“O mundo inteiro nos é
oferecido, mas por meio do olhar.”
Maurice Blanchot
Por aqui, no país de
orientação religiosa pós-liberal, na capital, Porto Alegre, um movimento pela
moralidade parece estar além dos deuses; no lugar das decisões mitológicas
prevalece a orientação de ordem político-social-moralista. O que deseja
implantar como normal e, quiçá, lei, no futuro, vedar olhos em nome de um
pretenso desejo de punição aos que pensam contrário.
Fadiga dos tempos, o
moralismo toma conta do corpo que pensa sem a razão e leva à força toda a
diferença na guilhotina do espetacular. Em tempo de democracia o que cair na
rede é válido, até as frustrações de um espírito conservador, que, em forma de
ironia, sacraliza o cotidiano. Para eles, os moralistas, a arte deve ser
controlada por guardiães do bom costume, como se o prefeito da cidade do Rio de
Janeiro, além de pastor, tomasse o controle dos corações e dissesse o que é o
lado bom e o lado mau das cabeças.
Na cultura Ocidental o
tema é recorrente, desde que a mitologia foi tomada de assalto pelo racional,
isso lá distante, na Grécia da epopeia, no lugar em que existia o mito que se
fundiu com o racional, o pensamento se formou. Um mundo vive de idas e vindas,
mas não permitir que o mito tome conta do “sagrado” invenção para dominar o
racional em relação ao medo do mito, o homem se formou.
A educação, no
entendimento dos que pensam que tanto faz existir o histórico, o lado mais
obscuro do homem está na sua cabeça. Foi criado o bem para eliminar o outro
lado. As religiões monoteístas controlam tudo, menos a tara do conservador, nem
a gula dos ditadores. Aqui, o ditador moral, o que move o mundo sendo movido
por sua tentativa de cura ao se salvar da morte. Momentâneo.
O homem é um passo do
desconhecido. Sou do lado anárquico da humanidade. A cultura no seu
confinamento moralista empobrece o crivo do pensar. Nem mesmo se tem mais
diálogo quando, hoje, na contemporaneidade, se lavam as mãos em nome da
purificação do espírito, impondo um lado que, para mim, o grotesco é parte
desse lado, então, uniformizar as mentes é uma forma de controle do olhar, uma
forma de vigiar na paz democrática, no medo do desconhecido. Ao falar um pouco
das origens, a partir da leitura e do ver cinematográfico, do olhar perdido no
horizonte, sinto-me distante cada vez mais do cinismo democrático e religioso
deste século.
Não sinto saudades do
que vivi, a corrente da vida é parte do cotidiano que escapa das mãos do
guardião social. Tem uma saída, o possível está na insignificância da
linguagem, burlar os olhos, desvelar os véus, mostrar a dor da realidade que já
cansou da simples nudez, mostrar o que tem por dentro, pois todo significado
pode forjar novas linguagens e embaralhar os códigos do guardião.
*Prof. Dr. Luis Antonio
Paim Gomes
Filósofo. Editor. Livre
Pensador.
Porto Alegre/RS
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