As narrativas da
historicidade, ao reviver antigas memórias, atualizam uma retórica das
evidências. Assim é possível a reinvenção pessoal na própria história. Sua
matéria-prima, ao mesclar-se com os dias de hoje, é capaz de novas interseções
na estrutura de pensamento. Essa intencionalidade discursiva emancipa
periferias de si mesma.
Ao rememorar eventos,
esses já são outros eventos. As novas ideias e vivências, ainda na perspectiva
subjetiva, podem modificar a malha intelectiva. Esse movimento permite a contemplação
e qualificação do ser singular na alternância dos endereços existenciais.
É comum que as antigas
referências de lugar, tempo e circunstância apresentem, ao olhar de agora, um
território de estranheza, o qual, ao transbordar, traduz-se como ressignificação.
A reapresentação dos dados da memória atualiza o discurso pessoal para
sobreviver.
A aptidão de rememorar,
ao transportar e modificar suas representações, esboça uma estética para
decifrar incógnitas. Sua ativação pelos relatos revividos na história de vida
qualifica uma nostalgia para acordar o que dormia ou adormecer o que acordava.
O universo da
subjetividade aprecia essa dialética, por onde se aventura nos territórios de
sua singularidade. A palavra reminiscência acolhe e desenvolve múltiplas
conjugações pessoais. Nesse sentido, os eventos do passado podem adquirir novas
conformações existenciais.
Seu teor como chão de
possibilidades amplia a medida de todas as coisas em cada um. Nele, os ensaios
permitem entrever realidades, favorecer a exploração de improváveis
territórios, conceder uma estética transformadora.
A arte da reminiscência
é uma confidência muito íntima, que se realiza no discurso da clínica. Um ponto
de encontro do fato histórico com sua releitura pela intencionalidade. Atividade
compartilhada para revisitar atualizando aquilo até então desmerecido.
*Hélio Strassburger in “A
palavra fora de si – Anotações de Filosofia Clínica e Linguagem”.
Ed. Multifoco/RJ.
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