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Mostrando postagens de março, 2024

Revista da Casa da Filosofia Clínica Outono 2024 - Ed. 08 - Dicionário de Filosofia Clínica

  Revista da Casa da Filosofia Clínica Outono 2024 CLIQUE AQUI PARA LER Esta é uma edição especial, nela apresentamos o Dicionário de Filosofia Clínica, uma vez que como novo paradigma, os termos em Filosofia Clínica tem um sentido próprio. No entanto, aqui é importante lembrar, um desafio dessa natureza não é um trabalho acabado, mas sim em constante construção. Essa publicação busca ser uma companhia aos estudantes, pesquisadores, profissionais, para esclarecer o significado dos termos agendados, os quais se inserem no contexto da especialização.   Leia. Releia. Comente. Compartilhe. Faça o conhecimento circular. CLIQUE PARA LER

Deslocamentos de autogenia e novo paradigma***

  “Saber melhor sobre a historicidade de cada pessoa, fazia tudo dançar mais feliz, leve.” Um belo dia ela saiu de casa determinada a ser algo mais, além de mãe. Seu amor insistia, agendava, incentivava que ela tinha um talento para a arte. Buscou a filosofia clínica para ensaiar-se. Na época os atendimentos aconteciam de modo presencial, na Cidade Baixa, Porto Alegre. Em clínica ela entendeu que a paixão dominante podia sair para dançar. Convidou a busca, a semiose e a expressividade e começaram a experimentar. Uma dança aqui, outra ali, bem aos poucos porque o papel existencial de mãe lhe tomava por inteiro, em uma dedicação admirável, prisioneira, estruturante. Respeitamos seu tempo, “sempre tem o momento certo”. Sim, ela dizia acreditar que “sempre tem o momento certo para as coisas”. Uma axiologia a assimilar o tempo, tomar fôlego, recuperar as forças perdidas nos agendamentos infortúnios das relações familiares. Quando pequena lhe tiraram a tela e a tinta das mãos, foi forman

Das minhas últimas leituras*

O DESAPARECIMENTO DOS RITUAIS / Uma topologia do presente (Byung-Chul Han / Editora Vozes) - Apresenta os rituais como técnicas simbólicas de encasamento: transformam o estar-no-mundo em um estar-em-casa; os rituais estabilizam o mundo, o deixam mais confiável. Trabalha dimensões como tempo, lugar e circunstância a partir do sentido e significado.  Daí a crítica de um amálgama de emocionalização e esteticizacão à serviço da mercancia: para potencializar consumo e produção, o estético é colonizado pelo econômico; hoje não consumimos só as coisas, mas também as emoções nelas contidas. Ao consumir emoção não nos relacionamos mais com a coisa em si, mas com a gente mesmo, ganha a relação narcísica em detrimento da relação com o mundo e com o outro. Os próprios valores servem como objetos de consumo individual, como características distintivas, contabilizados na conta do ego. Defende rituais também como práxis simbólica, reúnem pessoas produzindo aliança, totalidade, comunidade de resso

Certo ou errado? *

  Será que podemos universalizar que tudo é relativo? Foi difícil eu aprender que generalizar me fazia reduzir os fenômenos. Na multiplicidade e vastidão existencial precisei compreender que as singularidades marcam as diferenças. Por mais que prestasse atenção, volta e meia, eu me pegava escrevendo e falando: - Tudo! Vício comum em delimitar o mundo como certo ou errado. Existe a relatividade da singularidade assim como o existe o universal. Para o pré-socrático Parmênides tudo É, para Heráclito existe o Vir a Ser em contínua mutação. A essência É, a existência muda continuamente. Compreendo que as coisas podem ser e não ser. Por que desta reflexão? Ao reduzir os fenômenos à “tudo” posso julgar, criticar, como se houvesse um certo e errado universal. Hoje sei que as coisas podem ser certas ou erradas para mim. O mundo é representação minha. Eu vejo e interpreto o mundo de acordo com minhas experiências, agendamentos, aprendizagens, cultura… Aprendi que parar, refletir, para mi

