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Releitura*

De lá, distante, ouvi cantar o sabiá Vislumbrei palmeiras sem igual Ouvi o gorjeio de aves que me levaram a sonhar Falei com as estrelas de meu céu... Senti o intenso perfume de flores Recordei com saudade grandes amores Ouvi o o vento tocando o canavial. Em meus devaneios não entraram Corrupção, artimanhas e rodeios A arte da política destroçada A violência declarada Nada, nada enfim, chegou lá... Somente a saudade, sem tréguas De uma Pátria amada enredada Esperando por mim, por minha voz Em cada canto de cada estrada... Fazendo um pacto de confiança, Clamando por lideranças e por salvação. Por isso e mais isso e mais isso Voltei, aqui estou Brasil! *Rosemary Chalfoun Bertolucci Educadora. Poeta da Academia Lavrense de Letras. Filósofa Clínica. Lavras/MG

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) o tempo é uma realidade encerrada no instante e suspensa entre dois nadas" "(...) a duração é uma sensação como as outras, tão complexa quanto as outras. E não façamos nenhuma cerimônia ao sublinhar seu caráter aparentemente contraditório: a duração é feita de instantes sem duração, como a reta é feita de pontos sem dimensão. No fundo, para se contradizerem, é preciso que as entidades atuem na mesma zona do ser"  "Requer-se o novo para que o pensamento intervenha, requer-se o novo para que a consciência se afirme e a vida progrida. Ora, em princípio a novidade é, evidentemente, sempre instantânea" "Mas a função do filósofo não será a de deformar o sentido das palavras o suficiente para extrair o abstrato do concreto, para permitir ao pensamento evadir-se das coisas?" "Para as concepções estatísticas do tempo, o intervalo entre dois instantes é apenas um intervalo de probabilidade; quanto mais seu nada se alonga, m

Uma filosofia da exceção*

“Depois de ler essa passagem de Gertrude Stein, estilisticamente estranha: ‘uma rosa é uma rosa, é uma rosa’, ela de repente nos faz perceber que os problemas que a preocupavam só podiam ser expressos daquela forma.”                                                                                Jacob Bronowski É incrível notar que gestos significativos possam ter o silêncio como chão. Ao saber das coisas indizíveis, parecem restar atitudes de excesso, para além do gesto reconhecível no olhar cotidiano. Esse lugar onde os loucos sonhos se exercitam, aprecia ter vínculos estreitos com a alma em instantes de transgressão criativa. Quase inacreditável ser a interrogação sua própria resposta, um vislumbre a se perder de vista para outros horizontes.   Um rascunho de abstração profunda, no lugar nenhum da palavra reconhecida, eis a ousadia desses contornos de exceção. Na raridade da menção obtusa muita coisa morre pra seguir vivendo. Os desdobramentos subjetivos apreciam a

Prefácio*

Assim é que elas foram feitas (todas as coisas) — sem nome. Depois é que veio a harpa e a fêmea em pé. Insetos errados de cor caíam no mar. A voz se estendeu na direção da boca. Caranguejos apertavam mangues. Vendo que havia na terra Dependimentos demais E tarefas muitas — Os homens começaram a roer unhas. Ficou certo pois não Que as moscas iriam iluminar O silêncio das coisas anônimas. Porém, vendo o Homem Que as moscas não davam conta de iluminar o Silêncio das coisas anônimas — Passaram essa tarefa para os poetas. *Manoel de Barros

