Será que isto é amor?
Esta é uma pergunta que muitos morrem angustiados sem saber responder. Felizes
daqueles que afirmam categoricamente sim. Ainda que não tenha durado para
sempre, que tenham sido anos, meses ou dias, esta certeza é melhor que a dúvida
ou a negativa.
Se o amor foi
correspondido ou não, é outra história. A questão é saber se amou ou não
amou. Passar uma vida inteira e ao final
constatar jamais ter amado alguém é um desperdício. Ou pior, passar anos
fazendo análise para saber se realmente era amor aquilo que sentia e morrer na
dúvida. Desperdício dobrado.
Houve um tempo em que
amar significava comprometimento. Dizer “eu te amo” era declaração de um
sentimento único e raro em uma relação diferente de todas as outras. Um
envolvimento sólido, uma ligação pra valer. Eram necessários meses ou anos de
convívio e muita coragem para solenemente declarar amor por aquela pessoa
especial. Jamais seria escrito via whatsapp seguido de figuras de coraçõezinhos
ou beijinhos. O amor era revelado ao pé do ouvido, olhando nos olhos,
entrelaçando as mãos, e significava quase um pedido de casamento. Em tese,
sabiam do que estavam falando.
Hoje em dia, anunciar
que ama alguém, não quer dizer quase nada.
A palavra amor foi banalizada e é verbalizada à toa. Maria ama João, mas
antes amou Paulo e antes dele, Francisco. Maria só tem treze anos de idade, e
todas as declarações foram postadas no facebook. Fernanda amou o show do Fábio Júnior, Ana
amou a torta de nozes que provou na confeitaria. Ama-se cachorros, filmes,
viagens, móveis, óculos, biquínis e pessoas também.
O dicionário define
amor como uma afeição profunda, a ponto de estabelecer um vinculo intenso,
capaz de doações próprias, até o sacrifício. É assim que funciona pra
você? Fique tranqüilo, nem todos
concordam com esta explicação, existem milhares de outras definições, em alguma
delas você deve se encaixar.
“Amar é aquela vontade
danada de andar de mãos dadas durante o dia e de pés dados durante a noite”.
”O amor tem vários
sabores, desde o adocicado do início, até o amargo do fim”.
“O amor nasce não sei
de onde, vem não sei como, e dói não sei porquê”.
“O amor está em todos
os lugares, você é que não procura direito”.
“O amor é o que o amor
faz”.
“O amor que acaba,
nunca principiou”.
“Quando encontramos o
amor da vida da gente, tudo parece fazer sentido. E percebemos que tínhamos uma
falsa idéia do que era o amor”.
"O amor que acaba
também é eterno".
"Quem não é nem
capaz de dividir o amor, deixará o outro sofrer sozinho depois".
"Quando um homem ama
de verdade, a única coisa que vai querer mudar na mulher amada é o
sobrenome".
"Quem perde tempo
julgando, fica sem tempo para amar".
E agora, ficou mais
fácil ou complicou de vez? Como enquadrar aquilo que estamos sentindo em uma
definição de amor? Por mais evoluídos que possamos parecer, não conseguimos
descrever sentimentos com palavras adequadas, então utilizamos o auxilio de
metáforas palpáveis. Ainda não atingimos a capacidade de descrever idéias
abstratas sem transformá-las em algo físico. Não conhecemos palavras
pertinentes, então tentamos nos comunicar através de imagens que simulem aquilo
que queremos expressar. “Explodiu de amor”, “ficou cego de paixão”, “regou o
amor”, “amor raso”, “amor profundo”, “amor de verão”, “louco amor”.
Provavelmente você tem
a sua definição de amor, que é diferente da minha, que é diferente da maioria
das pessoas. E não há nada de errado nisto. Amor é uma palavra que inventaram
para expressar um sentimento e não um conceito fechado e consensual, portanto,
cada um sentirá de sua maneira e o expressará como conseguir. Se aquilo que
você está sentindo se encaixa ou não no rótulo amor do dicionário ou combina
com a imagem formada de seu amado(a) é o grande desafio.
Por conta destas
discordâncias conceituais, casais que lá atrás juravam se amar, depois de um
tempo de convivência, descobriram que se enganaram, hoje se odeiam e talvez
amanhã até se matem. Quem pode assumir o papel de juiz ou dono da verdade para
decidir o que é amor ou não? Já dizia o Marquês de Maricá: “nossas necessidades
nos unem, mas nossas opiniões nos separam”.
Não gosto de dar
conselhos, mas vou dizer o que penso hoje sobre o amor. Talvez ajude alguns
corações indecisos. Preste atenção: amor é apenas uma palavra que sequer
consegue expressar o sentimento de uma só pessoa, quem dirá de um casal ou do
universo inteiro. Dizer “eu te amo” não significa muito, não é garantia de nada
e pode causar confusão, tapas e beijos.
Em compensação, amar significa quase tudo.
Ame mais e fale menos.
*Ildo Meyer
Médico. Escritor.
Palestrante. Filósofo Clínico.
Porto Alegre/RS
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