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Mostrando postagens de dezembro, 2023

Recomeços*

Desbravo caminhos que em minha alma acordam com os primeiros raios do sol. No caminho da vida peregrino sem cessar. Contemplo as tardes com saudades das manhãs. O fruto doce das alegrias se mistura ao verde das esperanças. Em cada canto um novo canto que na melodia da alma se faz sinfonia no silêncio dos meus tantos cantos. Alma peregrina que encontra nos portos seguros os mais belos horizontes. Assim é a vida... Um eterno amanhecer que nas tardes de outono sonham com as primaveras que hão de vir. No passado de pretéritos os amores sempre novos com saudades do passado. Sempre caminhar, se perdendo nos encontros e encontrando-se nas perdas. Viver assim como o caboclo que no chão lavra a terra de certezas da chuva sempre incerta. Olhar sem desanimar, e caminhar rumo ao meu avesso que tece esperanças com as estrelas que anunciam o presente das estações. Trilhar... a vida sem medo e mesmo com medo arriscar... Perder-se... Encontrar-se... E perder-se novamente... O que de mim não sei

Autoconhecimento e liberdade*

  Se conhecer faz toda a diferença, pois é isso que nos permite não mais nos demorarmos tanto onde persistir é uma tarefa em vão. E curiosamente, é o fenômeno do autoconhecimento que nos dá poder e lucidez suficientes para deixar passar algumas circunstâncias ou recomeçar sempre que estivermos num caminho ruim ou que já não faz mais sentido, sobretudo, porque o seu lugar já é no passado. Somente o autoconhecimento nos liberta e nos ensina a dizer não quando é preciso doa a quem doer comova a quem comover. É pelo autoconhecimento que descobrimos a fundo o valor de compreender que tudo que nos tira a paz não merece durar ao nosso lado mais do que o tempo mínimo e inevitável. Enfim, se conhecer é fundamental demais porque é isso que melhor nos faz conhecer tão bem qualquer pessoa e sair tranquilamente de mãos dadas na direção de tudo que realmente importa, desde se ausentar em paz de um restaurante quando o menu não nos agrada até mesmo escolher conscientemente partir, tolerar ou se m

Revista da Casa da Filosofia Clínica Verão 2023 - Ed. 07

  Revista da Casa da Filosofia Clínica Verão 2023 CLIQUE PARA LER Essa nossa edição de verão da revista da Casa da Filosofia Clínica celebra a chegada de uma nova estação. Sua contribuição reside em compartilhar ingredientes ao novo paradigma, agregando escritos de filósofos clínicos pesquisadores e àqueles que se debruçam, em seu dia a dia, nas atividades de consultório.  Desejamos boas leituras no aconchego de onde você estiver. CLIQUE PARA LER

Leitura e horizonte cultural*

Um verdadeiro leitor de livros percebe elementos, referências, nuances que passam completamente despercebidos pelo leitor comum - ainda que esse leitor comum tenha nível superior, mestrado, doutorado. A quem busca participar da cultura universal, as palavras, num texto literário, são encruzilhadas: conduzem a diversos campos de significado que adicionam novas camadas à leitura. Um exemplo: quando um bom poeta ou romancista faz referência ao "jardim", à "jardinagem", evidentemente faz uso de um símbolo literário e filosófico com uma longa história. O leitor atento logo compreende que esse jardim é o mesmo jardim de Atenas onde Aristóteles criou o seu Liceu, ou onde Epicuro, na mesma cidade, estabeleceu o seu hospital do espírito; são os jardins floridos de Virgílio; é o jardim de Voltaire no "Candide" e na carta a Pierre-Joseph de Boisjermain; são os jardins das confissões botânicas de Rousseau; é ainda o jardim em que Lizzy transforma seu julgamento

O Viajante de Amanhãs***

" O filósofo é uma das maneiras pela qual se manifesta a oficina da natureza - o filósofo e o artista falam dos segredos da atividade da natureza"                                                                              Friedrich Nietzsche   O espírito aventureiro impróprio à cristalização do saber se refaz nas escaramuças de um território movido a movimento. Seu viés de intimidade precursora se alimenta das ruas, estradas, subúrbios desmerecidos. É incomum que sejam facilmente compartilháveis, esses eventos anteriores ao gesso conceitual. A irregularidade narrativa como propósito sem propósito se reveste de uma quase poesia, para tentar dizer algo sobre os eventos irreconciliáveis com a ótica dos limites bem definidos. Essa lógica de singularidade flutuante se aplica às coisas irreconhecíveis ao vocabulário sabido. Seu desprezo pelas fronteiras, objetivadas pelos acordos e leis, é capaz de antecipar amanhãs no agora irrecusável. Num caráter de existência marginal e

