Inclino-me uma vez mais
sobre Narciso.
Para tentar entendê-lo. Ou salvá-lo...
Para tentar entendê-lo. Ou salvá-lo...
Narciso puniu-se a si
mesmo por ter se olhado no reflexo das águas.
Não parece ser tão simples assim. Parece que Narciso perdeu-se a si mesmo por não ter conseguido mais sair deste movimento fixo. Movimento que saía de si mesmo e retornava sobre si, sem nada lhe acrescentar. Preferiu sua própria imagem, oca e vazia, a si mesmo. Tentou buscar-se onde ele se via, isto é, onde ele não era. Nada mais desviaria seu olhar sobre si mesmo.
Não parece ser tão simples assim. Parece que Narciso perdeu-se a si mesmo por não ter conseguido mais sair deste movimento fixo. Movimento que saía de si mesmo e retornava sobre si, sem nada lhe acrescentar. Preferiu sua própria imagem, oca e vazia, a si mesmo. Tentou buscar-se onde ele se via, isto é, onde ele não era. Nada mais desviaria seu olhar sobre si mesmo.
Acontecia assim:
Narciso sorria e a imagem lhe sorria. Chorava e a imagem vertia-lhe uma
lágrima. Aproximava-se ou se afastava do espelho das águas e a imagem lhe
retribuía com o mesmo movimento de aproximação ou de afastamento. Ensaiava um
abraço e sua imagem retribuía-lhe de braços abertos. Porém, Narciso não se
sentia abraçado...
Narciso tornou-se refém
da armadilha de um olhar que nada mais lhe acrescentava. Imagem sem substância,
que se desfazia com o redemoinho das águas ou do toque de sua mão sobre o
espelho das águas. Duplo sem corpo.
Tentou ainda falar. Mas
falava consigo mesmo. Somente a ninfa Eco lhe repetia o final de sua própria
fala, do fundo das cavernas.
Narciso dizia:
"Existe alguém perto de mim?"
E eco respondia:
"De mim"
Narciso falava:
"Alguém mais poderia me amar?"
E eco duplicava:
"Me amar"
Imagem e fala sem substância
e vazias...
Se, ao menos, seu
reflexo pudesse lhe mostrar e advertir outra coisa além do seu duplo falso.
Talvez o persuadisse a abandonar-se e desviar o seu olhar. Para começar a agir.
E direcionar-se para o mundo que o cercava. E volver o seu olhar para o Outro,
que significaria a sua existência.
Salvaria a si mesmo,
abandonando-se de si...
*José Mayer
Filósofo, Livreiro, Estudante de Filosofia Clínica na Casa da Filosofia Clínica
Porto Alegre/RS
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