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Eu, tu, Agna Gustavo Bertoche Filósofo Clínico Rio de Janeiro/RJ Bem sabes, leitora, que Agna é o fulcro de nossa união, numa intimidade inominavelmente secreta. Agna é em ti o que é ser-para-si em mim; o ser-em-si de Agna é sendo em mim. Ela fala em mim; grita em mim até seus pulmões explodirem. Suas mãos dizem o que é mágico, e buscam o segredo - mas só o meu segredo. Cara leitora: não há comunicação. É absolutamente impossível comunicar-se com outra mente. A linguagem é um absurdo. Quando lês minha obra, lês a ti mesma. Não há o G. escrito, aquele homem com quem tens uma intimidade intelectual despudorada por intermédio de Agna. Há apenas tu, e, para ti, pareço tal como sou. Sou tal como me vês e lês. Porque sabes que sou uma invenção tua. A impossibilidade da comunicação exige de nós muita criatividade, leitora. O escritor precisa fingir que escrfeve o que alguma doce mulher lerá, e esta finge que entende o que lê - e entende. A comunicação - qualquer comunicação - é
Copa do Mundo- Por que gostamos? Rosângela Rossi Juiz de Fora/MG Acordei cedo neste domingo final de outono. Céu azul de brigadeiro e ansiedade natural de todos que desejam ver a vitória do time do Brasil garantindo a vaga para as finais. Vendo a bandeira do Brasil vibrar em cada esquina e o entusiasmo de muitos, mesmo os que não acompanham o futebol no dia a dia, fico a pensar o que nos leva a este entusiasmo verde amarelo e de todos que vibram por suas bandeiras. Sabemos como filósofos que não existem verdades e que as definições são relativas, mas gostamos de tentar entender o porquê do comportamento humano, ainda mais quando somos psicólogos. O que nos leva a vibrar com 24 homens num campo correndo atrás de uma bola? A competição? A arte de vencer? A inteligência motora dos jogadores? A adrenalina de torcer? A liberação das repressões? Ou tudo isto
Linguagem e singularidade Mariana Flores Filósofa Clínica Rio de Janeiro/RJ A noção de linguagem que Wittgenstein apresenta nas suas Investigações Filosóficas, cuja concepção é a de que o significado das palavras depende de seu uso na linguagem, em Filosofia Clínica se traduz como um dos princípios dos cuidados de que deve ter o filósofo clínico ao exercer-se como terapeuta e cuidador nas acolhidas existenciais a que se dispõe, e que, adversamente às técnicas tradicionais da psiquiatria ou das psicologias tradicionais - que não fazem senão hermenêutica sobre o discurso ou expressividade do indivíduo – permitirá guardar o sentido mais original da palavra no contexto discursivo do sujeito, ou seja, respeitando ou limitando-se a entendê-lo somente a partir e à medida de uma singularidade existencial que, sendo singularidade, permite-se acessar a todo um vocabulário muito próprio, recheado de significados singulares para cada termo da linguagem como semiose. Aquilo a que ch
Adeus Saramago Rosângela Rossi Juiz de Fora/MG Que parta da mesma forma que viveu: Autenticamente. Que deixe em cada um de nós o desejo de escrever sem ponto, nos convidando a respirar do nosso jeito. “O homem é um homem como todos os homens, sonha” nos diz Saramago simplesmente na sua forma complexa e profunda de comunicar as angústias do humano. A cegueira falada nos seus ensaios nos faz aprender a ver o que tanto tentamos fugir. Chegou sua hora do seu fim. Seu ceticismo convida a viver a realidade como ela é. Amou e se encantou, quando muitos ao entrar nos sessenta param de apaixonar. Escreveu seus livros depois dos cinquenta denunciando e resistindo corajosamente. Usou as palavras certas e incertas e fez delas um dizer rasgante. Sua narrativa por vezes de humor satírico e cheias de fantasias nos encanta e assusta no sempre. Colecionador de palavras teceu filosofias do cotidiano: “Para temperamentos nostálgicos, em g
Um texto absurdo* Quando eu morrer, meu chalé cairá comigo, para dar lugar a mais um edifício de apartamentos. Chico Buarque Leite Derramado Imaginava um rascunho nalgum ponto entre as fronteiras do dizível. Ensaio onde realidade e ficção pudessem repaginar suas diferenças. Espécie de contragolpe na lucidez arrebatadora, a persistir naquilo que se busca esquecer. Tratativas com um quase na subjetividade por onde o dicionário ultrapassa suas origens. Talvez desenhar a ponte ideal onde os termos do raciocínio bem estruturado pudessem conviver com as contraditórias miragens. Como uma dança fugaz para acordar a racionalidade a cegar o próprio olhar. Nessa percepção de consciência alterada, os fenômenos seriam reconhecidos por seu apelido. Por esses monólogos sobre a ilusão da realidade e a realidade da ilusão, restaria o viés especulativo de um fim sem começo. Roupagens estranhas a vagar pela inesperada versão, onde tudo iria parecer inacessível ou fora de lugar. Conexão a
