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Mostrando postagens de agosto, 2018

A palavra mágica*

“Vive a tua hora como se gravasses o teu nome na epiderme de um tronco novo. Mas não voltes mais tarde para junto dessa árvore, porque podes não reconhecer o teu nome nas cicatrizes das velhas letras.”                                 Felippe D’Oliveira Sua tez de singularidade maldita refere uma simbologia em viés de encantamento. Na veemência discursiva compartilha uma fatia generosa de paraíso. O sagrado_profano esboça uma íntima convivência com a reciprocidade. Os significados apreciam aliar-se aos papéis existenciais de travessia. Assim o feitiço da palavra como medicamento aprecia as estruturas mutantes envolvidas na interseção.   Ao sugerir a cidade das maravilhas, é possível um novo entendimento e relação com o universo interior. Sua fonte de inspiração, muitas vezes, se faz menção em dialetos de esquiva. A magia, um pouco antes de ser representação traduzível, aprecia transbordar nalguma forma de excesso. Uma fenomenologia em aromas de dama da noite aponta o

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) a relação entre as coisas e meu corpo é decididamente singular: é ela a responsável de que, às vezes, eu permaneça na aparência, e outras, atinja as próprias coisas; ela produz o zumbir das aparências, é ainda ela quem o emudece e me lança em pleno mundo" "A Filosofia não é ciência, porque a ciência acredita poder sobrevoar seu objeto, tendo por adquirida a correlação do saber e do ser, ao passo que a Filosofia é o conjunto das questões onde aquele que questiona é, ele próprio, posto em causa pela questão" "(...) este mundo que não sou eu, e ao qual me apego tão intensamente como a mim mesmo, não passa, em certo sentido, do prolongamento de meu corpo; tenho razões para dizer que eu sou o mundo" "Aparentemente, essa maneira de introduzir o outro como incógnita é a única que considera sua alteridade e a explica" "A filosofia não propõe questões e não traz as respostas que preencheriam paulatinamente as lacunas. As q

O coração e a poesia*

Claro Poesia vadia Você saiu ilesa Não caiu na cilada Nem na tocaia Que o amor Preparava... Ah, claro Poesia vadia Você apenas brincava Com as letrinhas Com as palavrinhas Tardia, poesia vadia Da letra tão fria Que em mim ardia Mas você sabia E a tudo permitia. Claro Companheira amada Poesia vadia Minh'alma gêmea Sem alma Você sabia Muito bem Que o coração É que era meu.... *José Mayer Filósofo. Livreiro. Poeta. Filósofo Clínico. Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Tudo o que possamos ter aprendido com a leitura dos clássicos agora nos é necessário para julgar a obra de nossos contemporâneos, pois, enquanto houver vida neles, estarão lançando suas redes em algum abismo desconhecido para capturar novas formas, e teremos de lançar nossa imaginação em seu encalço, se quisermos aceitar e entender os singulares presentes que nos trazem de volta (...)" "É, de fato, uma atmosfera não só fina e suave, mas também rica, com mais do que conseguimos captar numa só leitura (...) se por fim fecho o livro, é apenas porque minha mente estava saciada, e não o tesouro esgotado" "A escuridão não só tem o poder de extinguir a luz, mas também sepulta em si uma grande parte do espírito humano" "(...) quanto a saber do que tratava - talvez os grandes escritores nunca saibam. Talvez seja por isso que as épocas posteriores encontram o que procuram" "Quem vem depois aprimora o trabalho dos pioneiros"

O que é a filosofia clínica*

A Filosofia Clínica, em uma nova abordagem terapêutica, é a filosofia acadêmica adaptada à prática clínica, à terapia. Não trabalha com critérios médicos, com remédios ou com tipologias na construção de uma proposta terapêutica cujo objeto é buscar o bem-estar do ser humano. O instrumental da Filosofia Clínica divide-se em três partes: os Exames Categoriais, a Estrutura de Pensamento e os Submodos. Nos Exames Categoriais, primeiro momento da clínica, através da historicidade, o filósofo clínico situa existencialmente a pessoa colhendo todas as informações de sua vida, desde as suas recordações mais remotas, até as informações de suas vivências mais atuais. O material colhido, na história da pessoa atendida – que em Filosofia Clínica é chamada de partilhante, justamente pela condição de ser alguém com quem o filósofo compartilha momentos da existência -, é a base para o desenvolvimento do processo terapêutico. A partir desses dados, num segundo momento, são verificados o