Instituto Casa da Val - Convida*

Em setembro a Casa da Val fez aniversário de três anos de acolhimento, escuta, e construção compartilhada. A cada ano realizamos um evento especial para celebrar a nossa amizade e compartilhar a nossa alegria com os amigos. Assim será em 2018 porém não com um, mas com alguns eventos a serem divulgados aqui mesmo. Então vejamos: A partir do dia 07/11, às quartas-feiras, das 12h às 14h, você poderá acompanhar o programa multicultural NAVILOUCA oferecido pela Casa da Val, o Canal Conexão Extramuros e a Casa da Filosofia Clínica Rio de Janeiro e Niterói em parceria com a Rádio Revolução FM online no Instituto Municipal Nise da Silveira. Para divulgar o primeiro programa que vai oferecer um especial sobre Torquato Neto resolvemos reproduzir a capa do histórico disco Tropicália ou Panis et Circencis, de 1968. Esperamos que gostem, se divirtam, participem e que acompanhem a programação que iremos divulgar aqui. Sejam bem vindos! *Valéria Sayão Filósofa Clínica. Coordenad

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"O que é isto a filosofia ? Com esta questão tocamos um tema muito vasto. Por ser vasto, permanece indeterminado. Por ser indeterminado, podemos tratá-lo sob os mais diferentes pontos de vista e sempre atingiremos algo certo (...)" "(...) a palavra grega philosophia é um caminho sobre o qual estamos a caminho (...)" "A filosofia é uma espécie de competência (...) que é capaz de olhar para algo e envolver e fixar com o olhar aquilo que perscruta (...)" "(...) a filosofia de Aristóteles a Nietzsche permanece a mesma, precisamente na base destas transformações e através delas. Pois as transformações são a garantia para o parentesco no mesmo" "Já os pensadores  gregos Platão e Aristóteles chamaram a atenção para o fato de que a filosofia e o filosofar fazem parte de uma dimensão do homem, que designamos dis-posição (no sentido de uma tonalidade afetiva (...) um apelo)" "O espanto é, enquanto páthos , a arché

Eu vou continuar contando*

Quando decidi viajar sozinha, pensei que melhorar meu inglês seria tudo de bom. É mais difícil um pouco a essa altura da vida, mas nem de perto impossível. Ficar em uma casa de família, fazer um intercâmbio como uma adolescente – que é um estado da minha alma às vezes – e tantas outras mil e uma justificativas para vir fizeram parte das escolhas para realizar um projeto antigo. Quando não se consegue mesmo providenciar tudo sozinha ou com a ajuda da família,   uma agência de intercâmbio pode até ajudar um pouquinho, mas tenha em mente de que vai gastar mais e isso não significa que será bem atendida. Percebi que a intenção primeira da agência, obvio, é lucrar e se você ficar satisfeito é melhor porque assim eles vão consolidando suas marcas. E muita gente se diz satisfeito por puro comodismo. Contudo, a aventura de pesquisar bem o lugar para onde se quer ir, ter em mente seus objetivos e realiza-los é uma emoção à parte, então, tente planejar e realizar o máximo que puder por s

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Cada ser histórico traz em si uma grande parte da humanidade anterior à História" "Dizem os surrealistas que todo homem pode se tornar um poeta: é apenas uma questão de saber se abandonar à escrita automática. Essa técnica poética se justifica plenamente em uma psicologia sã. O 'inconsciente', como é chamado, é muito mais poético - e, acrescentaríamos, mais filosófico, mais mítico - que a vida consciente" "Se o espírito utiliza as imagens para captar a realidade profunda das coisas, é exatamente porque essa realidade se manifesta de maneira contraditória, e consequentemente não poderia ser expressada por conceitos" "Quanto mais uma consciência estiver desperta, mais ela ultrapassará sua própria historicidade" "(...) a narração de um mito não é sem consequência para aquele que o recita ou para aqueles que o ouvem. Pelo simples fato da narração de um mito, o tempo profano é - pelo menos simbolicamente - abolido: n

