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Mostrando postagens de março, 2023

Anotações e percepções de um Filósofo Clínico*

A escrita não é mero meio de exposição de ideias. Para isso, o chatgpt e qualquer outra forma de inteligência artificial dá conta. Mas, escrever é o desdobrar do próprio pensamento, é o acontecer da reflexão. Tomemos a poesia e a filosofia. Um poeta não relata mera experiência comum a todos nós. Seu poema expressa sua experiência vivida na pele ou na imaginação.   Um filósofo descreve seu esforço para tornar comunicável experiências densas e profundas do ser, do real. Nem sempre é fácil fazer ver aquilo que muitos olham e não enxergam. Tal é a razão da necessidade do esforço do leitor – algo recompensado ricamente com o posterior entendimento.  Por exemplo, o leitor pode conhecer todas as teses de Platão lendo os manuais e comentadores. Mas, terá perdido os caminhos de condução do pensamento do fundador da Academia se não tiver lido sua obra. Enfim, o meu e o seu pensamento é mais do que a inteligência artificial é capaz de oferecer. Se ela pode substituir nossa reflexão talvez seja po

Apontamentos de lógica superlativa***

Existe um mundo exageradamente singular. O lugar constitui-se de eventos descritos num vocabulário de exuberâncias. Uma estrutura onde tudo se agiganta diante das expressões de êxtase. Sua sobrevida se alimenta de anúncios nos eventos realçados. Seu teor fantástico traduz rumores de imensidão. Seu ser extraordinário transborda numa perspectiva exaltada.   Nas entrelinhas do discurso bem ajustado, essa lógica dos excessos busca emancipar-se. Um devir assim aprecia o refúgio numa dialética dos sobressaltos. Ao sujeito constituído nalguma esteticidade, não é raro seu meio prescrever tipologias. Ao surgir em intensidade máxima, contrapõe-se à rotina mediana. Seu dizer superlativo emancipa o cotidiano para engendrar sonhos. Os relatos dessa linguagem sugerem um brilho incomparável ao seu autor. Desdobrando-se para além dos territórios reconhecidos, modificam o lugar-espaço-tempo ao seu redor. Uma fonte inesgotável de paixões renova suas armadilhas existenciais. Assim, caminhar pelas c

El viajero de los mañanas***

“El filósofo es una de las formas en que se manifiesta el taller de la naturaleza: El filósofo y el artista hablan de los secretos de la actividad de la naturaleza”.     Friedrich Nietzsche       El espíritu aventurero inadecuado para la cristalización del conocimiento, se rehace en las escaramuzas de un territorio movido por el movimiento. Su sesgo de intimidad precursora se alimenta de las calles, carreteras, suburbios inmerecidos. Es inusual que se puedan compartir fácilmente estos eventos antes del enlucido conceptual. La irregularidad narrativa como propósito sin propósito adquiere casi poesía, para intentar decir algo sobre hechos irreconciliables desde la perspectiva de límites bien definidos. Esta lógica de singularidades fluctuantes se aplica a cosas irreconocibles en el vocabulario conocido. Su desprecio por las fronteras, objetivado por acuerdos y leyes, es capaz de anticipar mañanas en el ahora irrefutable. En un carácter de existencia marginal entre lo cotidiano y el e

Vida Invisível*

"Em todo lugar que passo lembro de você nessa cidade" (poeta anônima colando fragmentos pela cidade de Porto Alegre)   Em todo lugar que vou lembro das ruas entre as pernas, movente, uma estrada sem fim, um prédio vindo abaixo, uma explosão diante do sonho sendo abafado por pedras, soterrado, o corpo arde. As pernas ilesas, as mãos entre as coxas, e se masturbar no escuro do medo, diante da lua que escondeu o último desejo, morrer lutando. Sem poder partir, sonhando com águas abertas, o som das sirenes, nem deus existe diante do desconhecido, uma força que mete medo no poder, uma filosofia da natureza, ímpeto do improviso, do cantar e do movimento, o que move esse corpo, a tatuagem que olha, um mergulhar sem volta e o hálito das plantas se confundem, mergulho no vinho, busca dos olhos, e o corpo entre os escombros, um beijo antes do último copo, a morte é breve, o sonho é eterno, a linguagem movente do amor deixou de respirar, se masturbando até perder os sentidos.

Filosofia Clínica é método**

  Hans-Georg Gadamer, filósofo alemão (1900-2002), em sua obra “Verdade e Método” nos aponta um marco para a procura da verdade e como o método é determinante nessa busca, aludindo que a hermenêutica* não se reduz a uma ciência, mas é uma condição da existência, i. é, a compreensão e a interpretação do mundo fazem parte da experiência humana. Aí se insere a filosofia: não filosofamos porque temos posse da verdade, mas justamente porque ela nos falta. Nesse livro, o autor defende a tese de que a consciência é modelada histórica e culturalmente e que o sujeito é parte do processo efetivo da história, inserido numa cultura e num tempo específicos. Tendo a história como “pano de fundo” e como o “grande palco” da ação humana, o sujeito é parte efetiva dela. A essência da história não consiste na investigação do passado, e sim na mediação do pensamento com a vida atual. A investigação se dá no presente, influenciada pelas circunstâncias da atualidade. Considerando isso é que o sujeito fa