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Não é também no devaneio que o homem se mostra mais fiel a si mesmo?" "Um apetite de vida aumenta com o ardor das palavras. O poeta já não descreve - exalta. É preciso compreendê-lo seguindo o dinamismo de sua exaltação. Entra-se então no mundo admirando-o. O mundo é constituído pelo conjunto das nossas admirações. E sempre vamos reencontrar a máxima da nossa crítica admirativa dos poetas: Admira primeiro, depois compreenderás" "(...) o mundo vem respirar em mim, eu participo da boa respiração do mundo, estou mergulhado num mundo que respira" "As cosmogonias antigas não organizam pensamentos, são audácias de devaneios, e para devolver-lhes a vida é necessário reaprender a sonhar" "Quando um sonhador de devaneios afastou todas as preocupações que atravancam a vida cotidiana, quando se apartou da inquietação que lhe advém da inquietação alheia, quando é realmente o autor da sua solidão, quando, enfim, pode contemplar, sem

"A voz e o verbo" (duelo)*

Caso não mais... Recolha os destroços no vão do tempo num longo brado Caso já há muito a tarde evapore das poças e hiatos de pedra a gramínea de zinco acolhe uma rosa e o tempo despenca do azul de um dia lindo. Caso brote ao ser fitada a flor de cerejeira minhas mãos, ora asas, retocam seu róseo suave lembrando do conto uma outra vez... Caso viver exija poema, concha e grude era em seu colo que a paz me despertava como uma artista entende que a infância são sons, um brinquedo vermelho translúcido insiste nos vãos E sua poesia invoca velhos recomeços Todavia Caso tenha de ser soletude que a pétala cole e se expanda prendendo o coração aqui bem perto e que algo precipite ou voe: desejos, chãos, vazios... E a realidade se farte do instante, tornando a ser superfície sob velhas teias de água e ferro Caso seja perene o porvir que tudo se refaça ao último crepúsculo. E algo se retifique além das luzes do ainda recente castelo que

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Suponho que haja tantos credos, tantas religiões, quantos são os poetas" "Volto àquela tarde sul-americana já antiga e vejo meu pai. E o vejo nesse momento; e ouço sua voz dizendo palavras que eu não compreendia, e no entanto sentia" "Quando penso em amigos meus tão caros como Dom Quixote, o Sr. Pickwick, o Sr. Sherlock Holmes, o Dr. Watson, Huckleberry Finn, Peer Gynt, etc. (não estou certo se tenho muito mais amigos)" "Há versos, é claro, que são belos e sem sentido. Porém ainda assim têm um sentido - não para a razão, mas para a imaginação" "Suspeitei muitas vezes que o sentido é, na verdade, algo acrescentado ao verso. Tenho plena convicção de que sentimos a beleza de um poema antes mesmo de começarmos a pensar num sentido"  "(...) imagino que uma nação desenvolve as palavras de que necessita" "(...) uma língua não é, como somos levados a supor pelo dicionário, a invenção de acadêmicos ou

Descrituras*

“(...) Deram-me esta bela gravata... como um presente de desaniversário! (...) o que é um presente de desaniversário ? – Um presente oferecido quando não é seu aniversário, naturalmente.”                                                                                               Lewis Carroll Uma redação se faz página cotidiana na vida de qualquer pessoa, quer ela entenda ou não. Algo que restaria esquecido, não fora a ousadia semiótica a tentar decifrar essa trama de códigos imperfeitos. Por esse esboço a lógica descritura se incompleta para prosseguir inconclusa, aberta, viva. Nem sempre se escolhe escrever, muitas vezes são as palavras a escolher você para dizer suas coisas. Conteúdos de rascunho, ilação, percepção extemporânea de ideias, reflexão. Aproximações com a zona interdita das margens de cada um. O tempo aprecia conceder eficácia de tradução aos traços persistentes. O sujeito prisioneiro dessa armadilha conceitual experimenta liberdades nem sempre possí

