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Mostrando postagens de agosto, 2023

Ressonância*

Sei que eu sou eu Mas não sou somente eu Sou eu e meus outros "eus" Sou único, sou singular Sou também minhas circunstâncias Condicionado pelos que me cercam Mas em liberdade De fazer-me a cada dia. Sou presente na vida dos outros Os outros também em mim Mesmo aqueles que ainda desconheço Se não sou nem inteiramente meu Como poderia ser de alguém Ou alguém ser meu???   Assim era ela Que tão bem aprendeu A cuidar de tudo e de todos E de si não sabia cuidar!! E fazia um bom tempo Que estava se esforçando Para conseguir escrever Em linhas coloridas A história curva de sua vida E por vezes, durante a noite Escrevia coisas esquisitas Que ao amanhecer do dia seguinte Não faziam mais sentido algum...   *José Mayer Filósofo. Poeta. Livreiro. Especialista em Filosofia Clínica. Desaparecido

Prática da Filosofia Clínica*

  “Nesse sentido, a nova abordagem possui uma representação diferenciada do fenômeno humano; as pessoas passam a ter nome, sobrenome, uma história de vida singular, linguagem própria, expressividade peculiar, estabelecendo um abismo com as lógicas da tipologia, da classificação desumana dos manuais psiquiátricos, os quais, ao oferecer diagnósticos, prognósticos, curas, normalidades, destituem a pessoa de seu ser sujeito em ação.” – Hélio Strassburger em Filosofia Clínica: anotações e reflexões de um consultório . Ed. Sulina. Porto Alegre/2021. Pode ser que muitos que não sejam terapeutas e leiam as linhas acima se perguntem, meio frustrados ou estupefatos pela afirmação feita, “Mas não é assim com qualquer terapia séria? Não é assim que todas fazem? Como poderia uma terapia ser diferente disso? Então, qual é a vantagem da filosofia clínica ao afirmar tudo isso?” Vamos começar pelo maior contraste, já que, às vezes, o mais próximo é o mais difícil de enxergar as nuances. Hélio já co

Luz havia*

  “Por fim, sufocaram a lua.”        Carmen Laforet   Acontece que esse embalo do tempo não impede da vida continuar..., um dia ouvi isso ou sonhei com essa frase, já não lembro mais. Só um personagem que ficou preso ao seu tempo é que irá negar a linha da vida que está temporalmente presa ao acaso dos acontecimentos. Exceto Eu. Diante dessa afirmação, parece ser mais inocente, dessa reflexão de um homem que deixou a juventude lá no passado, que agora nada incessante rumo à velhice, em sonhos e braceadas, o único esporte que te permite ser filósofo em tempo integral, que te permite sonhar com coisas que jamais alcançaria. Um livre espaço de águas que mais parece salvação da infância do que medo de morrer logo ali. Todos temem ver no velho seu amanhã. Aqui me despedaço em pensamentos do passado para recompor o presente, neste país à beira do abismo é que continuo a cultuar o acaso, a brincadeira de usar o “nada” como nadar. Viver no Brasil. Um retrocesso? Não, o abismo mesmo, a po

O Avesso do Avesso*

Às vezes, há instantes que – como respirações suspensas e eternizadas pelo tênue ar que mantém a fugacidade do momento – traduzem os infinitos que nos compõem e transpiram a vitalidade da essência de que somos feitos, como se conseguissem concentrar num átimo toda a potencialidade da existência. Momentos assim são como pérolas escondidas em conchas vigorosas que resistem em se revelar, temerosas de que seu valor jamais seja devidamente apreciado. E, no entanto, expressam uma preciosidade que não pode ser transposta na insanidade da realidade que ofusca e que muitas vezes nem mesmo se percebe. A vida é mais do que o avançar do tempo, muito mais do que o contar dos batimentos. A vida não se esgota e não se permite rótulos, embora as vendas se acumulem nos olhos de quem se recusa a verdadeiramente engolir a pílula vermelha... cor do sangue de que nos alimentamos, da maçã que nos incita a não resistir tanto às tentações, da vibração que nos mantém aquecidos e atentos ao instante seguinte

Criticidade e Literatura***

  Nem a gripe que me pegou de jeito esses dias abalou a vontade de dividir com vocês um pouco da relíquia que tenho em mãos... Ganhei de um amigo recente, o jornalista e escritor Celso Viola, um dos editores da Revista, a Edição 1, Maio de 2012, da ALEF, Revista de Literatura Ibero-americana, que traz esse nome em homenagem ao escritor argentino Jorge Luis Borges. Já no Editorial (ALEF ao leitor), deixa claro a que veio: para aproximar produtores culturais, de línguas e culturas diversas, irmanados pela resistência ao predomínio monetário, cultural e ideológico.   Minha alegria não poderia ser maior ao saber que foi gestada em minha cidade natal, Gramado / RS.    Mesmo enfermo, o pensamento crítico ainda vive e no que depender de mim e de outros tantos que tenho encontrado pelo caminho, seguirá pulsando...   Tem um artigo interessantíssimo sobre as bases do modernismo em Portugal, que faz integrar dois brasileiros à Geração Orpheu, citados pelo próprio Fernando Pessoa: o gaúcho Ed

