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A Palavra Mágica*

"Vive a tua hora como se gravasses o teu nome na epiderme de um tronco novo. Mas não voltes mais tarde para junto dessa árvore, porque podes não reconhecer o teu nome nas cicatrizes das velhas letras"                                                                                Fellipe D’Oliveira      Sua tez de singularidade maldita refere uma simbologia em viés de encantamento. Na veemência discursiva compartilha uma fatia generosa de paraíso. O sagrado-profano esboça uma íntima convivência com a reciprocidade. Os significados apreciam aliar-se aos papéis existenciais de travessia. Assim o feitiço da palavra como medicamento desenvolve as estruturas mutantes envolvidas na interseção. Ao sugerir a cidade das maravilhas, é possível um novo entendimento e relação com o universo interior. Sua fonte de inspiração, muitas vezes, faz-se menção em dialetos de esquiva. A magia, um pouco antes de ser representação traduzível, aprecia transbordar nalguma forma de excesso.   

Sobre o amor*

Quem poderá explicar a sua origem? Filósofos, teólogos, psicólogos e curiosos tentam dar uma razão ao sentido dele existir. Poetas da alma procuram respostas. Alguns dizem que ele vem sem esperar. Outros que ele nasce aos poucos. Uns dizem que ele surge de um lindo olhar. Outros que falam que o conheceram através de um sorriso. Buscar razões para a sua existência talvez seja percorrer uma estrada sem fim. Onde cada curva revela-nos os mais belos horizontes ainda não conhecidos. Ele é assim: uma surpresa a cada novo momento. Semelhante as flores que desabrocham e exalam o seu mais suave perfume. Mario Quintana sabia que se morresse deste mal ainda continuaria vivendo: “Tão bom morrer de amor e continuar vivendo” O amor é como uma noite de estrelas iluminando a infinitude de nossa alma. Compreende-lo é romper com o mistério que o torna único. Suas razões são tão variadas como as flores de um jardim. Porém de uma coisa sabemos: é preciso cultivá-lo. Amor que não é cultivado é como uma

Quase certezas*

Desde que me lembro por gente, tentei fazer as coisas para agradar aos outros, queria que todos gostassem de mim. Cumpria aquilo que a cultura pregava como certo. Naquela época, a maneira digna e decente de se viver incluía obediência, perfeição, honestidade, estudo, trabalho, sucesso. Precisava provar para a família e a sociedade o meu valor, então segui todas as regras ao pé da letra. Nunca perdi o ano na escola, obedeci e respeitei meus pais e professores, fiz faculdade de Medicina, arranjei um emprego, casei no cartório e sinagoga, tive um filho. Sabe aquela propaganda de margarina com a família perfeita? Era mais ou menos assim, só faltou o cachorro correndo pelo jardim. O tempo passou voando, como se minha vida estivesse rodando por uma esteira rolante acelerada. Nem todas minhas escolhas foram minhas. Eu era ator de um roteiro planejado para mim e nem me dava conta. Mesmo assim eu gostava e me sentia bem. Recebia aplausos em todos os palcos. Não sei precisar quando nem com

Revista da Casa da Filosofia Clínica Primavera 2023 - Ed. 06

  Revista da Casa da Filosofia Clínica Primavera 2023 CLIQUE PARA LER A edição de primavera trata-se de um registro histórico das poéticas da singularidade, uma contribuição para entender e transitar pela trama conceitual do novo paradigma, sem perder de vista o viés da crítica. Desejamos boas leituras no aconchego de onde você estiver. CLIQUE PARA LER

Literatura – na Vida e na Clínica*

Relação continuada que sobrevoa ideias complexas e aterrissa em sensações, a nossa e a dos livros. Quem já não capturou ou se deixou capturar pelas emoções, até dos jargões neles contidos. Galeano, no enfrentar silêncios para recuperar o não dito, é danado. Ele nos faz reverberar em outro plano, flexibiliza o fadado. Momento do devaneio poético, diria Bachelard. De tanto concentrar para ordenar imagens - como plantas, necessitam de terra e de céu - o imagético enlaça o simbólico e encontra novos imaginários. Jung, Campbell... O escarcéu. Utopia... Por intermédio dos livros exercitamos maneira nata, em seus mais diversos gêneros, de enxergar a nós mesmos e até manejar circunstância que mata. Distopia... As pessoas no Pessoa acordam outras em nós. Qual a sintonia... Termos agendados no intelecto partejando ideias... Ressignifica e marca autogenia. Navegar Camões nos arrebata. Ora pela tormenta que clama por sonhos. Ora pela calmaria que suspende a vida que a nós se ata. Clari

