“Por fim, sufocaram a lua.”
Carmen Laforet
Acontece que esse embalo do tempo
não impede da vida continuar..., um dia ouvi isso ou sonhei com essa frase, já
não lembro mais. Só um personagem que ficou preso ao seu tempo é que irá negar
a linha da vida que está temporalmente presa ao acaso dos acontecimentos.
Exceto Eu.
Diante dessa afirmação, parece
ser mais inocente, dessa reflexão de um homem que deixou a juventude lá no
passado, que agora nada incessante rumo à velhice, em sonhos e braceadas, o
único esporte que te permite ser filósofo em tempo integral, que te permite
sonhar com coisas que jamais alcançaria.
Um livre espaço de águas que mais
parece salvação da infância do que medo de morrer logo ali. Todos temem ver no
velho seu amanhã. Aqui me despedaço em pensamentos do passado para recompor o
presente, neste país à beira do abismo é que continuo a cultuar o acaso, a
brincadeira de usar o “nada” como nadar. Viver no Brasil. Um retrocesso? Não, o
abismo mesmo, a possibilidade real de nos afundarmos para sempre na ideia de
que seremos velhos sem amanhã.
Se o próprio tempo não cabe no
acaso, então o que seria se tudo fizesse parte de uma lógica binária, em que
duas coisas se distinguissem porque não podem estar uma dentro da outra, ou
estar ocupando o mesmo espaço? Não adianta me agarrar na crença. Pois logo, um
amante das águas, não aquelas da praia, água morna ou fria, e sim as do ir em
frente mesmo diante das dificuldades, tanto faz, água que o corpo afaga, afoga,
o corpo poderá transcender e ir de um lado ao outro.
A água da correnteza que leva o
corpo porque a força é de ter um sonho, atravessar o oceano, fugir deste país
egoísta. Feito por mãos boas, tomado por uma ruindade sem fim com os donos de
tudo, da liberdade à indulgência aos seus monstros. De crer que os que nomeiam
são os mesmos que dizem o que é justo ou não.
“Estamos cansados” − disse-me um
amigo olhando para seu felino. Pensei, será que ele partirá com seu gato? Vamos
atravessar o oceano juntos, o rio para o outro lado da banda, quem sabe seremos
felizes na outra margem.
*Prof. Dr. Luis Antonio Gomes
Filósofo. Editor. Escritor. Livre
Pensador.
Porto Alegre/RS
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