Objetividade parcial*

  Não é raro ouvirmos dizer sobre ver algo de cima ou de fora. Como se o melhor procedimento para enxergar determinada situação, evento ou experiência seria a partir de um distanciamento. Uma pretensão de objetividade ou imparcialidade. Mudar a perspectiva, seja ela qual for, pode viabilizar um outro olhar. Talvez isso soe consensualmente. Mas, não garante a neutralidade do olhar de quem observa. Quem nos deixa cientes disso são filósofos como: Dilthey, Heidegger, Gadamer e outros ao mostrar o quanto nossa existência é inserida em uma história. Nossos horizontes são viabilizados por elementos culturais, históricos, pelas experiências pessoais. Desse modo, é inevitável um olhar carregado por uma “bagagem existencial”. A pretensão de objetividade cessa na escolha do que é observado. Pois este foi selecionado com parcialidade, vontade, interesse etc. Talvez o caminho para uma investigação honesta seja a aceitação da ausência de qualquer ponto de vista absolutamente neutro. Reconhe

A medicina e os remédios*

  Querido leitor, que você esteja bem. Hipócrates, filósofo grego, foi membro de uma família que, durante várias gerações, praticara a ciência da saúde, por isso é considerado o pai da medicina moderna. Inclusive, é atribuída a ele a frase “que seu remédio seja o seu alimento e que seu alimento seja seu remédio”. Quando falamos em remédio, você que lê este artigo, provavelmente deve ter lembrado daqueles que compramos nas farmácias. Mas remédio não é só isso. Algumas pessoas, ao passar na casa da mãe e sentem aquele cheirinho de bolacha, de pão que vem do forno a lenha, este cheiro pode ser um saudoso remédio. Já para outras, o simples fato de ouvirem uma música que tem a ver com sua historicidade, pode estar se remediando. Sim! Se estas músicas entram em seus corações acalmando, então se transformou num remédio. Tem um conhecido meu que sente aquele cheiro adocicado do estrume de gado e logo faz um deslocamento à gostosa infância rural, hoje vivenciada na selva de pedra. Aquele

Encontro*

O contrário de perder é encontrar. Quando alguém se perde no mato precisa encontrar a saída. Se perder a carteira, é bom fazer uma reza pra encontrar. Quando se está perdido em um pensamento, um problema, uma adversidade ou uma agrura qualquer, procura-se encontrar a solução para resolver a aflição. Quando você marca um encontro com alguém, esta procurando uma saída, um desenlace ou simplesmente pretende ficar frente a frente, se deparar e ver no que vai dar? Os americanos têm uma expressão, “date”, que significa ter um encontro ou sair com alguém em um contexto romântico, para que se conheçam melhor. Linguisticamente falando, “ir ao encontro de” significa acolher, concordar. Por outro lado, “ir de encontro a” indica discordância, bater contra. Na prática, quando marcamos um encontro, usualmente imaginamos que estamos propondo uma junção convergente de pessoas. Só que nem sempre acontece. Tanto pode haver concordância como discordância, embaraço, discussão, indiferença ou até mesmo

Poéticas do Indizível***

  (...) Graças as sombras, a região intermediária que separa o homem e o mundo é uma região plena, de uma plenitude de densidade ligeira. Essa região intermediária amortece a dialética do ser e do não ser".                                                                   Gaston Bachelard                                                    Uma crença muito antiga aprecia atualizar-se desse enigmático hoje que um dia foi amanhã. Poderia ser o pretérito imperfeito de uma busca ou aquele quase nada onde tudo acontece. Atualização de um dialeto nem sempre dizível, a se alimentar nas fontes inenarráveis, nos paradoxos, nas desleituras criativas. Seu visar inédito sugere desvãos ao mundo que se queria definitivo. Costuma ser abrigo do acaso na versão do avesso das coisas. Ao referir o encantamento das pequenas devoções, parece traduzir esse texto interminável, por onde a vida escoa seus segredos. Realiza um esboço sobre as tentativas de decifrar um mundo que é mistério por natureza