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"O mundo sensível é mais antigo que o universo do pensamento. A criança percebe antes de pensar. Aprendemos a manejar a linguagem muito antes de conhecer as leis que a regem" "O presente se alimenta do ausente, bojo em que dormem as possibilidades" "Os olhos desaprenderam a ver além do vazio o que nunca perceberam" "Crises sucessivas, que irrompem de tempos em tempos desde o gótico medieval abalam profundamente o alicerce das certezas" "A linguagem poética não é perfeita. Origina-se da imperfeição, da fratura, d corte (...)" "O significado é produto da arquitetura do poema. Grafé liberta as palavras das acepções às quais o sistema as agrilhoou, tornando-as originalmente significativas em novo espaço" "Todos os achados tendem a transformar-se em convenções. Enrijecem, petrificam-se. A liberdade deve ser continuamente proclamada. É um processo, não é um estado" "A relação grafia-

Cadernos da Primavera II*

“Aquele que escolhe vê-se livre em sua escolha. Ele pode até mesmo arrepender-se dela e ele demonstra de todas as maneiras que ele assume sobre os ombros os seus próprios atos.”                                                                          Hans-Georg Gadamer A razão ocidental de tradição aristotélica e kantiana teve um grande revés ao longo da modernidade no século XX e no que se inicia, no século XXI; e, hoje, demonstra sua força contra aquilo que ela mesmo criou e cuidou com zelo quase moral, a saber, endureceu sua lógica em nome da unidade, destruiu os argumentos que se voltavam contra o silogismo. O que vemos já um bom tempo desde o tiro certeiro no método e na razão é o raciocínio anapodítico como hábito no cotidiano beirando a legitimar a razão de “cachorro louco”, já dizia um amigo meu analítico, um ex-amigo por conta da razão absoluta dele. Como a razão nunca teve um dono, como ela nunca foi uma casa que se entra, se mobília, se dá nome às coisas co

Esconderijos do tempo*

Os poemas são pássaros que chegam não se sabe de onde e pousam no livro que lês. Quando fechas o livro eles alçam voo como de um alçapão. Eles não tem pouso nem porto alimentam-se um instante em cada par de mãos e partem E olhas, então, essas tuas mãos vazias, no maravilhoso espanto de saberes que o alimento deles já estava em ti... *Mário Quintana in Rua dos cataventos e outros poemas. Ed. L&PM Pocket. Porto Alegre/RS.

Flores e Borboletas*

Apesar das sombras Para além das dores Com chuvas e tempestades Acendem a alma Transformam magicamente Oque sinto e vejo Pura representação Minha, sua, nossa.... Flores e borboletas Nascem e morrem Nem por isto deixam De ser belas Cumprem sua missão Encantam a vida Dançam no silêncio Em movimento celebram No tempo de florecer Florescem No tempo voar Borboleteiam Fadas com bastão A tocar estrelas No chão da terra A desenhar sonhos Essência sublime Filhas de Afrodite Perfume imprimem Na vastidão de mim Promovem inspiração Na arte poética do coração Razão solta no espaço Basta parar e sentir *Dra Rosângela Rossi rosangelarossi.com/blog Psicoterapeuta. Escritora. Filósofa Clínica. Livre Pensadora. Juiz de Fora/MG

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Na Filosofia não temos todas as peças. O universo ainda está em curso, a História não terminou. Muitas coisas, que nem sabemos quais são, estão por vir" "(...) como a História e a Evolução não terminaram, a imagem que aparece no mosaico, embora global, sempre conterá grandes lacunas" "Movimento é sempre a passagem do ser para o não-ser, ou seja, o perecer. Ou então, a passagem do não-ser para o ser, isto é, o nascer" "O erro que cometeu, visível para todos, é não ter levado igualmente a sério o momento da diversidade e do movimento. Ele não conseguiu pensar o não-ser como algo que de certo modo é. Parmênides tem o Todo e o Uno, falta-lhe o movimento que em tudo flui. Falta Heráclito" "(...) o movimento que, sem jamais cessar, sempre de novo começa. Não há começo e não há fim, nisso Heráclito concorda com Parmênides, mas não porque não exista movimento, e sim porque tudo está sempre em constante transformação" &

