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Mostrando postagens de novembro, 2022

Escritura sub-versão*

A escritura aparece como um fenômeno incapaz de aprisionamento. Seu estorvo fundamental consiste na contradição ao discurso socialmente bem ajustado. Sua busca de ser um processo criativo recheado de novas imagens, mensagens, desvãos, aprecia desconstruir caminhos de pretensão definitiva. A partir de si mesma inaugura estilos, idioletos, compartilha estéticas a deslizar epistemologias. Seu não ser reivindica um mundo no esboço de ser original. O discurso alienado é ensinado desde cedo nas escolas da infância existencial. A expressividade que anunciaria o sujeito singular costuma ser diagnosticada, internada, exilada de sua melhor condição. Os desvios assim são tratados a golpes de farmácia, propõem a normalização alienista. A sub-versão dos códigos reconhecidos aprecia a polissemia de um dia qualquer. Sei viés simbólico convida a vislumbrar e refletir sobre as tentativas de mordaça à obra escritura. Seu aspecto fora de si descreve um território inexplorado. Uma trama significat

Como eu te pago isso? ***

Uma das orientações para a prática em consultório, ao conduzir sessões em Filosofia Clínica, é a retomada da narrativa com que o partilhante encerrou a clínica anterior. Na edição de outono desta revista, o artigo Preço de banana e o que a filosofia clínica tem a ver com isso encerrou com um assunto retomado aqui, começando com um roteirizar, submodo que Caruzo esclarece: " O roteirizar é utilizado pelo filósofo para ensinar algo, provocar reforço ou desconstrução, modificar uma verdade pessoal etc. E isso é feito ao narrar uma história (...)." (Caruzo, 2021, p.156 ). O homem entrou pelo portão, caminhou até a varanda, sentou-se e mostrou um pedaço de papel. Já era aguardado, pois havia sido encaminhado pela diretora. "Como eu te pago isso?", pergunta ouvida, após a tradução de um pequeno parágrafo, feita rapidamente, sem consulta ao dicionário. Num átimo, após recobrar-se do susto, a resposta imediata: em dinheiro. Não se tratava de um texto sofisticado que d

O que é a Filosofia Clínica?***

A resposta geralmente adotada pelos filósofos clínicos é: “a Filosofia Clínica é a filosofia acadêmica aplicada à terapia”. Esta resposta é boa. E não é. É uma boa resposta porque é exatamente isso que a Filosofia Clínica faz: aplica a filosofia da tradição ocidental, a filosofia acadêmica, à terapia. Por outro lado, é uma resposta abrangente demais. Afinal, o conjunto da “filosofia acadêmica” tem uma quantidade muito grande de elementos, que podem ser tão diferentes entre si quanto podem ser diferentes variadas espécies de, digamos, frutas. Por essa razão, a afirmação de que “a Filosofia Clínica é a filosofia acadêmica aplicada à terapia” é inútil. Aos olhos do leigo – e mesmo de muitos estudiosos – a filosofia é um emaranhado de teorias contraditórias, quando não bizarras; parece que qualquer coisa pode ser filosofia, e que filosofia pode ser qualquer coisa. Mas isso não é verdade. A filosofia tem um fio condutor muito claro. Para explicar isso, vou fazer uma analogia com a

Herói [1] *

A figura do herói como aquele que passa por dificuldades e, através de força interna e externa, persistência, coragem e determinação vence seus obstáculos serve hoje de motivação para empreitadas pessoais. E este herói, diz-nos a sociedade e o conceito de resiliência (devidamente mal aplicado, diga-se de passagem), está no nosso lado, no dia a dia, naquele ou naquela que luta diariamente pelo sucesso no jogo da vida. É, como em Homero, um herói solitário e individual, mas também é como em Hesíodo, um herói que dá conta não de ações guerreiras em favor de uma pátria, mas de ações mundanas que dignificam sua luta e dão valor à sua vida de trabalhador. Partindo desse pressuposto moderno de herói é que o senso comum, aqui entendido como o modo de ser de pensamento cotidiano (Márcia Tiburi, Filosofia Prática – ética vida cotidiana e vida virtual) divulga essas atitudes, posturas e condutas éticas como modelo de virtude. Assim até os participantes do Big Brother tornam-se heróis frente a

Resenha Crítica*

"Pérolas Imperfeitas – Apontamentos sobre as lógicas do improvável" Ed. Sulina. Porto Alegre/RS. 2012, 142 p. Num estilo que dança por entre “a ilusão da realidade e a realidade da ilusão” o professor e filósofo clínico Hélio Strassburger compartilha com seus leitores suas experiências, vivências e desavenças em seu caminhar como filósofo clínico. Como um passeio pelos recônditos espaços da mente humana o autor nos presenteia com 28 pérolas que ainda imperfeitas na medida em que se constroem na busca pelo direito de serem únicas, singulares e livres das tipologias e semelhanças que mergulham o filósofo clínico num “sobrevoo que não aterrissa”. O livro nos conduz pelos labirintos da relação entre o filósofo clínico e seu partilhante onde a interseção clínica ganha a forma de sentido para o partilhante à medida que seus ainda não traduzidos e interditados conteúdos ganham vida para o filósofo clínico. O livro vai ao longo do caminho desvelando, através de seus apontamen

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