Buscas e singularidades existenciais***

Nas primaveras de 2007, 2008, 2009 e 2010, após centenas de sessões, entendemos que já era chegado o momento de partir, cada um para uma direção própria e singular, intencionada para não mais proporcionar encontros terapêuticos presenciais. A partilhante em questão, uma profissional bem-sucedida da Engenharia da Computação e especializada em Inteligência Artificial, não satisfeita com o diagnóstico de autismo que veio somente aos 35 anos, iniciou uma busca que ela mesma nominou de “autoconhecimento versão 2.0”. Ela tirava as suas férias sempre nas primaveras, hospedava-se num hotel da cidade de Porto Alegre/RS e desde o primeiro dia dessa estação comparecia pontualmente às nossas sessões sempre previstas para ocorrerem das 7:30 às 8:45h no nosso consultório itinerante situado no parque da Redenção. Como regra, trabalhávamos de segunda a sábado, fizesse chuva, fizesse sol, e, como exceção, aos domingos, ela escolhera comparecer ao parque sempre sozinha para fazer o mesmo trajeto filos

Considerações de um Pensador*

Amigos, tenho observado um fenômeno curioso. Cada vez mais encontro pessoas – inclusive com nível acadêmico superior – que nitidamente querem expressar uma idéia, ou discordar de uma tese, mas não contam com os instrumentos lingüísticos necessários para isso: a sua capacidade de articulação, o seu vocabulário, a sua sintaxe são tão brutos que elas permanecem no plano dos grunhidos mais ou menos elaborados com que exprimem sensações, desejos e juízos simples. Essas pessoas comunicam-se de modo confuso, o que revela a própria confusão de seu mundo interior – isto é: revela uma inteligência ainda imatura. A dificuldade de apresentar uma idéia num discurso completo, que corresponde à dificuldade de pensar uma idéia com clareza, deve-se à deficiência da cultura literário-poética: se não lemos literatura, se não lemos poesia, não possuímos os meios para elevar o intelecto acima do nível das exigências da vida social mais elementar – o trabalho, as relações familiares, as conversas sobre o fu

Obra inédita de Filosofia Clínica na Amazon*

O Ser Terapeuta em Filosofia Clínica é uma apresentação da postura terapêutica que a terapia da Filosofia Clínica convida a quem quer ser terapeuta necessita ter. É de longe a parte mais importante da formação em filosofia clínica apresentada pela Epoché Filosofia Clínica.  Além da parte técnica da metodologia - linguagem, eixos terapêuticos, intervenções - o ser terapeuta é o que define o sucesso ou não da prática da terapia da filosofia clínica. Coloca as condições de possibilidade de uma terapêutica a partir da metodologia da Filosofia Clínica.  Embora seja uma das partes da formação em Filosofia Clínica, pode ajudar também outros terapeutas a encontrar uma atitude mais abrangente à singularidade de cada indivíduo que vai fazer sua terapia, pois as linhas filosóficas de que trata O Ser Terapeuta em Filosofia Clínica - fenomenologia, hermenêutica da compreensão e analítica da linguagem - são também, hoje, em dia, estudas por outras terapias de outras áreas.  Este livro aprofunda este

Universal e Singular**

Sobre a moto, eles aproveitavam a deliciosa manhã de outono para apreciar a Rota não 66, porém a Estrada Real em Minas Gerais. Percepcionam curiosos. Seus colegas diziam: - A arte barroca é maravilhosa. Ponto. Como se “toda” arte barroca fosse bela para todos. Eles tentavam explicava a singularidade: - Nem todas as obras barrocas são belas. Podem ser para uns e não ser para outros. Em Tiradentes, um dos conjuntos arquitetônicos da arte barroca mais bem preservados do Brasil. “Irregular. Imperfeito. Exuberante. Nenhum estilo artístico e arquitetônico se encaixa com mais harmonia em Minas Gerais que o Barroco”. Muitos admiram e muitos rejeitam esta arte excêntrica. Concluíram que a compreensão da singularidade abre espaço para a liberdade de escolha e expressividade. - Eu sou livre para gostar ou não, por exemplo da arte barroca, da mesma forma expressar o que penso, sem medo de ser rejeitado. Pela estrada afora, foram aprendendo sobre o belo no barroco, observando a universali

Diagnóstico*

Se você às vezes se sente impotente para alcançar o que deseja, incapaz de seguir os seus sonhos, infeliz num mundo em que a felicidade é obrigatória; Se você às vezes olha para o lado e vê tanta gente mais inteligente, tanta gente com mais sucesso, tanta gente mais bonita, interessante e divertida do que você; Se você às vezes duvida da sua própria história, não tem certeza de quase nada, pensa que é a pessoa mais estranha do mundo; Se você às vezes tem tiques, manias, maluquices, e alimenta hobbies inúteis, paixões, vícios; Se você às vezes faz tudo ao contrário, e age impulsivamente quando deveria ter calma, e nada faz quando a regra é agir; Se você às vezes alterna momentos de alegria com momentos de dor: num dia tudo está lindo como numa comédia romântica de Hollywood, no outro você chora de repente sem nem saber o porquê; Se você às vezes escuta vozes discordantes na sua cabeça, tem afetos divergentes no seu coração, tem desejos contraditórios no seu corpo; Se você

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