Revista da Casa da Filosofia Clínica Outono 2023 - Ed. 04

  Revista da Casa da Filosofia Clínica Outono 2023 CLIQUE PARA LER A edição de outono da revista da Casa da Filosofia Clínica se propõe à análise e partilha de algumas percepções sobre os dias de hoje. Nesses tempos de avalanche vertiginosa de informação e desinformação, é importante situar quem é quem no universo do novo paradigma. Uma excelente leitura e releitura para você!  CLIQUE PARA LER

As Palavras*

Ainda sou das antigas. Gosto das palavras. Símbolos e sinais Que nos relacionam, Que trazem imagens, Tocam corpo e alma, Fazem pensar e refletir, Questionar e duvidar. Verbos em ação, Subjetivos a me expressar, Adjetivos conferindo atributos, Toda gramática da vida Expressa em letrinhas. Magia criada pela inteligência, Tributo dos humanos. Que me fazem entender O que não vejo. Só desprezo a tagarelice, Que prende a alma, Cria ilusões, Acende vaidades, Traz dor e sofrimento. Cansei dos excessos, Das palavras inúteis, Do blá, blá, blá Repetitivo. Admiro a profundidade A criatividade Os livros densos Os poemas intensos Os cânones Talvez pelos cabelos brancos Ou pelo correr do tempo Em seu valor Amo as palavras Em rima ou verso Tudo tão diverso. Pode me faltar tudo, Menos os livros, Eternos amigos.   *Dra. Rosângela Rossi Psicoterapeuta. Escritora. Palestrante. Comunicadora. Filósofa Clínica. Livre Pensadora.

Oh beleza! Onde está a tua verdade ?*

Mulheres anorgásmicas não conseguem desligar suas mentes da imagem do corpo perfeito, capaz de seduzir, conquistar e prender o amor de um homem.  Escondida em conceitos de superficialidade, escondida em complexos de inferioridade, escondida em contextos de intelectualidade, escondida em buscas pela espiritualidade, escondida em aparentes estados de autossuficiência, conformidade e integralidade. A beleza que nunca é enxergada em sua essência, muitas vezes é encontrada na visão de mundo de cada um de acordo com o que é conveniente ou desejável apenas. Padrões e estereótipos são produzidos aos quilos diariamente aprisionando o ser humano, formatando seus níveis de desejo e aniquilando veementemente todo seu potencial de entrega em uma relação à dois que deveria ser vivida de forma saudável e desprendida de conceitos. Mulheres anorgásmicas por não conseguirem desligar suas mentes da imagem do corpo perfeito e capaz de seduzir, conquistar e prender o amor de um homem. Frígidas em prime

Ler e escrever como terapia*

Os caminhos para se chegar a uma melhor condição de bem-estar subjetivo são tão diversos quantos são os indivíduos. Para alguns, conversar semanalmente com o terapeuta é o melhor dos caminhos. Para outros, a alma sorri mesmo é com uma boa conversa jogada fora junto daqueles amigos sinceros que dizem coisas bonitas com a mesma naturalidade com que convidam a refletir sobre as falhas e fissuras no seu jeito de ser e existir. Tão bem faz, igualmente, para algumas pessoas, a prática da fé e da espiritualidade, ou da solidão momentânea, para ficar de encontro com seus próprios pensamentos, com seus próprios sentimentos.  A lista é infindável: brincar com os netinhos, tomar chimarrão na praça, paquerar ao pôr do sol, cozinhar para o amor da sua vida, cuidar de plantas e jardins… tudo isso faz bem, gera prazer e satisfação em viver, para muitas pessoas. Para um sem-número de sujeitos, porém, existe um método que historicamente se estabeleceu como charmoso para retratar das dores e alegrias

O estrangeiro*

Não suportamos os que são diferentes de nós porque têm a pele de cor diferente, falam uma língua que não compreendemos, porque comem rãs, macacos, porcos, alho, porque se fazem assim tão diferentes. Na vida, estamos sempre expostos ao trauma da diferença. Algumas vezes na existência, nos deparamos com situações que nos remetem ao olho do furacão, que nos deixam alienados de nossos quereres. Vamos vivendo nossa vida em compasso de espera, numa inércia de sentimentos, à mercê dos acontecimentos, onde o vazio afetivo se torna cotidiano. Habitamos nossa redoma de vidro, sem disposição ou coragem para correr riscos. Essa atitude de inércia desestabiliza nossas defesas, que foram construídas a ferro e fogo. Então, para desafiar nossos paradigmas, surge o estrangeiro, levantando simultaneamente o véu de nossa esperança e de nosso medo. Mas afinal, quem é esse estrangeiro? Consideramos estrangeiro, aquele indivíduo estranho a nós, não familiar, que nos instiga a reações incômodas com sua