Psicologia do Psicólogo*

Fundamentalmente é preciso compreender que em filosofia clínica o terapeuta não dá conselhos nem opiniões. A opinião do terapeuta não interessa de maneira alguma. Sua visão de mundo, sua perspectiva pessoal, seus juízos de valor não têm a mínima serventia em filosofia clínica. Ao contrário, contaminam e prejudicam o processo terapêutico. A postura fenomenológica do terapeuta, aquela postura que reage ao que aparece, mas somente depois de compreender de forma ampla o que é que está aparecendo, é para proteger o partilhante (partilhante é o nome que damos àquele que faz a terapia com um filósofo clínico). Proteger de quem e de quê? Proteger do próprio terapeuta, pois ele é uma ameaça potencial se invadir com suas opiniões e juízos pessoais o que vem da narrativa do outro. O terapeuta é a primeira “peça” que pode invalidar a terapia, se resolver dar sua opinião ou aconselhar segundo suas perspectivas pessoais. Então, quando uma partilhante pergunta ao terapeuta “o que devo fazer?”, se

Algumas considerações sobre terapias**

A revista SUPERINTERESSANTE, edição 254, trouxe como matéria de capa: Terapia Funciona? Dei um longo depoimento, depois troquei alguns e-mails com a jornalista responsável pela matéria, onde aparece uma citação minha e algumas linhas esperançosas sobre o meu trabalho. Segundo a jornalista Denize Guedes, que assina a matéria, as neuroimagens de pesquisas, como a realizada na Universidade de Leeds, Inglaterra, apontam para um parecer: talvez “a psicoterapia não funcione pelo motivo que os terapeutas apontam”. O que faria com que a psicoterapia funcionasse na opinião de muitos especialistas é o efeito placebo, a convicção da pessoa de estar sendo auxiliada, da sugestão, da vontade da pessoa em sair do conflito. Existe algum endereçamento na Filosofia Clínica sobre isso? Primeiro, algumas vezes a psicoterapia funciona pelos motivos nomeados pelos terapeutas. Exemplo: às vezes impulsos reprimidos, o trabalho direto com os conflitos, a identificação de crenças entortadas faz com que a pessoa

Preço de banana e o que a Filosofia Clínica tem a ver com isso*

Primeiramente, reforça um de seus pressupostos teóricos mais basilares: a analítica da linguagem que “Acredita que os problemas filosóficos possam e devam ser resolvidos por meio de uma análise da linguagem”, escreve Margarida Nichele Paulo em seu Compêndio de Filosofia Clínica (2001). E, simultaneamente, reafirma alguns de seus pressupostos metodológicos: os termos equívocos, o significado, a atualização de dados, dentre alguns submodos. Serve, minimamente, para evidenciar, também, a singularidade de uma língua, como a portuguesa, e a autogenia, enquanto mudança, movimento. “Wittgenstein ensina que o sentido e o direcionamento das palavras usadas para construir um discurso pessoal tem a ver com determinada realidade, como esta  foi se estruturando ao longo da vida, e inclusive suas possibilidades de mudança.”, confirma Hélio Strassburger em   Filosofia Clínica: anotações e reflexões de um consultório. (2021) Houve um tempo em que a expressão “preço de banana” equivalia a barato, sem

Livro dos Dias*

  “...a recordação de certa imagem não é senão saudade de certo instante...”                                                   Marcel Proust O que resta desses dias, do ano que se extingue, como se simplesmente pudéssemos abrir mão da memória e deixar que o esquecimento decrete o fim? O que ainda existe para terminar, ainda é uma música a tocar, um dia mais, só mais alguns minutos para ir ao próximo ano. De ir acima no voo mais distante, depois voltar lá do alto para as profundezas, num mergulho de resgate, de captar o que de bom está no que já está para acabar, jogar tudo dentro da alma, depois voltar do fundo, na bagagem o peso, a leveza no voo para novamente subir ao próximo dia. A noite será testemunha, o tempo ficou um pouco nebuloso, logo o sol voltará a brilhar, e voar ao desconhecido foi o que mais se fez durante esse tempo todo, entre sonhos, a viagem é poder sentir o som de tudo, do silêncio, o canto do pássaro que acorda junto do corpo que continua emergindo das água

Resenha Crítica*

"Pérolas Imperfeitas – Apontamentos sobre as lógicas do improvável ".  Ed. Sulina. Porto Alegre/RS. 2012, 142 p.   Num estilo que dança por entre “a ilusão da realidade e a realidade da ilusão” o professor e filósofo clínico Hélio Strassburger compartilha com seus leitores suas experiências, vivências e desavenças em seu caminhar como filósofo clínico. Como um passeio pelos recônditos espaços da mente humana o autor nos presenteia com 28 pérolas que ainda imperfeitas na medida em que se constroem na busca pelo direito de serem únicas, singulares e livres das tipologias e semelhanças que mergulham o filósofo clínico num “sobrevoo que não aterrissa”. O livro nos conduz pelos labirintos da relação entre o filósofo clínico e seu partilhante onde a interseção clínica ganha a forma de sentido para o partilhante à medida que seus ainda não traduzidos e interditados conteúdos ganham vida para o filósofo clínico. O livro vai ao longo do caminho desvelando, através de seus apon

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