Surpreende-me a
voracidade com que algumas pessoas sentem necessidade de ter suas ideias e
opiniões aceitas e compartilhadas. O espaço para troca de ideias, contrapontos
e antíteses, para então gerar uma nova síntese, é reduzido a zero. Quando o
interlocutor tem o mesmo perfil, a situação se agrava: transforma-se em diálogo
surdo a conversa que podia ter sido prenhe de sentidos e pontos de chegada.
Surpreende-me ainda
mais quando, durante a discussão, surge a expressão: ‘você está errado’. Oras,
tão simples é entender que, em toda e qualquer situação, a julgar pelo íntimo e
historicidade de cada um, todos estão certos!
Gerar uma opinião e
posição sobre determinado fato nunca é aleatório, por mais que pareça, para
decepção daqueles que gostam de apontar a mídia como formadora de rebanhos.
Posicionar-se, mesmo que em cima do muro, exige, mesmo que inconscientemente,
uma justificativa.
Cada um é único, ímpar,
singular, em sua trajetória. Simpatias e antipatias são formadas a partir da
vivência. Preferir algo ou outra coisa ativa uma rede de memórias e lembranças,
relacionadas a acontecimentos, sensações e informações, no mundo interior de
cada um, que precisa ser respeitada, porque, invariavelmente, está certa. Ela
se justifica em si mesma.
Isso tudo vale, evidentemente,
para quem gosta de catalogar os acontecimentos da vida em certo e errado. Em
bom e mau. Em válido ou sem importância. Para quem prefere encarar todo
encontro, toda decisão, toda conquista, toda perda, enfim, todo acontecimento
cotidiano como uma oportunidade de aprendizado, um outro universo se abre: o da
escuta qualificada.
Na escuta qualificada
reside toda beleza da vida que se permite analisada, da intelectualidade a
serviço do bem-estar subjetivo.
Na escuta qualificada
reside o gatilho para o entendimento intuitivo, que não precisa ser explicado.
E então surge espaço
para que o ponto de equilíbrio seja buscado e atingido, a partir da verdade
construída no íntimo de cada um, compondo uma regra de três com o contexto e o
ponto onde se quer chegar.
Este é o momento em que
se revela um dos maiores segredos da interlocução, aquele onde tudo pode ser
dito, desde que da maneira educada, com a melhor das intenções, e sob medida
para o ser humano que esta à frente. Dizer ‘você tem razão’ ou ‘não é nada
disso’, sob este critério, tem sabor de liberdade e respeito.
Concorda? Ou melhor:
qual sua opinião?
*Sandra Veroneze
Jornalista, escritora,
filósofa clínica
São Paulo/SP
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