Quando decidi viajar
sozinha, pensei que melhorar meu inglês seria tudo de bom. É mais difícil um
pouco a essa altura da vida, mas nem de perto impossível. Ficar em uma casa de
família, fazer um intercâmbio como uma adolescente – que é um estado da minha alma
às vezes – e tantas outras mil e uma justificativas para vir fizeram parte das
escolhas para realizar um projeto antigo.
Quando não se consegue
mesmo providenciar tudo sozinha ou com a ajuda da família, uma agência de intercâmbio pode até ajudar um
pouquinho, mas tenha em mente de que vai gastar mais e isso não significa que
será bem atendida. Percebi que a intenção primeira da agência, obvio, é lucrar
e se você ficar satisfeito é melhor porque assim eles vão consolidando suas
marcas. E muita gente se diz satisfeito por puro comodismo. Contudo, a aventura
de pesquisar bem o lugar para onde se quer ir, ter em mente seus objetivos e
realiza-los é uma emoção à parte, então, tente planejar e realizar o máximo que
puder por sua conta. Nem sempre o que parece mais fácil é melhor.
E foi assim que fui
morar em Queen’s Park na casa de um senhor viúvo, aposentado, honesto, de
coração grande, sempre disposto a me ajudar com os trajetos e com o meu inglês.
A casa não é muito nova, são três andares de uma escada fininha até meu quarto,
mas por ter pesquisado muito durante um ano o que queria viver em Londres, pude
escolher sozinha a melhor localização.
Só para ilustrar, um dia pude ir em casa
pegar um agasalho entre o final da aula e o início do espetáculo que fui assistir
– Les Misérables, de Victor Hugo, uma paixão que cultivo há anos. Fui de metrô
e sabia o que estava fazendo. Estudo no centrão de Londres e moro em um bairro
perto e agradável.
O problema que tive com a agência de intercâmbio foi esse,
eles queriam me alocar em uma residência cerca de uma hora e meia de trem da
escola. Fala sério! Como eu poderia abrir mão de ir a Notting Hill ou a Abbey
Road a pé quando eu quisesse?
Onde você deseja estar?
Muitas vezes, a preguiça atrapalha bastante você saber disso. A preguiça
oferece sempre os piores resultados, acreditem. Não se conhecer bem e não saber
bem o que quer para si também. Passe a reparar o quanto você se sujeita a
situações ruins quando não consegue escolher o melhor para você. Arregace as
mangas, pois ser feliz dá trabalho.
Para minha surpresa,
nessa semana encontrei aqui mulheres do mundo todo. Não, não eram adolescentes,
eram mulheres maduras, casadas, divorciadas, viúvas e mães de filhos que já
partiram em busca de suas próprias vidas. Todas com mochila nas costas, algumas
com idade asilar. Tenho saído com elas para jantar, fazer compras, tomar um
café e estou maravilhada em vê-las aqui. Se tem brasileiras? Vocês nem podem
imaginar quantas. Está faltando vocês.
Agora está chegando a
hora de deixar Londres, deixar os amigos que fiz e continuar minha jornada. Se
estou voltando? Que nada! Estou neste momento em um trem quase bala rumo a
Paris, vou atravessar o Canal da Mancha submersa.
Você tem medo? Quantas
coisas boas e lindas você deixou de fazer em sua vida porque sua cultura
plantou o medo em você? Quanto tempo mais você pretende ficar aí dentro dessa
caverna olhando todo dia para aquilo, aquela única coisa que você considera
segura e confortável? Você sente culpa em deixar alguma coisa ou alguém para
trás? Cheque se está tudo em ordem e se realmente o que é de sua
responsabilidade estiver em ordem, não pense duas vezes. Não transfira a culpa
da sua falta de coragem, não atribua essa culpa a outras pessoas ou
circunstâncias. Vai!
Estou com o coração
apertado. Semana passada minhas amigas espanholas e italianas, foram embora. No
fim de semana fizemos um almoço em casa. Tínhamos aqui outro hóspede da
República Checa que cozinha super maravilhosamente bem. Fui pra cozinha
londrina, falei, cozinhei e na mesa do almoço sentamos em seis nacionalidades
diferentes. Seu inglês não é bom? E sua capacidade de amar? Ah, ela é boa?
Então está tudo certo. Austrália, Itália, Praga, Inglaterra, Brasil, cada um de
um canto tentando uma forma de viver com alegria. Rimos demais. E eu? Eu chorei
de novo. Meu amigo Chef foi embora para Mônaco outro dia, minha amiga italiana
também. Meu querido homestay ficará sozinho aqui. Chorei, chorei.
Agora, saio de Londres
e volto a Paris e Portugal. Vou rever uns amigos, conhecer a família lusitana
que me espera com muito carinho, ir ao casamento de uma amiga portuguesa que
fiz em 2013 e termino essa caminhada em busca de mim mesma no bom coração das
pessoas pelo mundo, dentro de mim e nas minhas superações conhecendo Amsterdam.
Ainda ontem, tomei um café em Covent Garden com um amigo brasileiro que chegou
de lá aqui em Londres e me disse ter “hipongas demais” lá. Sério? Em Amsterdan? Adoorei! Meu berço,
pensei.
*Jussara Hadadd
Psicoterapeuta.
Especialista nas Síndromes do Feminino. Escritora. Filósofa Clínica.
Juiz de Fora/MG
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