Qual a função do filósofo? *

Entendo que seja a de tornar acessível, por meio da linguagem, uma ordem das coisas - isto é: revelar uma região ontológica. * * * Boa parte do que fazem os professores universitários de filosofia - e é assim em todo o mundo, mas muito especialmente no Brasil - é, essencialmente, comentário sobre a obra de um filósofo. De fato, o comentarismo filosófico é um exercício muito útil, e mesmo necessário. Contudo, comentar a obra de um filósofo não é filosofar. A filosofia é outra coisa. * * * Afinal, os textos de um filósofo podem dar acesso à filosofia, mas a filosofia não está nesses textos. * * * A filosofia é uma atividade integral do homem. Ela mobiliza o ser inteiro. Não está nos livros dos filósofos. Não está em livro nenhum. Os livros, em si, não são filosóficos: eles são papel e tinta. Quando alguém os lê e entende, acessa uma região anteriormente ignorada da realidade – mas não compreende "a" filosofia. Ela não diz respeito a um conjunto de textos: ela diz re

Um olhar para a singularidade*

  Pensar a singularidade é um exercício de ver que “A vida insinua-se de um jeito único na subjetividade de cada pessoa, lugar privilegiado para decifrar os enigmas da natureza (...)”, os enigmas de sua própria natureza, da natureza das coisas e do mundo. Aí, no fenômeno da singularidade, há espaço para o “exótico aparecimento”, quem sabe por esses caminhos possamos acessar alguma identidade, alguma integridade sobre quem somos, um pouco mais leves das bagagens impostas. Há quem busque comparações e generalizações ao longo da vida, há quem se adapte bem a esse modo de ser e ver as coisas, de ler o mundo através de termos gerais. Há quem se sinta completa ou parcialmente preso por essas tipologias, classificações e diagnósticos e, no entanto, careça de um outro tipo de olhar, o singular, ainda ofuscado, escondido em algum recanto seu ou do mundo, e sabe que algo em si fica sem espaço para transbordar diante de uma sociedade viciada em padrões, muitas vezes camuflados em discursos sobr

Linguagem e Singularidade*

  A noção de linguagem que Wittgenstein apresenta nas suas Investigações Filosóficas, cuja concepção é a de que o significado das palavras depende de seu uso na linguagem, em Filosofia Clínica se traduz como um dos princípios dos cuidados de que deve ter o filósofo clínico na sua atividade clínica, nas acolhidas existenciais a que se dispõe, e que, adversamente às técnicas tradicionais da psiquiatria ou das psicologias tradicionais - que não fazem senão hermenêutica sobre o discurso ou expressividade do indivíduo – permitirá guardar o sentido mais original da palavra no contexto discursivo do sujeito, ou seja, respeitando ou limitando-se a entendê-lo a partir e à medida de um sujeito em seu território. Sendo um projeto único, permite-se acessar todo um vocabulário, recheado de significados singulares para cada expressão de sua semiose. Aquilo a que chamou “jogos de linguagem” refere-se, segundo o próprio Wittgenstein, aos vários usos das palavras e ao conjunto das atividades com as q

1.000.000 de visitas em 15 anos de vida*

No dia em que atingimos a incrível marca de mais de 1.000.000 de visitas em nosso blog, a direção, o conselho e professores da Casa da Filosofia Clínica agradecem a companhia indispensável de nossos escritores e escritoras, nossos leitores e leitoras. Nossa proposta em manter um blog e não entrar na lógica tic-toc de a cada semana oferecer um site ou blog novo, não participar dessa correria desenfreada que propõe desinformação e distorção de informações, se traduz em ser um veículo de qualidade aos estudos, pesquisa, partilha de pontos de vista ao novo paradigma da Filosofia Clínica. Seguimos elaborando e qualificando interseções em busca da Filosofia Clínica sonhada nos primeiros anos. Assim, a palavra de hoje é GRATIDÃO ! Direção da Casa da Filosofia Clínica Primavera/2023

Ouvir e compreender***

Encontros e desencontros* Nós somos todos linhas tortas porque nos encontramos. Nós somos quase todo feitos de encontros e de desencontros também; somos um conglomerado de fragmentos de você. Sim, nós somos linhas tortas porque linhas retas jamais se encontram mesmo sendo curvas infinitas. E certamente, escrever certo por linhas tortas parece cada vez mais ser o melhor caminho. Pois muito do que eu sou agora deve-se em grande medida as contribuições dos encontros e dos desencontros que compuseram e impactaram a minha vida tão somente porque a minha vida toda foi feita de histórias repletas de fatos que transcenderam e muito a lógica comum e cotidiana imposta pelos mais superficiais e céticos. A verdade é que quando se toma consciência de tudo que os encontros e os desencontros nos causaram fica difícil não nutrir paz e uma gratidão gigante e crescente por tudo que nos fora doado nessa jornada existencial sempre tão significativa, desafiadora e dignificante. Musa! ____________

