Pular para o conteúdo principal

Ouvir e compreender*

Encontros e desencontros*

Nós somos todos linhas tortas porque nos encontramos. Nós somos quase todo feitos de encontros e de desencontros também; somos um conglomerado de fragmentos de você.

Sim, nós somos linhas tortas porque linhas retas jamais se encontram mesmo sendo curvas infinitas.

E certamente, escrever certo por linhas tortas parece cada vez mais ser o melhor caminho. Pois muito do que eu sou agora deve-se em grande medida as contribuições dos encontros e dos desencontros que compuseram e impactaram a minha vida tão somente porque a minha vida toda foi feita de histórias repletas de fatos que transcenderam e muito a lógica comum e cotidiana imposta pelos mais superficiais e céticos.

A verdade é que quando se toma consciência de tudo que os encontros e os desencontros nos causaram fica difícil não nutrir paz e uma gratidão gigante e crescente por tudo que nos fora doado nessa jornada existencial sempre tão significativa, desafiadora e dignificante. Musa!

_______________________

Autoconhecimento e liberdade*

Se conhecer faz toda a diferença, pois é isso que nos permite não mais nos demorarmos tanto onde persistir é uma tarefa em vão. E curiosamente, é o fenômeno do autoconhecimento que nos dá poder e lucidez suficientes para deixar passar algumas circunstâncias ou recomeçar sempre que estivermos num caminho ruim ou que já não faz mais sentido, sobretudo, porque o seu lugar já é no passado.

Somente o autoconhecimento nos liberta e nos ensina a dizer não quando é preciso doa a quem doer comova a quem comover. É pelo autoconhecimento que descobrimos a fundo o valor de compreender que tudo que nos tira a paz não merece durar ao nosso lado mais do que o tempo mínimo e inevitável.

Enfim, se conhecer é fundamental demais porque é isso que melhor nos faz conhecer tão bem qualquer pessoa e sair tranquilamente de mãos dadas na direção de tudo que realmente importa, desde se ausentar em paz de um restaurante quando o menu não nos agrada até mesmo escolher conscientemente partir, tolerar ou se manter em silêncio quando outros ainda não são capazes de nos entender. Musa!

__________________

Ouvir e compreender*

Não deveria ser tão comum haver tantas pessoas confundindo radicalmente ouvir com julgar. Ouvir é tão terapêutico, é tão regenerativo, é tão necessário, é tão libertador e é sempre uma grande fonte de aprendizado e fortalecimento recíproco. Já julgar é mais fácil, é mais vil, mais instintivo e é ao mesmo tempo a própria precariedade da auto-observação e do autoconhecimento se manifestando e infectando tudo a que consegue tocar.

Julgar é a falência do ser cristão ou a decadência de qualquer ser humano. E curiosamente quem já caiu por inteiro nessa armadilha da vaidade e do egocentrismo a cada dia mais potencializa o seu veneno e o seu desejo de punir e condenar a todos e a tudo aquilo que não condiz com os seus caprichos e com a sua hipocrisia. Entretanto, talvez não haja melhor radiografia do caráter de uma pessoa que senão observar se ela é capaz de ouvir ou apenas de julgar.

Quem tem a grandeza de ouvir tem o poder da compaixão, da solidariedade, da tolerância e do respeito as diferenças. Quem tem a fraqueza grande de julgar tem bem grande a covardia da violência principalmente sob aqueles que não podem se defender.

Mas, por outro lado, é surpreendente convir que quase sempre é nos mais feridos que percebemos as maiores aptidões para curar os outros.

Portanto, provavelmente nisso tudo haja uma oportunidade concreta de compreender que esse dom presente em tantos feridos e injustiçados só se justifica mesmo é para nos ensinar que devemos sim é cuidar do que nos prejudica visando a superação, enquanto cultivamos o que nos favorece buscando a sua multiplicação para dividirmos e somarmos. Musa!

*Prof. Dr. Pablo Mendes

Filósofo. Educador. Escritor. Musicista. Filósofo Clínico. Em 2019, por indicação do conselho e direção da Casa da Filosofia Clínica, recebeu o título de "Doutor Honoris Causa". 

Uberlândia/MG

Comentários

Visitas