Amigos, tenho observado um fenômeno curioso.
Cada vez mais encontro pessoas –
inclusive com nível acadêmico superior – que nitidamente querem expressar uma
idéia, ou discordar de uma tese, mas não contam com os instrumentos
lingüísticos necessários para isso: a sua capacidade de articulação, o seu
vocabulário, a sua sintaxe são tão brutos que elas permanecem no plano dos
grunhidos mais ou menos elaborados com que exprimem sensações, desejos e juízos
simples. Essas pessoas comunicam-se de modo confuso, o que revela a própria
confusão de seu mundo interior – isto é: revela uma inteligência ainda imatura.
A dificuldade de apresentar uma
idéia num discurso completo, que corresponde à dificuldade de pensar uma idéia
com clareza, deve-se à deficiência da cultura literário-poética: se não lemos
literatura, se não lemos poesia, não possuímos os meios para elevar o intelecto
acima do nível das exigências da vida social mais elementar – o trabalho, as
relações familiares, as conversas sobre o futebol, os assuntos do momento. E o
mais grave: como a extensão do vocabulário e a profundidade do conhecimento
gramatical determinam-nos o horizonte do pensamento, raramente percebemos o
grau da nossa insuficiência lingüística.
* * *
Qual é, então, o caminho para o
desenvolvimento da nossa capacidade de expressão – escrita ou falada?
O caminho, amigos, está na
ampliação do nosso universo literário, por meio da leitura dos clássicos – da
nossa língua e da literatura universal –, na escola e na vida adulta. Por meio
da leitura de bons livros aperfeiçoamos a capacidade de formular e expressar
idéias que façam sentido. A leitura de livros – de bons livros! – é a condição
necessária para a maturidade da inteligência.
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Natalia Pasternak e Carlos Orsi publicaram recentemente "Que Bobagem! Pseudociências e outros absurdos que não merecem ser levados a sério" (Ed. Contexto). O livro é interessante porque revela os lugares de pensamento de parte da academia - aquela que cresceu, nos anos 80 e 90, lendo a Superinteressante, e não avançou nas leituras sobre a ciência.
O modo como os autores utilizam
os termos-chave da obra - "ciência", "pseudociência",
"método científico" e "demarcação" - revela um pensamento
estacionado ali entre Comte, no século XIX, e o Popper dos anos 1930.
Toda a discussão sobre a natureza
da prática científica e de suas fronteiras nos últimos sessenta anos é
simplesmente ignorada: não há nem sombra das idéias lançadas por Kuhn, a partir
dos anos 60, e Feyerabend, a partir dos anos 70. Nem mesmo a polêmica de Sokal
e Bricmont - que reaqueceram as Science Wars com a publicação, em 1997, de
"Imposturas Intelectuais", obra que sustenta teses próximas àquelas
do livro de Pasternak e Orsi - tem lugar no texto.
Em suma: embora tenha sido
publicado há menos de um mês, o livro é já antigo.
* * *
Na aula de hoje do Curso de
Filosofia refletiremos sobre esse recente livro de Natalia Pasternak e Carlos
Orsi.
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*Prof. Dr. Gustavo Bertoche
Filósofo. Professor. Mestre e Doutor em Filosofia. Musicista. Escritor. Filósofo Clínico. Em 2019, por indicação da direção e conselho da Casa da Filosofia Clínica, recebeu o título de "Doutor Honoris Causa".
Teresópolis/RJ
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