"Em todo lugar que passo
lembro de você nessa cidade"
(poeta anônima colando fragmentos
pela cidade de Porto Alegre)
Em todo lugar que vou lembro das
ruas entre as pernas, movente, uma estrada sem fim, um prédio vindo abaixo, uma
explosão diante do sonho sendo abafado por pedras, soterrado, o corpo arde.
As pernas ilesas, as mãos entre
as coxas, e se masturbar no escuro do medo, diante da lua que escondeu o último
desejo, morrer lutando. Sem poder partir, sonhando com águas abertas, o som das
sirenes, nem deus existe diante do desconhecido, uma força que mete medo no
poder, uma filosofia da natureza, ímpeto do improviso, do cantar e do
movimento, o que move esse corpo, a tatuagem que olha, um mergulhar sem volta e
o hálito das plantas se confundem, mergulho no vinho, busca dos olhos, e o
corpo entre os escombros, um beijo antes do último copo, a morte é breve, o
sonho é eterno, a linguagem movente do amor deixou de respirar, se masturbando
até perder os sentidos.
Os responsáveis por tudo, por
todos, os mesmos que se safam da tragédia, eles nunca sentirão esse medo nem o
gozo nem o desejo de querer se salvar, e olha lá, uma luz, as máquinas estão
por perto, e não será o amante que irá sobreviver, já está eternizado na ideia
de ir além, de migrar por oceanos, e seus pés presos entre as pedras, e
contínuos passos imóveis, seguirá sendo errante fugitivo da morte.
O som de uma voz, a canção entre
os lábios, um voo escondido entre as pernas unidas de gozo e rios de lágrimas,
de explosão de sirenes, e nada poderá salvar esse amor, essa luta contra a
infinitude da solidão das pedras. Uma cama navegando solitária no mar, uma fuga
providencial salvará a alma do único sobrevivente, nem eu nem ela, nem ninguém
saberá o paradeiro dos sonhos.
Assim o pensamento se torna
forte, um vulcão vindo do grito, do rio derramando os fluidos da juventude, um
caminho sem volta. Não existe mais saída, tantos dias, as buscas prosseguem, a
última viagem é não retornar para o mesmo lugar, perder os sentidos em outra
parte, respirar, abrir a boca, um beijo, um copo de d'água, o que sacia é que
faz bater forte, melhor acordar bem distante, longe de todos, dos sobreviventes
um único que não estará na lista, é ele, ela, bem distantes, um último olhar,
molhados entre as mãos, o suor da vida em uma língua desconhecida com gosto de
mar.
Se afastam, barcos, naves
perdidas no tempo, o amor ficará para outro abalo, outra força da natureza. Uma
música, a voz que dança sob o olhar das algas, dos sobreviventes, a dança na
imaginação, e tudo escurece, talvez noutra vida consiga falar a língua dos
deuses, chega de buscas, a noite descansa e abandona o medo no sonho dos
esquecidos. Ela some com as sirenes, um silêncio, o último gozo com gosto de
água e batimentos ficam mais distantes, talvez tenha aprendido a ficar
invisível diante da vida.
*Prof. Dr. Luis Antonio Gomes
Filósofo. Editor. Escritor. Poeta. Livre
Pensador.
Porto Alegre/RS
Comentários
Postar um comentário