o que se tem de fazer é possível visualizar essa estrutura em
movimento. Um desses eventos acessível na fluência da pessoa com a mais que perfeita
relação com seus dias. Tendo como via de acesso a exceção refugiada num talvez,
a concepção de si mesmo pode significar a transcrição desse outro diante de si.
*Hélio Strassburger
Filósofo Clínico na Casa da Filosofia Clínica
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