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"O instituinte, aquilo que periodicamente (re)nasce, nunca está em perfeita adequação com o instituído, com as instituições, sejam elas quais forem, que sempre são algo mortíferas" "(...) admirável fórmula de Fernando Pessoa: ' Uns governam o mundo, outros são o mundo'. São, sem dúvida, aqueles que são o mundo que nos interessam" "Para perceber a especificidade e a novidade de um fenômeno social, convém mais referir-se à vivência daqueles que são seus protagonistas de base, do que às teorias codificadas que indicam, a priori, o que esse fenômeno é ou deve ser" "É necessário superar as diversas compartimentações acadêmicas, e reconhecer que a filosofia, a sociologia, a psicologia, a história são parte integrante de uma percepção global de fenômenos que não podem ser analisados senão em suas interações complexas" "De um modo mais amplo, para que se tenha uma justa visão daquilo que é o outro, talvez seja necessário

A diferença e o encontro*

Encontros só acontecem em linhas tortas, pois linhas retas não se cruzam mesmo sendo curvas infinitas. Talvez seja por isso que a grande mãe tão comumente escreva certo por linhas tortas, sobretudo, devido ao fato de que qualquer coisa para fazer sentido precisa encontrar o seu próprio complemento presente numa descoberta. Assim, não é difícil compreender que não é mais possível cortar pela raiz palavras ou gestos que já tocaram e simplesmente nos comoveram. A verdade é que nos mistérios e encantos de cada encontro só é possível haver relação nas diferenças uma vez que o igual sempre será unidade. Musa! *Prof. Dr. Pablo Mendes Filósofo. Educador. Escritor. Filósofo Clínico. Uberlândia/MG

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"A rua continua, matando substantivos, transformando a significação dos termos, impondo aos dicionários as palavras que inventa, criando o calão que é o patrimônio clássico dos léxicons futuros" "(...) considerei a rua um ser vivo, tão poderoso que consegue modificar o homem insensivelmente e fazê-lo o seu perpétuo escravo delirante" "Mas, a quem não fará sonhar a rua ? A sua influência é fatal na palheta dos pintores, na alma dos poetas, no cérebro das multidões" "As ruas são tão humanas, vivem tanto e formam de tal maneira os seus habitantes, que há até ruas em conflito com outras" "As ruas tem os rolos, as casas mal-assombradas, e há até ruas possessas, com o diabo no corpo" "(...) são ruas da proximidade do mar, ruas viajadas, com a visão de outros horizontes" "Se as ruas são entes vivos, as ruas pensam, têm ideias, filosofia e religião. Há ruas inteiramente católicas, ruas protestantes, r

Prefácio***

Nas páginas a seguir, você terá alguns apontamentos e reflexões sobre a abordagem terapêutica da Filosofia Clínica. Uma introdução ao estudo da linguagem fora de si, seus desdobramentos, repercussões, impacto na vida das pessoas. A maioria calada, antes mesmo de articular sua singularidade em estado nascente. São esboços redigidos no intervalo dos atendimentos e viagens, distribuídos em pequenos textos. Tentam realizar uma aproximação descritiva entre o fazer clínico do Filósofo e a trama contida nos discursos de incompletude, desestruturação, equivocidades. São escritos com base nas intervenções clínicas dos últimos anos. Muitas delas com ações clandestinas em bairros e vilas de periferia, morros, vias marginais, hospícios desmerecidos. Busca transcrever percepções, compartilhar aprendizagens, descrever recantos do fenômeno humano. Se a obra puder instigar pesquisas, motivar mais ações de atenção e cuidado aos excluídos, sua partilha terá sido válida. Compreender o fenômen

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