Facebook, desista!!!*

Estou fora de qualquer linha de algoritmo!!!   Nada do que aparece no feed me representa, sequer minimamente!!!!   A "inteligência" inventada pela lógica de rede, não foi capaz de me subjetivar! O algoritmo fica tonto comigo, rs... Faz surgir no feed coisinhas mimosas, depois trevosas, depois sobre a palhaçada maniqueísta do binarismo politiqueiro, depois dos gênios malditos, coisas zen, do astral, terapias, mpbosta... Rsrsrsr... E não passa absolutamente nada de que eu real ou minimamente aprecie! Rs...   Quase nada que compartilho está ali pronto flutuando no F azul, no pseudo mestre Google dos preguiçosos, ou na bandalheira YouTubeana!!! Eu encontro imagens, matérias, e afins, em sites que respeito, uso das minhas próprias, monto as publicações unindo esses elementos da maneira que bem entendo e voilá...   Meu scrapbook, meu álbum de família do séc XXI, meu site pessoal x profissional ambíguo, meio blasé e nonsense, empinhado de meus diferentes ofícios e sua bagunç

Algumas considerações sobre terapias***

  A revista SUPERINTERESSANTE, edição 254, trouxe como matéria de capa: Terapia Funciona? Dei um longo depoimento, depois troquei alguns e-mails com a jornalista responsável pela matéria, onde aparece uma citação minha e algumas linhas esperançosas sobre o meu trabalho. Segundo a jornalista Denize Guedes, que assina a matéria, as neuroimagens de pesquisas, como a realizada na Universidade de Leeds, Inglaterra, apontam para um parecer: talvez “a psicoterapia não funcione pelo motivo que os terapeutas apontam”. O que faria com que a psicoterapia funcionasse na opinião de muitos especialistas é o efeito placebo, a convicção da pessoa de estar sendo auxiliada, da sugestão, da vontade da pessoa em sair do conflito. Existe algum endereçamento na Filosofia Clínica sobre isso? Primeiro, algumas vezes a psicoterapia funciona pelos motivos nomeados pelos terapeutas. Exemplo: às vezes impulsos reprimidos, o trabalho direto com os conflitos, a identificação de crenças entortadas faz com qu

Preço de banana e o que a Filosofia Clínica tem a ver com isso***

Primeiramente, reforça um de seus pressupostos teóricos mais basilares: a analítica da linguagem que “Acredita que os problemas filosóficos possam e devam ser resolvidos por meio de uma análise da linguagem”, escreve Margarida Nichele Paulo em seu Compêndio de Filosofia Clínica (2001). E, simultaneamente, reafirma alguns de seus pressupostos metodológicos: os termos equívocos, o significado, a atualização de dados, dentre alguns submodos. Serve, minimamente, para evidenciar, também, a singularidade de uma língua, como a portuguesa, e a autogenia, enquanto mudança, movimento. “Wittgenstein ensina que o sentido e o direcionamento das palavras usadas para construir um discurso pessoal tem a ver com determinada realidade, como esta foi se estruturando ao longo da vida, e inclusive suas possibilidades de mudança.”, confirma Hélio Strassburger em Filosofia Clínica: anotações e reflexões de um consultório. (2021) Houve um tempo em que a expressão “preço de banana” equivalia a barato, sem

Velho, eu? *

  Velho, não. Entardecido, talvez Antigo, sim Me tornei antigo Porque a vida, Tantas vezes, se demorou. E eu a esperei Como um rio aguarda a cheia Mia Couto   Envelhecer faz parte da vida, é um processo de mudança pelo qual todos os seres passam. Vemos o envelhecimento em quase tudo ao nosso redor. Cães e gatos em nossas casas, pássaros no céu, peixes no mar, árvores nas florestas, conhecidos em asilos e nós mesmos em frente ao espelho do banheiro. Esta pessoa que enxergo no espelho, de cara lavada e sem nenhuma maquiagem é a pessoa com quem me deito todas as noites. E gosto dela cada vez mais.   Alguns levam a idade demasiado a sério e utilizam as rugas e os cabelos grisalhos como esconderijo para se paralisarem em suas memórias e queixas. Comigo não é assim, ainda sou um menino que já viveu setenta anos ou mais.   O numero que aparece no documento de identidade reflete a idade do corpo, não da alma. Nem do conhecimento, sequer dos sonhos, tampouco das emoções

A palavra conjectura*

  Um pouco antes das novas conjugações existenciais, existe um período onde se rascunham estimativas, elencam suposições, roteirizam probabilidades. Nesse espaço de ensaio, insegurança, dúvida, desenvolve-se uma poética da insuficiência, por onde as incompletudes perseguem ânimos de experimentação. Assim permite a aproximação com um lugar estranho, de onde nascem categorias, verdades, suspeitas. Sua essência, de querer ser, aponta uma região inexplorada para si mesma. Talvez seu maior desafio, seja superar a incompreensão da pluralidade diante do olhar, os agendamentos, as repercussões no mundo dos outros. Esse procedimento reivindica uma disposição do sujeito para extrapolar seus limites existenciais. Aqui os sobrevoos podem ser insuficientes. É necessário um mergulho atento, circunstanciado, pelas possibilidades do ser singular. A frequência devaneio, ao surpreender-se por algum ideal de natureza intuitiva, dependendo da estrutura de pensamento onde atua, pode emancipar e confi

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