A ordem do discurso*

Eu deitado na rede. Que o médico disse para pescar todos os sentidos profundos.                                                     Rogério de Almeida         A labuta de Paul-Michel Foucault, filósofo, que nasceu em Poitiers, na França, na década de 20, tem influenciado o pensamento em muitos campos da teoria social, principalmente da educação. Um dos principais desafios foucaultianos é a visão de que verdade e poder estão mutuamente interligados, através de práticas contextualmente específicas, que por sua vez, estão intimamente intrincadas à produção do discurso. No magnífico texto, A Ordem do Discurso, Foucault ao se pronunciar, percebe uma voz sem nome, e com isso permite ser arrebatado pela palavra. Com sólidos conhecimentos acerca das diversas manifestações de poder através do discurso, Foucault nos leva a compreender as idéias básicas de sua linha filosófica sobre saber, poder e sujeito, bem como a descobrir o poder das palavras no discurso do indivíduo, que ora o exclui,

A biblioteca e os livros*

Uma biblioteca não é simplesmente um lugar em que podemos ler livros. Cada biblioteca é uma praça de resistência. É uma das últimas instituições em que qualquer pessoa pode entrar e ter livre acesso a bens de alto valor econômico sem que ninguém queira cobrar-lhe alguma coisa. * * * Em "Fahrenheit 451", Ray Bradbury descreve uma distopia em que os livros são proibidos. Lá as telas, a televisão, o entretenimento interativo tomam todo o lugar da cultura literária. Conseqüentemente a população se torna mansa e estúpida - e passa a odiar os livros como se fossem “armas carregadas”: "Nada mais simples e fácil de explicar! Com a escola formando mais corredores, saltadores, remendadores, agarradores, detetives, aviadores e nadadores em lugar de examinadores, críticos, conhecedores e criadores imaginativos, a palavra 'intelectual', é claro, tornou-se o palavrão que merecia ser. Sempre se teme o que não é familiar. Por certo você se lembra do menino de sua sala na

A matemática simbólica e a singularidade*

A novidade da filosofia clínica é a afirmação da singularidade. Cada partilhante é critério de si, a partir de sua historicidade, fornecendo parâmetros à realização dos procedimentos clínicos ao terapeuta. Mas, alguns desdobramentos dessa abordagem terapêutica são questionáveis. Refiro-me a questões relativas à matemática simbólica. Para refletirmos, uso a filosofia clínica como o método para melhor explicá-la, corrigi-la e desenvolvê-la. As linhas seguintes demandam concisão. Considero a filosofia clínica capaz de compreender formulações complexas ao analisar suas composições estruturais. No início da “Filosofia Clínica: propedêutica”, Lúcio Packter destinou as primeiras linhas para explicar o contexto histórico que permeou sua vida no período no qual iniciava suas pesquisas para a sistematização daquilo que mais tarde receberia o nome de filosofia clínica. A categoria circunstância descrita pelo autor nos ajuda a suspeitar que como o mundo parece é um tópico determinante em sua estru

Sobre os deslizes das margens*

Um cotidiano inacreditável compartilha suas origens na contradição com o mundo normal. Seu viés, ao surpreender a lógica dos princípios de verdade, descreve um saber estrangeiro. Sua expressividade insinua uma pluralidade estética. Sua dialética existencial se apresenta nas escolhas, atitudes, alternância de papéis existenciais. Pressentindo seus deslocamentos e a linguagem por onde se diz, pode-se acolher e traduzir a pátria exilada em si mesma. Sua irrealização aprecia reescrever para além de uma vida acumulando raízes. Ao espírito de rebanho, normalizado pela drogaria psiquiátrica, ser singular é doença. Nesse imenso território de dúvidas, inseguranças, um sujeito ameaça surgir. Seu deslize pessoal, ao mencionar os labirintos da subjetividade, amplia o fenômeno humano desconsiderado. Esse rascunho permanece invisível ao olhar cotidiano. Manuscritos precursores em tratativas de libertação. Sua lógica delirante esboça uma poética da singularidade. Com o vislumbre desses instantes de d

