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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*


"A voz é ainda outro signo: o do tempo; voz nenhuma é imóvel, voz nenhuma cessa de passar; mais que isso, esse tempo manifestado pela voz não é um tempo sereno; por mais chá e discreta que seja, por mais contínuo que seja o seu fluxo, toda voz é ameaçada; substância simbólica da vida humana, há sempre na sua origem um grito e no seu fim um silêncio; entre esses dois momentos, desdobra-se o tempo frágil de uma palavra; substância fluida e ameaçada, a voz é, pois, a própria vida (...)"

"(...) o escritor está condenado a trabalhar sobre signos, para variá-los, desabrochá-los, não para deflorá-los: a sua forma é a metáfora, não a definição"

"Michelet pratica além da conta o assíndeto, a ruptura, salta ligações, preocupa-se pouco com a distância que se estabelece entre as frases (a isso se chamou seu estilo vertical); trata-se aí - fenômeno estilístico interessantíssimo e pouco estudado, creio eu - de uma estrutura errática"

"O que é realizado, aqui, é a escritura. De todas as matérias da obra, só a escritura, com efeito, pode dividir-se sem deixar de ser total: um fragmento de escritura é sempre uma essência de escritura. Eis por que, quer se queira quer não, todo fragmento é acabado, a partir do momento em que é escrito (...)"

"(...) o desejo contado perde misteriosamente a sua contingência (...)"

"Um livro vem lembrar-nos de que (...) existe um prazer da linguagem, de mesmo estofo, da mesma seda que o prazer erótico, e de que esse prazer da linguagem é a sua verdade" 

"Certas linguagens são como o champanha: desenvolvem uma significação posterior à sua primeira escuta, e é nesse recuo do sentido que nasce a literatura"

"A escritura começa onde a fala se torna impossível"

"(...) a origem de uma fala não a esgota; uma vez que uma fala se tenha lançado, mil aventuras lhe acontecem, a sua origem torna-se turva, nem todos os seus efeitos estão na sua causa; é esse excedente que interrogamos"

*Roland Bathes in "O rumor da língua". Ed. Martins Fontes. SP. 2004. 

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