Existem várias maneiras
de dizer a mesma coisa. Algumas chegam a ser um disparate de tão
incompreensíveis, mas se incorporam rapidamente ao linguajar popular, e,
teoricamente, não fazem mal a ninguém, a não ser a gramática portuguesa, “Foi
mal“ virou um pedido de desculpa, “valeu” agora é uma forma de agradecimento,
“vazar” quer dizer ir embora.
Mas nem tudo está
perdido, existem palavras que quando bem colocadas no lugar de outras, podem
salvar relacionamentos, contratos e até mesmo vidas. Ao invés de falarmos em
autoridade, fica mais elegante substituirmos por liderança. No lugar de
irritante, usaremos persistente. Trocar a condição de dramática por emotiva faz
toda a diferença. Fofoqueiro pode ser amenizado pela expressão bem informado.
Com base nesta proposta,
resolvi brincar e escrever um sentimento de 100 maneiras diferentes. Nem sempre
se consegue expressar com palavras aquilo que se pensa ou sente. Talvez meu
dicionário sentimental auxiliasse alguém em momento de desespero ou
desesperança. Quem sabe eu poderia dar voz aos corações e mentes emudecidos.
Por que não?
Procurei então uma das
expressões mais utilizadas na vida: “eu te amo”, e comecei a escrever
variações. Depois de algumas tentativas, fiquei confuso e confesso, mudei meu
entendimento. Dizer “eu te amo” não é tão simples assim.
Diariamente
cumprimentamos pessoas com um bom dia. Para outras, desejamos boa sorte. Tem
aquelas que abraçamos e dizemos obrigado, feliz natal, parabéns. São raras as
oportunidades que aproveitamos para olhar firme nos olhos do outro e falar “eu
te amo”. A declaração de amar, além de ser utilizada com menos freqüência do
que deveria, é uma das mais mal empregadas. Uma lástima este desperdício.
Não quero entrar na
definição do que é amor e de como ele se comporta ou manifesta, mas só existe
uma maneira de dizer “eu te amo”: EU TE AMO! Assim mesmo, com estas três
palavrinhas mágicas, nesta ordem. Indo direto ao ponto, sem rodeios. Ou você
ama ou não ama, todo o resto que for pronunciado são subterfúgios ou variações
sobre o mesmo tema. Não conheço forma mais eficaz de dizer que se ama.
Longe de ser uma
promessa de eternidade, o “eu te amo” é a expressão verbal de um sentimento.
Existe hora certa pra declarar o amor? Quem vai se arriscar a dizer primeiro? O
que responder quando escutar esta frase? Não se estresse pensando na resposta
mais adequada. As questões do amor são decididas pelo coração e não pelo
cérebro. Para sentir não é preciso pensar, aliás, pensar até atrapalha. O
coração nunca pensa, ele ama ou não ama.
Algumas pessoas
confundem amor com compromisso e se assustam. Se disserem o temível “eu te
amo”, a partir daquele momento, estarão assinando um contrato de exclusividade
que os obrigará a amar somente aquela pessoa e não olhar com desejo para mais
nenhuma outra pelo resto da vida. Por via das dúvidas, mesmo se tratando de um
amor sincero, calam-se. Outros se intimidam em falar porque tem receio de que
após declararem seu amor, correm o risco de ser ignorados ou rejeitados.
O amor, antes de tudo,
é um sentimento e, como tal, não espera reciprocidade. Se der vontade de dizer,
se fizer sentido, não esconda, não guarde isto só pra você. Demonstre com
sinceridade, ao vivo, falando com a boca, com os olhos e principalmente com o
coração. Sem medo das conseqüências. Se for correspondido, ótimo. Se não, faz
parte da vida.
Constrangedor é saber
que existem os “eu te amo” ditos só da boca pra fora. Pessoas falam “eu te amo”
sem amar, ou pior, acreditam que dizer “eu te amo” significa amar e vivem seu
amor no mundo das palavras e idéias. Não sentem o que falam. É como assistir um
filme dublado, o som que escutamos não tem nada a ver com o movimento da boca.
Não é genuíno, perde a graça.
Contrastando, existe
outro grupo de pessoas que demonstra seu amor com atitudes, no entanto, têm
dificuldades em dizer que amam. Ficam com as três palavrinhas trancadas na
garganta, amando de verdade, mas não conseguindo soltar o “eu te amo”. É um
filme mudo, faltam legendas. Não existe certo ou errado, mas poderia ser
diferente. Sentimento, palavras e atitudes em sintonia fina.
Amar não é só dizer
para o outro “eu te amo”. Amar não é apenas fazer para o outro sem que ele
perceba. Amar é amar. Simples assim. Pena que se desperdice tanto tempo e
energia buscando a perfeição em palavras, atitudes e pessoas.
*Dr. Ildo Meyer
Médico. Escritor.
Palestrante. Filósofo Clínico
Porto Alegre/RS
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