Anotações e reflexões em Filosofia Clínica*

Existem duas maneiras de começar a tecer o comentário sobre a obra de Hélio Strassburger: a primeira é descrever um pouco do que é o livro, do que ele trata, quais as referências que alcança para trazer de volta ao texto; a segunda é falar do autor que é sua própria obra, a construção do pensamento pela compreensão do que se pensa.   Isso não é pouca coisa, é a grandiosidade e a humildade de quem se propõe a fazer a reflexão sobre o elo entre a abstração e a construção diária do pensamento com olhar crítico e quase, por que não, terapêutico.   Dedico-me a fazer este breviário do autor, que vive a filosofia clínica como se vivesse se alimentando da arte, da música, das letras, do voo intelectual. E esta obra é contemplada com uma leitura maravilhosamente casada, entre o que se pensa e o que se sente, através das gravuras de Márcia Baroni.   Escutar é tarefa do filósofo clínico, mas Strassburger é um exímio ouvinte de sua vida, de suas viagens filosóficas, dos voos entre imagens e

Acredito em instrução rápida, mas não em educação rápida*

  Entendo a educação como paidéia: como a progressiva formação cultural e espiritual do ser humano. A educação, nesse sentido, é necessariamente lenta. Sem metas ambiciosas, sem etapas claras a ser verificadas por testes e provas. E é também diária: um pouquinho de cada vez, cotidianamente, é que se alimenta uma existência na humanidade. * * * É preciso, por exemplo, educar na beleza: a beleza é um alimento indispensável do espírito. Como Dostoiévski sugere numa passagem de O Idiota, talvez a beleza venha a salvar o mundo - isto é, o próprio ser humano. Mas, como toda a educação, a beleza é experimentada em degraus. Para falar nas artes: na literatura, nas artes plásticas e na música, é preciso subir devagar e constantemente. É preciso aprender a ler a prosa e o verso, a ver a pintura e a escultura, a ouvir e se entregar à música. * * * E como podemos proporcionar essa educação a nós mesmos e aos nossos filhos? Eu não acredito em fórmulas prontas. É preciso descobrir o qu

Os pressupostos*

  A filosofia não nasce como um completo rompimento com a religião, o mito, a arte etc. Desde os primeiros pré-socráticos, por exemplo, indícios dos ensinamentos da religião órfica está presente em algumas noções como a expiação, da qual trata Anaximandro, e alma, como a pensa Heráclito. Por isso, acusar, por exemplo, os filósofos cristãos de pensarem tendo as verdades de sua fé como preâmbulos e, por isso, seus pensamentos não serem filosóficos é inconsistente. Todo filósofo parte de pressupostos próprios de sua existência. Nem Descartes escapa dessa. Seu método é puramente hipotético. Na contemporaneidade, desde a ciência moderna, se buscou usar como critério para a investigação de suas verdades: a razão. Inútil ideia de alcance de uma verdade com neutralidade. Pois, toda produção humana, por mais rigorosa que seja, não é neutra. Mas, nem por isso, as contribuições feita por cada indivíduo à humanidade devem ser desvalorizadas. A filosofia, a arte (poesia, literatura, pintura,

Pretéritos Imperfeitos***

  “A experiência trivial do dia a dia sempre nos confirma alguma antiga profecia (...)”                                             Ralph Waldo Emerson   Existem eventos que possuem um começo sem fim. Perseguem uma in_de_termin_ação futura na travessia pelas antigas pontes. Neles é possível vislumbrar uma sombra suspeita, como algo mais a perturbar a lógica bem ajustada das convicções. Assim a grafia parece se orientar por um ontem a perdurar. Atitude rarefeita de olhares a perseguir buscas contaminadas. Esse contágio parece querer singularizar a pluralidade de cada um. Aprecia a menção de fatos acontecidos no prolongamento do instante. Aparecem como atuação simultânea de um em outro, seu paradoxo dilui-se numa dialética de integração.    Uma de suas características é realçar fatos no momento em que ocorriam. Essa incerteza quanto ao amanhã, parece coincidir com o desfecho provisório de seu inacabamento.   Nessa terra de ninguém uma infindável trama de acontecimentos se refugia

Primeira impressão*

Cresci escutando e quase sempre acreditando no velho chavão da cultura popular “A primeira impressão é a que fica”. Segundo essa premissa, se você vai a um primeiro encontro, arrume-se bem, coloque perfume, seja agradável, interessado na conversa e suas chances de que o outro tenha uma boa impressão aumentarão bastante. Só que não. É muito difícil saber o que vai impressionar o outro e, mais ainda, a primeira impressão, seja lá qual for, apesar de ser importante, nem sempre é confiável e não precisa ser definitiva. O cérebro humano foi programado para analisar em questão de milésimos de segundo se está frente a uma situação de perigo. Quando um desconhecido se aproxima, automaticamente inicia o processo de reconhecimento, chegando a conclusões rápidas com muita pouca informação. Avalia ameaças instantaneamente, levando em conta sentimentos, memórias, experiências, personalidade e necessidades. Isto é o que chamamos de primeira impressão, um recurso adaptativo com a finalidade de pres

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