Como fazer uma leitura
de sua vida ?
Há leituras que nos aproximam de nós mesmos, e há aquelas que nos
distanciam. Nossas lentes da alma se adaptam melhor aos contextos que nos
ajudam a ver a vida com menor grau de miopia. Vivemos em busca de olhares que
veem o mundo a partir das perspectivas de nosso ser. Talvez seja por isso que
não digerimos aquela música, ou aquele autor. Por mais profundo e sensível que
alguém seja, ele somente atingirá a raiz de nossa alma se aproximar-se da
leitura que fazemos da vida.
Há tempos tenho
pensando sobre as múltiplas leituras que fazemos da vida. Em cada contexto
existencial da vida nos adaptaremos a quem escreve os silêncios de nossa alma
com a sensibilidade que enxergamos a vida. Talvez encontremos aqueles que
questionem tal posicionamento. No entanto quando encontramos tais
contestadores, eles já estão impregnados de leituras que se adaptem ao seu
contexto emocional. O simples fato de não concordarem com essa premissa revela
que eles próprios também buscam leituras existências que se encaixem em seus
contextos vivenciais.
Inevitável fugirmos de
algo que está implícito em nosso dna gramatical da alma. Buscamos quem escreve
a vida com as lentes de nossa percepção. E quando encontramos quem faz parte do
nosso mundo existencial nos apaixonamos e entregamo-nos a doce aventura de
mergulharmos naquele oceano repleto de possibilidades que nos faz ver outros
lados da vida que nossa alma ainda não sabe o nome, mas que complementa a parte
que buscamos para complementar o encanto do encontro da sensibilidade com a
vida.
E então loucamente nos entrelaçamos no mundo de alguém que mesmo
desconhecido começa a fazer parte do nosso. Nossos mundos se fundem e
confundem-se na dança da vida, onde em cada passo vamos bailando ao ritmo das
emoções que como em uma noite de festa não vê o dia amanhecer.
Talvez seja por isso
que aquele que busca terapia sai à procura de alguém que veja a vida com a
mesma sutileza que ele vê. Quando encontra-o, descortina sua vida sem medo de
revelar-se porque no mais profundo de sua alma sabe que será compreendido e as
suas leituras existências da vida encontraram naquele outro coração o conforto
da compreensão necessárias para o seu crescimento humano.
Os poetas sabem bem o
significado de ler a vida com lentes alheias. O que sua alma anseia é o desejo
de fazer-se compreendido mesmo que nem todos consigam compreender o profundo
mistério que aquele poema provoca em sua alma ao lê-lo em um dia chuvoso e
triste.
Na jornada existencial
da vida cada um irá buscar os textos e contextos que alimentam sua alma. O que
por nós é incompreensível para alguns é certeza plena. Talvez seja difícil para
quem ouve a vida com Frank Sinatra compreender quem faz outra leitura com MC
Guimê. Carregamos em nossa mochila o desejo de querer que todos leiam a vida
com as mesmas lentes que aprendemos a ler. Os choques existências acontecem
quando absolutizamos a nossa lente como a única possibilidade da verdade.
Pe Flávio Sobreiro
Filósofo, Teólogo, Poeta, Estudante de Filosofia Clínica
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