Tempo*

“... de receber do tempo o sonho mais profundo.”                           e. e. cummings Deslocamento existencial. O caminho entre a juventude e a leitura, passando pela dor constante do tempo perdido, do amor, da guerra, da morte, o falso-dorso, entre páginas marcadas por cintilante tinta, o esquecido entre as estantes, livro empoeirado, leitura retomada, a lentidão do passo, o caminhar até a cozinha, o ir até a piscina, nadar para salvar a alma do cansaço, uma dose de esperança, coração, a mão e braços em movimento constante. O aprendizado da vida, retilíneo de uma margem a outro lado do rio, olhar em viagem constante, o remédio em dose, a pressão arterial em sinfonia com violinos, abatimentos ocultos, o corpo em sincronia com o tempo de viver, o acordar antes que o tempo se apresse, o café ao sol, a fruta seca à janela, o pássaro que canta na palmeira. O primeiro dia da semana, o copo de vinho depois do expediente, a leitura final no começo da noite. A eterna solidão deste lu

Ouvir e compreender*

Encontros e desencontros* Nós somos todos linhas tortas porque nos encontramos. Nós somos quase todo feitos de encontros e de desencontros também; somos um conglomerado de fragmentos de você. Sim, nós somos linhas tortas porque linhas retas jamais se encontram mesmo sendo curvas infinitas. E certamente, escrever certo por linhas tortas parece cada vez mais ser o melhor caminho. Pois muito do que eu sou agora deve-se em grande medida as contribuições dos encontros e dos desencontros que compuseram e impactaram a minha vida tão somente porque a minha vida toda foi feita de histórias repletas de fatos que transcenderam e muito a lógica comum e cotidiana imposta pelos mais superficiais e céticos. A verdade é que quando se toma consciência de tudo que os encontros e os desencontros nos causaram fica difícil não nutrir paz e uma gratidão gigante e crescente por tudo que nos fora doado nessa jornada existencial sempre tão significativa, desafiadora e dignificante. Musa! ______________________

Algumas considerações sobre terapias***

A revista SUPERINTERESSANTE, edição 254, trouxe como matéria de capa: Terapia Funciona? Dei um longo depoimento, depois troquei alguns e-mails com a jornalista responsável pela matéria, onde aparece uma citação minha e algumas linhas esperançosas sobre o meu trabalho. Segundo a jornalista Denize Guedes, que assina a matéria, as neuroimagens de pesquisas, como a realizada na Universidade de Leeds, Inglaterra, apontam para um parecer: talvez “a psicoterapia não funcione pelo motivo que os terapeutas apontam”. O que faria com que a psicoterapia funcionasse na opinião de muitos especialistas é o efeito placebo, a convicção da pessoa de estar sendo auxiliada, da sugestão, da vontade da pessoa em sair do conflito. Existe algum endereçamento na Filosofia Clínica sobre isso? Primeiro, algumas vezes a psicoterapia funciona pelos motivos nomeados pelos terapeutas. Exemplo: às vezes impulsos reprimidos, o trabalho direto com os conflitos, a identificação de crenças entortadas faz com que a pessoa

Antipsiquiatria e filosofia clínica***

  A psiquiatria biológica não é medicina, não é científica, seus medicamentos não são tratamentos e seu livro Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM em inglês) não diag-nostica nenhuma doença mental. Mas se tudo isso for uma verdade, o que tem a ver com a filosofia clínica? Sem entrar na questão ideológica que há por trás da psiquiatria biológica - a construção de conceitos de “doenças mentais, o jogo do lucro que promove, favorece e impulsiona a indústria farmacêutica e o grupo de elite dos criadores da medicalização da vida, a reengenharia social através dos poderes institucionais da própria psiquiatria e das instituições que a apoiam etc. - ela é o oposto contraditório da filosofia clínica na questão de como se percebe o fenômeno humano. Em primeiro lugar, a psiquiatria biológica usa do verniz da medicina e da ciência como formas de “investigar” o comportamento humano. Digo “verniz” porque não passa disso, pois, psiquiatria biológica não é medicina nem ciên

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