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O tempo da vida

Pe. Flávio Sobreiro
Filósofo Clínico, Poeta
Cambuí/MG

"Se um arco-íris dura mais do que quinze minutos, não o olhamos mais."
(Goethe)


Informações nos chegam na velocidade da luz... Há tempos atrás aguardávamos ansiosos a chegada da carta que nos traria as notícias de quem morava longe de nós. Com o advento da internet as cartas foram substituídas pelo e-mail. Tudo se tornou mais ágil e fácil.

Os meios de comunicação virtual evoluíram e entraram em cena as redes sociais, que agilizaram ainda mais a comunicação. O e-mail foi substituído. Hoje o Facebook agrega todos os outros sistemas de comunicação em um local somente. Podemos conversar on line com quem mora em distantes regiões da nossa. Enviamos e recebemos mensagens sem precisar fazer uso do "antigo" e-mail. O futuro já chegou e o presente confunde nossa consciência.

Lembro-me das máquinas fotográficas que usavam os filmes que depois seriam revelados. O "click" tinha que ser certeiro. Não teria como apagar uma imagem que já estava gravada no filme da máquina. A expectativa pela revelação das fotos era importante. Sem saber como haviam ficado as fotografias era necessário nos reconciliarmos com o tempo da espera até que o filme fosse revelado.

Mas com o tempo, as empresas fotográficas ofereciam a revelação do filme em uma hora. A espera já não era tão angustiante como antes. Com a chegada das máquinas digitais tudo foi transformado. Uma foto que não ficou boa pode ser deletada e se refaz novamente a cena como se nada antes tivesse acontecido. Hoje não se revelam mais as fotos. Elas são postadas em álbuns nas redes sociais. Com o tempo ficam esquecidas nas gavetas virtuais de nossos arquivos digitais.

Não cheguei a utilizar a máquina de escrever. Apenas tive precários contatos com algumas. Mas imagino que deva ter sido uma revolução para quem deixou o lápis de lado. Os computadores susbituíram as máquinas de escrever. Os erros podem agora ser apagados com uma simples deletada. O corretor ortográfico (que na maioria das vezes precisa ser corrigido) facilita a vida de quem tem certa dificuldade com a gramática.

Os computadores robustos e pesados foram substituídos pelos notebook's. O que antes não podia sair de casa pelo peso e tamanho tornou-se objeto móvel que agora pode ser levado na mochila ou na mala de viagens. Na era do compacto e moderno os tablet's chegaram para ficar. Leves e fáceis tornaram-se o objeto de desejo de muitos que buscam a facilidade e leveza da modernidade digital.

Ah... Os discos de vinil... Muitos tem saudades daquele bolachão com um ruído peculiar! Eles deram lugar aos cd's. Os cd's deram lugar ao mp3, mp4, mp5... e afins. Hoje não precisamos mais comprar um cd que está sendo lançado no mercado fonográfico.

Se você desejar e seu senso moral permitir pode baixar gratuitamente um cd pirateado em questão de poucos minutos se seu provedor de internet for tão veloz como os tempos modernos. Mas para aqueles que não concordam com a pirataria, há sites que oferecem a possibilidade de você ouvir os cd's lançados recentemente sem pagar nada por isso.

Hoje nossas informações virtuais: músicas, arquivos, fotos e afins podem ser armazenados em "nuvens" em um banco de dados virtuais. Não sei se no Brasil há serviços gratuitos disponíveis para tal arquivamento. Mas acredito que em breve você poderá ter a sua "nuvem" gratuitamente.

Até onde mais a tecnologia irá evoluir? Talvez daqui a alguns anos este artigo tenha muitos outros itens para serem acrescentados. O que será que hoje utilizamos e amanhã serão apenas lembranças de um passado recente?

O tempo da vida corre veloz e desaprendemos a olhar a vida com paciência. As informações chegam rápidas demais. Isto tem sua vantagem em uma época que os sistemas tecnológicos facilitam a comunicação com o mundo. Mas o lado negativo é que não temos tempo para parar e refletir sobre o que chega até nós. Muita informação não pode ser assimilada por um sistema cerebral que precisa refletir e fazer memória daquilo que foi refletido. As informações chegam e saem da mesma maneira que vieram até nós: extremamente velozes.

No tempo em que tudo precisa ser para ontem, não conseguimos mais parar e ver um arco-íris mais de quinze minutos. Perdemos o sentido da contemplação da vida. A Filosofia surgiu da surpresa e do assombro diante das questões existências da vida.

Não sabemos mais saborear os alimentos porque o dia tem somente vinte e quatro horas. Qual a qualidade de nosso tempo num mundo que vive em alta velocidade? Qual o sentido de se contemplar um lindo amanhecer quando todos estão armazenando suas vidas em "nuvens" virtuais?

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