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Um texto absurdo* Quando eu morrer, meu chalé cairá comigo, para dar lugar a mais um edifício de apartamentos. Chico Buarque Leite Derramado Imaginava um rascunho nalgum ponto entre as fronteiras do dizível. Ensaio onde realidade e ficção pudessem repaginar suas diferenças. Espécie de contragolpe na lucidez arrebatadora, a persistir naquilo que se busca esquecer. Tratativas com um quase na subjetividade por onde o dicionário ultrapassa suas origens. Talvez desenhar a ponte ideal onde os termos do raciocínio bem estruturado pudessem conviver com as contraditórias miragens. Como uma dança fugaz para acordar a racionalidade a cegar o próprio olhar. Nessa percepção de consciência alterada, os fenômenos seriam reconhecidos por seu apelido. Por esses monólogos sobre a ilusão da realidade e a realidade da ilusão, restaria o viés especulativo de um fim sem começo. Roupagens estranhas a vagar pela inesperada versão, onde tudo iria parecer inacessível ou fora de lugar. Conexão a
AGNA, PROSTITUTA DIALÉTICA Gustavo Bertoche Filósofo Clínico Rio de Janeiro/RJ Agna é como qualquer prostituta, mas não é - pois Agna é só em mim, mesmo quando é nos outros. Agna tem por mim paixão. A prostituição de Agna não sou eu que pago, mas tu. Então, só me resta cantar o amor que sinto por Agna e pelas nádegas brancas alvas, castas, puras, pias, santas, impolutas e inatingíveis de minha paixão. E pelos seios, e pelo dorso dela, que é macio e rosado, e pelas suas mãos, que só alcançam o que é segredo. Suas orelhas só ouvem o que é segredo. Sua boca só grita segredos. Mas o que mais gosto é quando Agna cospe em minha boca, e fala dentro de minha boca obscenidades. Grita na minha garganta, até meus pulmões ficarem surdos. Cheia de sangue, assim Agna é; e plena de licores, macios e amargos. Seus humores são, no entanto, quase transparentes - quiçá transparentes mesmo - e, sublime, mastiga-me como se mastigasse uma ostra. Mas sou eu que saboreio sua essência - você não. Eu
O que vem a ser Filosofia Clínica? Sônia Prazeres Filósofa Clínica São Paulo/SP Gerando polêmica no meio acadêmico ou entre as psicoterapias ela surge como uma alternativa imbuída de respeito ao ser humano em seus questionamentos e necessidades. As questões existências que a vida moderna oferece, surgem avolumadas a cada dia e nem sempre podemos contar com um amigo que nos ouça. As pessoas estão envolvidas em problemas tantos que ao ouvir já se lhes apresenta a necessidade de também serem ouvidas e assim, a cada dia aumenta a importância de partilharmos nossas questões com quem nos possa ajudar a caminhar. Envolvidos em nossas dificuldades, encontramos sempre uma sociedade disposta a muito julgar e condenar atitudes em nós e no outro, antes mesmo de saber dos nossos sofrimentos e necessidades. Criada por Lúcio Packter, um filósofo gaúcho em 1997, que incomodado com as questões que tocam o ser humano, tratou de exercer um árduo trabalho nessa direção: ajuda ao outro. Packter
DICA DE UM JOVEM FILÓSOFO PARA SE RESISTIR À TENTAÇÃO DE SER SANTO Will Goya Filósofo Clínico Brasília/DF Vamos admitir: não somos mais do que nos fizemos com nossas próprias escolhas, quase sempre substituindo o esforço da esperança pelo seu inverso, acostumando-nos a tomar por verdadeiro que já somos o que ainda esperamos realizar. Como sempre houve muitas pequeninas e importantes coisas para serem feitas na concretização dos nossos sonhos, todo aquele que espera nunca alcança. Há quem diga ter fé sem nunca haver sentido esperança. A primeira é uma certeza absoluta, uma consciência quite consigo mesma, que se satisfez com alegria em haver entregue tudo de si, permitindo suportar todo sacrifício do mundo, pois já se encontra confiante que Deus lhe aceitou no reino dos céus. Ter fé em Deus, na concepção cristã, não significa crer que Ele nos livrará das dores e desafios. Nunca poupou nenhum santo. Ao contrário, ter fé é aceitar de bom grado a cruz dos próprios pecados ou err
Interseções entre Filosofia Clínica e Cinema Andréa Kubota Filósofa Clínica São Paulo/SP "O cinema não tem fronteiras nem limites. É um fluxo constante de sonho." (Orson Welles). "O cinema é o modo mais direto de entrar em competição com Deus.” (Federico Fellini). A arte faz parte da existência humana, se expressando de diferentes formas no mundo e no nosso cotidiano. Diante disso, é possível percebermos que existe uma relação direta da arte com a história da humanidade. Através da arte representamos o nosso mundo, expressamos sentimentos, procuramos dar sentido a realidade que nos cerca e com isso ressignificar os seus conteúdos. A arte possibilita uma existência humana autêntica, pois através dela a linguagem se torna íntíma das nossas paixões. Desde as grandes reflexões filosóficas do pensador Heidegger, vemos que a linguagem cotidiana ou a linguagem científica não dão conta de todas as dimensões da existência humana. No entanto, a arte é capaz de abran
Filosofia Clínica e Humanismo Prof. Dr. José Mauricio de Carvalho Chefe do Departamento de Filosofia da UFSJ Resumo: Neste trabalho examinamos em que sentido a Filosofia Clínica pode ser considerada humanista, mostrando o que caracteriza suas concepções sobre o limite e interesse do homem. Palavras-Chave: Humanismo – Fenomenologia – Liberdade. Résumé: Dans ce travail, nous examinons dans quel signification la Philosophie Clinique peut être juger humaniste, ayant montré le que caracterize leurs conceptions sur le limite et intérêt de l´homme. Mots Clés: Humanisme – Phénomènologie – Liberté. I. Considerações iniciais Recentemente publicado, o livro Filosofia Clínica, a filosofia no hospital e no consultório (2008) de Lúcio Packter vem precedido de palavras iniciais assinadas por Dayde Packter Zavarize. No texto ela afirma que a Filosofia Clínica é um humanismo. Por que faz tal afirmação? Ela justifica a assertiva dizendo que a Filosofia Clínica é humanista porque nã
Gardel J G Moreira São Paulo/SP Comprei Gardel, do pescoço verd'amarelo, com alguns milhares de cruzeiros. Gardel era meu. Verd'amarelo na gaiola, Gardel cantava em vão. A garganta de Gardel era só trinado e solidão. A minha, rouca, a do carcereiro torturado. Gardel no ônibus, na caixa de sapatos. Princípios e razão. Gardel no mato, Debaixo do meu braço, meus cuidados de pai e mãe. Abri a caixa abri os braços gardel trinou, hesitou levantou vôo ruflou suas asas de anjo verde e amarelo sobre as árvores verdes, Gardel livre. Quem voava era eu.

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