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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*


"Não é também no devaneio que o homem se mostra mais fiel a si mesmo?"

"Um apetite de vida aumenta com o ardor das palavras. O poeta já não descreve - exalta. É preciso compreendê-lo seguindo o dinamismo de sua exaltação. Entra-se então no mundo admirando-o. O mundo é constituído pelo conjunto das nossas admirações. E sempre vamos reencontrar a máxima da nossa crítica admirativa dos poetas: Admira primeiro, depois compreenderás"

"(...) o mundo vem respirar em mim, eu participo da boa respiração do mundo, estou mergulhado num mundo que respira"

"As cosmogonias antigas não organizam pensamentos, são audácias de devaneios, e para devolver-lhes a vida é necessário reaprender a sonhar"

"Quando um sonhador de devaneios afastou todas as preocupações que atravancam a vida cotidiana, quando se apartou da inquietação que lhe advém da inquietação alheia, quando é realmente o autor da sua solidão, quando, enfim, pode contemplar, sem contar as horas, um belo aspecto do universo, sente, esse sonhador, um ser que se abre nele"

"Menciona Henri Michaux: 'Nenhuma necessidade de ópio. Tudo é droga para quem optou viver do outro lado'"

"E que vem a ser um belo poema senão uma loucura retocada? Um pouco de ordem poética imposta às imagens aberrantes? A manutenção de uma inteligente sobriedade no emprego - ainda assim intenso - das drogas imaginárias. Os devaneios, os loucos devaneios, conduzem a vida"

"O ser do sonhador invade aquilo que o toca, difuso no mundo. Graças às sombras, a região intermediária que separa o homem e o mundo é uma região plena, de uma plenitude de densidade ligeira. Essa região intermediária amortece a dialética do ser e não-ser"

"Habitando verdadeiramente todo o volume de seu espaço, o homem do devaneio está em toda parte no seu mundo, num dentro que não tem fora. Não é à toa que se costuma dizer que o sonhador está imerso no seu devaneio. O mundo já não está diante dele. O eu não se opõe mais ao mundo. No devaneio já não existe não-eu. No devaneio o não já tem função: tudo é acolhimento"

*Gaston Bachelard in "A poética do Devaneio. Ed. Martins Fontes. SP. 2001. 

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