A fala cotidiana contra a verdade*

“O mundo inteiro nos é oferecido, mas por meio do olhar.”                              Maurice Blanchot Por aqui, no país de orientação religiosa pós-liberal, na capital, Porto Alegre, um movimento pela moralidade parece estar além dos deuses; no lugar das decisões mitológicas prevalece a orientação de ordem político-social-moralista. O que deseja implantar como normal e, quiçá, lei, no futuro, vedar olhos em nome de um pretenso desejo de punição aos que pensam contrário. Fadiga dos tempos, o moralismo toma conta do corpo que pensa sem a razão e leva à força toda a diferença na guilhotina do espetacular. Em tempo de democracia o que cair na rede é válido, até as frustrações de um espírito conservador, que, em forma de ironia, sacraliza o cotidiano. Para eles, os moralistas, a arte deve ser controlada por guardiães do bom costume, como se o prefeito da cidade do Rio de Janeiro, além de pastor, tomasse o controle dos corações e dissesse o que é o lado bom e o lado mau das c

Quando morremos com os girassóis *

De frente a sombra A nudez do tempo se revela. Cada ruga, o disforme, Aquilo que não vemos, O real implacável. De frente a sombra A fotografia rasga Ilusões sem maquiagem. Joga na cara o Apenas humano. A vaidade se esvai Sem disfarce revela Cruelmente O angulo de desfalecimento. Como vejo o mundo? Como me vejo? Como o outro me vê? Apesar da sombra de mim A luz se acende Vejo minha Afrodite Apesar do tempo fugit Me amo em luz e sombra. Saio das cinzas Fênix. A imagem revelada Acende minha alma em festa E me amo apesar de... Plena de mim Sou a mulher selvagem A dançar com pé no chão. Bailarina cósmica Amante do sol, das estrelas E dos girassóis. Morre a vaidade e fica o Eterno sem forma. Esvaziada inspiro Deus. A poetiza abre um sorriso Agradece o existir Abraça o sol nascente Planta sementes de girassóis. *Dra Rosângela Rossi Psicoterapeuta. Escritora. Filósofa Clínica. Livre Pensadora. Juiz de F

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) compreendo a essencial inexplicabilidade da alma humana, cercar estes estudos e estas buscas de uma leve aura poética de desentendimento. Este terceiro ponto tem talvez qualquer coisa de diplomático, mas até com a verdade, meu querido Gaspar Simões, há que haver diplomacia"  "Toda a coisa que vemos, devemos vê-la sempre pela primeira vez, porque realmente é a primeira vez que a vemos. E então cada flor amarela é uma nova flor amarela, ainda que seja o que se chama a mesma de ontem. A gente não é já o mesmo nem a flor a mesma. O próprio amarelo não pode ser já o mesmo. É pena a gente não ter exatamente os olhos para saber isso (...)" "Desde criança tive a tendência para criar em meu torno um mundo fictício, de me cercar de amigos e conhecidos que nunca existiram. (Não sei, bem entendido, se realmente não existiram, ou se sou eu que não existo. Nestas coisas, como em todas, não devemos ser dogmáticos) (...)" "Toda a arte é uma fo

A palavra devaneio*

É incomum notar a existência de algo que restaria silenciado, não fora um olhar absorto, indeterminado, sentir improvável de um sonhar acordado. Esse lugar de refúgio aos desatinos da criação, concede uma estética de acolhimento ao viajante das quimeras.    Nessa região, onde eventos sem nome rascunham invisibilidades, é possível intuir vias de acesso de essência não epistemológica. Seu teor, ao pluralizar versões desconsideradas, faz acordar aquilo que dormia. Ao desalojar esses fenomenos, desconstrói o aspecto irrealizável das promessas. Esses fenomenos reivindicam a singularidade alterada para se mostrar. Assim a pessoa, deslocando-se por esses refúgios, ao ser ela mesma, já é outra.    Uma estética do devaneio, ao convidar para o exercício da ficção, oferece achados imprevisíveis. Inicialmente desconfortável nesse chão desconhecido, o sujeito pode vivenciar insegurança, dúvida, receio. No entanto, ao persistir as visitas por esse ambiente especulativo, pode desvendar-se