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Das minhas últimas leituras*

O DESAPARECIMENTO DOS RITUAIS / Uma topologia do presente (Byung-Chul Han / Editora Vozes) - Apresenta os rituais como técnicas simbólicas de encasamento: transformam o estar-no-mundo em um estar-em-casa; os rituais estabilizam o mundo, o deixam mais confiável. Trabalha dimensões como tempo, lugar e circunstância a partir do sentido e significado. 

Daí a crítica de um amálgama de emocionalização e esteticizacão à serviço da mercancia: para potencializar consumo e produção, o estético é colonizado pelo econômico; hoje não consumimos só as coisas, mas também as emoções nelas contidas. Ao consumir emoção não nos relacionamos mais com a coisa em si, mas com a gente mesmo, ganha a relação narcísica em detrimento da relação com o mundo e com o outro.

Os próprios valores servem como objetos de consumo individual, como características distintivas, contabilizados na conta do ego. Defende rituais também como práxis simbólica, reúnem pessoas produzindo aliança, totalidade, comunidade de ressonância capaz de um acorde comum. A crise social atual é de ressonância.

Daí a aversão e repulsão vendidas e difundidas ao ritual em geral, que passou a palavra escabrosa, aversão a forma. Rituais não se prestam a interioridade narcísica, a libido do eu neles não encontra lugar.

FILOSOFIA CLÍNICA / Anotações e reflexões de um consultório (Hélio Strassburger / Editora Sulina) - Capturou minha atenção tanto pela poética contida na exposição quanto pela envergadura ao nos apresentar o novo paradigma, com aportes de expressões humanas outras, utilizadas como meio de aproximação e revisão dos próprios conceitos.

A Filosofia Clínica como metaterapia requer metalinguagem, em construção. A narrativa não reduz, amplia. O arcabouço teórico, constantemente vivificado e revisitado pela prática, permite o respirar dos conceitos que se entrelaçam em dançante coreografia.

Da articulação dos movimentos dessa construção compartilhada emerge a subjetividade em sua melhor condição. Como leitores podemos não só observar o baile como bailar junto, ora na pele de filósofo clínico, ora na pele de partilhante. Isso quando não se conduz uma clínica em paralelo, não no intuito de eliminar o ineditismo da cena, próprio do existir, mas para abraçar facetas outras da multiplicidade que somos nós e que é o viver.

*Ana Rita De Calazans Perine. Filósofa Clínica, Pesquisadora, Educadora, Mobilizadora Social e Empresarial. Cofundadora do Instituto ORIOR. Formação em Ciências Jurídicas e Sociais, Filosofia Prática e Filosofia Clínica (IMFIC / Instituto Packter – ANFIC / Casa da Filosofia Clínica). Trinta anos dedicados a pesquisas, aplicação e difusão de ciências humanas e afins. Atua na área de Desenvolvimento Humano e Transformação Cultural, fortalecendo partilhas e redes transdisciplinares de aprendizado. www.orior.com.br/ana-rita

Canela/RS

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