Quem poderá explicar a sua origem? Filósofos, teólogos, psicólogos e curiosos tentam dar uma razão ao sentido dele existir. Poetas da alma procuram respostas. Alguns dizem que ele vem sem esperar. Outros que ele nasce aos poucos. Uns dizem que ele surge de um lindo olhar. Outros que falam que o conheceram através de um sorriso.
Buscar razões para a sua
existência talvez seja percorrer uma estrada sem fim. Onde cada curva
revela-nos os mais belos horizontes ainda não conhecidos. Ele é assim: uma
surpresa a cada novo momento. Semelhante as flores que desabrocham e exalam o
seu mais suave perfume. Mario Quintana sabia que se morresse deste mal ainda
continuaria vivendo: “Tão bom morrer de amor e continuar vivendo”
O amor é como uma noite de
estrelas iluminando a infinitude de nossa alma. Compreende-lo é romper com o
mistério que o torna único. Suas razões são tão variadas como as flores de um
jardim. Porém de uma coisa sabemos: é preciso cultivá-lo. Amor que não é
cultivado é como uma planta que vai se secando por falta de água.
Antoine de Saint-Exupéry
compreendia em seu coração a direção que o amor seguia: “Amar não é olhar um
para o outro, é olhar juntos na mesma direção”. Sim, seguir os mesmos passos.
Andar juntos. Porém sem atropelar o outro. Olhar com a mesma alegria, como o
sol nos olha todas as manhãs. Iluminar cada tristeza com a presença de quem
descobriu o sentido de viver.
Quem disse que os filósofos não
amam? Até mesmo os mestres da razão têm suas razões emocionais que a própria
razão desconhece. Albert Camus concebia o amor como uma presença até o fim da
existência: “Amar uma pessoa significa querer envelhecer com ela”. Muitos,
assim como Camus, sonham com está experiência de amar até que a morte os
separe. Quem irá condená-lo? Eu não me arriscaria!
Tantos livros sobre o amor.
Tantas explicações e teses. Busca-se compreender o que existe para ser
vivenciado. Drummond sabia muito bem desta verdade: “Se você sabe explicar o
que sente, não ama, pois o amor foge de todas as explicações possíveis”. Como
explicar o que é impossível?
Amor talvez seja colher flores
nos jardins que habitam nossa alma. Regar logo de manhã para que cresçam no
transcorrer do dia. Arrancar as ervas daninhas que insistem em crescer. Curar
feridas que o tempo não cicatrizou. Construir colchas com os retalhos de uma
vida.
Explicar o amor é vã ilusão.
Fugir do amor e fugir de si mesmo. Pois ele brota no coração. Nasce devagar, às
vezes incomoda, causa dores e alegrias. Viver talvez seja fazermos a mais bela
experiência de amar. Charles Chaplin pode confirmar o que hoje lhes confesso:
“O homem não morre quando deixa de viver, mas sim quando deixa de amar”.
Quer morrer antes do tempo? Deixe
de amar. Deixe de sonhar e ter esperanças. Assim conseguirá chegar mais rápido onde
quase ninguém deseja ir.
Partilhar as dores e alegrias
desta existência está implícito no ato de amar. Mudar, dar lugar, peregrinar
para outras existências que entram em nossa história. Mario Quintana deve ter
feito está linda experiência em sua vida. Pois ele profetizou este sentimento
do eterno peregrinar: “Amar é mudar a alma de casa”.
Ontem voltando para minha casa
vinha pensando nestas questões. Antes de chegar até minha casa percorro
carinhosamente o jardim que cultivo com imenso amor. Olhando para uma das rosas
mais lindas daquele recanto amoroso, pude ouvi-la dizer-me uma sábia frase de
William Shakespeare: “O amor não se vê com os olhos, mas com o coração”.
Pe Flavio Sobreiro
Teólogo. Poeta. Escritor. Especialista em Filosofia Clínica.
Toledo/MG
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