AGNA, PROSTITUTA DIALÉTICA Gustavo Bertoche Filósofo Clínico Rio de Janeiro/RJ Agna é como qualquer prostituta, mas não é - pois Agna é só em mim, mesmo quando é nos outros. Agna tem por mim paixão. A prostituição de Agna não sou eu que pago, mas tu. Então, só me resta cantar o amor que sinto por Agna e pelas nádegas brancas alvas, castas, puras, pias, santas, impolutas e inatingíveis de minha paixão. E pelos seios, e pelo dorso dela, que é macio e rosado, e pelas suas mãos, que só alcançam o que é segredo. Suas orelhas só ouvem o que é segredo. Sua boca só grita segredos. Mas o que mais gosto é quando Agna cospe em minha boca, e fala dentro de minha boca obscenidades. Grita na minha garganta, até meus pulmões ficarem surdos. Cheia de sangue, assim Agna é; e plena de licores, macios e amargos. Seus humores são, no entanto, quase transparentes - quiçá transparentes mesmo - e, sublime, mastiga-me como se mastigasse uma ostra. Mas sou eu que saboreio sua essência - você não. Eu
O que vem a ser Filosofia Clínica? Sônia Prazeres Filósofa Clínica São Paulo/SP Gerando polêmica no meio acadêmico ou entre as psicoterapias ela surge como uma alternativa imbuída de respeito ao ser humano em seus questionamentos e necessidades. As questões existências que a vida moderna oferece, surgem avolumadas a cada dia e nem sempre podemos contar com um amigo que nos ouça. As pessoas estão envolvidas em problemas tantos que ao ouvir já se lhes apresenta a necessidade de também serem ouvidas e assim, a cada dia aumenta a importância de partilharmos nossas questões com quem nos possa ajudar a caminhar. Envolvidos em nossas dificuldades, encontramos sempre uma sociedade disposta a muito julgar e condenar atitudes em nós e no outro, antes mesmo de saber dos nossos sofrimentos e necessidades. Criada por Lúcio Packter, um filósofo gaúcho em 1997, que incomodado com as questões que tocam o ser humano, tratou de exercer um árduo trabalho nessa direção: ajuda ao outro. Packter
DICA DE UM JOVEM FILÓSOFO PARA SE RESISTIR À TENTAÇÃO DE SER SANTO Will Goya Filósofo Clínico Brasília/DF Vamos admitir: não somos mais do que nos fizemos com nossas próprias escolhas, quase sempre substituindo o esforço da esperança pelo seu inverso, acostumando-nos a tomar por verdadeiro que já somos o que ainda esperamos realizar. Como sempre houve muitas pequeninas e importantes coisas para serem feitas na concretização dos nossos sonhos, todo aquele que espera nunca alcança. Há quem diga ter fé sem nunca haver sentido esperança. A primeira é uma certeza absoluta, uma consciência quite consigo mesma, que se satisfez com alegria em haver entregue tudo de si, permitindo suportar todo sacrifício do mundo, pois já se encontra confiante que Deus lhe aceitou no reino dos céus. Ter fé em Deus, na concepção cristã, não significa crer que Ele nos livrará das dores e desafios. Nunca poupou nenhum santo. Ao contrário, ter fé é aceitar de bom grado a cruz dos próprios pecados ou err
Interseções entre Filosofia Clínica e Cinema Andréa Kubota Filósofa Clínica São Paulo/SP "O cinema não tem fronteiras nem limites. É um fluxo constante de sonho." (Orson Welles). "O cinema é o modo mais direto de entrar em competição com Deus.” (Federico Fellini). A arte faz parte da existência humana, se expressando de diferentes formas no mundo e no nosso cotidiano. Diante disso, é possível percebermos que existe uma relação direta da arte com a história da humanidade. Através da arte representamos o nosso mundo, expressamos sentimentos, procuramos dar sentido a realidade que nos cerca e com isso ressignificar os seus conteúdos. A arte possibilita uma existência humana autêntica, pois através dela a linguagem se torna íntíma das nossas paixões. Desde as grandes reflexões filosóficas do pensador Heidegger, vemos que a linguagem cotidiana ou a linguagem científica não dão conta de todas as dimensões da existência humana. No entanto, a arte é capaz de abran

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