Eu deixo a vida como
deixa o tédio
Do deserto, o poento
caminheiro,
- Como as horas de um
longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre
de um sineiro;
Como o desterro de
minh’alma errante,
Onde fogo insensato a
consumia:
Só levo uma saudade - é
desses tempos
Que amorosa ilusão
embelecia.
Só levo uma saudade - é
dessas sombras
Que eu sentia velar nas
noites minhas.
De ti, ó minha mãe,
pobre coitada,
Que por minha tristeza
te definhas!
Se uma lágrima as
pálpebras me inunda,
Se um suspiro nos seios
treme ainda,
É pela virgem que
sonhei. que nunca
Aos lábios me encostou
a face linda!
Só tu à mocidade
sonhadora
Do pálido poeta deste
flores.
Se viveu, foi por ti! e
de esperança
De na vida gozar de
teus amores.
Beijarei a verdade
santa e nua,
Verei cristalizar-se o
sonho amigo.
Ó minha virgem dos
errantes sonhos,
Filha do céu, eu vou
amar contigo!
Descansem o meu leito
solitário
Na floresta dos homens
esquecida,
À sombra de uma cruz, e
escrevam nela:
Foi poeta - sonhou - e
amou na vida.
*Álvares de Azevedo
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