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Emoções Marcelo Osório Costa Filósofo Clínico Belo Horizonte/MG Vamos supor que o partilhante relata que gosta muito de trabalhar, que a sua grande paixão é levantar de manhã e ir para o trabalho, conversar com as pessoas e atendê-las como merecem: com respeito e dignidade. O trabalho é mais prazeroso que minha própria família, diz esse partilhante. A narrativa dessa pessoa diz respeito ao Tópico 4 (Emoções). O que podemos entender pelas Emoções? Lúcio Packter, idealizador da Filosofia Clínica, diz que “É o movimento em partes da Estrutura de Pensamento (EP) que a pessoa vivencia como um estado afetivo qualquer: prazer, dor, alegria, tristeza, amor, ódio, bem-estar, mal-estar, esperança, desejo, saudade, carinho, etc. Assim, engloba o sentimento”. É possível entender que as emoções têm sua origem através de combinações tópicas. Vamos a um exemplo para elucidar melhor tal possibilidade. Pedro tem como Pré-Juízo (Tópico 5) que todas as mulheres são carinhosas, afetivas e que t
Fragmentos filosóficos delirantes XXIX* "Já o ser inquieto não está em nenhum lugar porque a inquietação já é uma forma de não estar nunca estaR que se dirá então do ninguém que mora em mim por não ter não onde morar na terra no ar no maR" "Não amo o espaço que o meu corpo ocupa Num jardim público, num estribo de bonde. Mas o espaço que mora em mim, luz interior. Um espaço que é meu como uma flor Que me nasceu por dentro, entre paredes. Nutrido à custa de secretas sedes. Que é a forma? Não o simples adorno. Não o corpo habitando o espaço, mas o espaço" "Dou-lhe tudo do que como, e ela me exige o último gomo. Dou-lhe a roupa com que me visto e ela me interroga: só isto? Se ela se fere num espinho, O meu sangue é que é o seu vinho. Se ela tem sede eu é que choro, no deserto, para lhe dar água: E ela mata a sua sede, já no copo de minha mágoa Dou-lhe o meu canto louco; faço um pouco mais do que ser louco. E ela me exige
Fragmentos filosóficos delirantes XXVIII* "Quer ganhe ou perca, sou verdade e minto. Se pergunto, a resposta é dos assombros. No sol a pino finjo a madrugada." "Não tenho mais canções de amor. Joguei tudo pela janela. Em companhia da linguagem fiquei, e o mundo se elucida." "Posso agora comunicar-me e sei que o mundo é muito grande. Pela mão, levam-me as palavras a geografias absolutas." "Sou um homem que perdeu tudo mas criou a realidade, fogueira de imagens, depósito de coisas que jamais explodem." "Ó mistério do mundo, nenhum cadeado fecha o portão da noite. Foi em vão que ao anoitecer pensei em dormir sozinho protegido pelo arame farpado que cerca as minhas terras e pelos meus cães que sonham de olhos abertos. À noite, uma simples aragem destrói os muros dos homens. Embora o meu portão vá amanhecer fechado sei que alguém o abriu, no silêncio da noite, e assistiu no escuro ao meu sono inquieto." *Lê
Ilhas de risco Luana Tavares Filósofa Clínica Niterói/RJ Desde que nascemos, ou melhor, antes mesmo de sermos concebidos, quando bilhões de metades percorrem longos e vagos impulsos para cumprir metas que sequer têm consciência, perdendo-se e chocando-se contra o desconhecido e contra si mesmos, parece que temos impressa uma característica de risco, de um ‘não sei o que pode acontecer’, tal como um caminhar no vazio, por entre penumbras e sensações desavisadas, sempre expostos ao inusitado ato de sobreviver. O exercício da vida pode ser traduzido como uma constante respiração suspensa, onde desafios nos remetem a desbravar trilhas sinuosas e realizar escolhas, como se os desdobramentos existenciais futuros dependessem da nossa capacidade intrinsecamente humana de resistir e se sobrepujar aos acontecimentos e devires a que estamos constantemente nos expondo. Estranho é supor que há risco em qualquer momento, talvez a todo instante, e não importa a que representação de mundo
A Pior das Rivais Jussara Haddad Filósofa Clínica Rio de Janeiro/RJ É muito frequente a queixa das mulheres sobre o interesse do seu amado por aquela que rouba todas as cenas e os melhores momentos. Que anula aquela escapadinha de domingo à tarde naquela horinha em que as crianças saíram para brincar. Que afasta do casal aqueles instantes da noite, depois do jantar e bem antes do sono incontrolável que reflete o cansaço do trabalho diário, aqueles momentos gostosos, de brincadeiras e caricias que sustentariam a vida de quem quer viver junto, casado, compartilhando. Aquela que é iluminada, animada e fascinante nas suas cores e sons. Aquela que seduz e conquista a grande maioria dos homens que, materialistas acima de tudo, se encantam com suas propostas indecentes de aquisição de bens de consumo de qualquer natureza. Aquela que petrifica, hipnotiza e leva ao total estado de alienação. Que produz o prazer do riso e possibilita a libertação da ira e traz com facilidade inigualáv
A lógica dos casos perdidos* “Sabendo que não há causas vitoriosas, gosto das causas perdidas: elas exigem uma alma inteira, tanto na derrota quanto nas vitórias passageiras.” Albert Camus É incrível tentar descrever os atendimentos de casos perdidos. Àqueles bem depois da sentença diagnóstica do médico ou da interdição jurídica. Um mundo de recursos pessoais desmerecidos a se encontrar na subjetividade confusa. Algo permanece invisível nas entrevistas da razão. Uma geografia insinuante e sedutora costuma cegar a pessoa na relação consigo mesma, sob as mais variadas justificativas. Nesses casos é comum a cumplicidade para sustentar suas rotas de colisão. A atração das axiologias, imperceptíveis quando desejam ofuscar epistemologias, por exemplo, é capaz de desconstruir os raciocínios mais bem postados. Elaborar armadilhas e sustentar paixões dominantes podem se esboçar nalguma forma de dependência, na relação do personagem com os princípios de verdade, recém inventad
Neurônios pensam? O que acontece na relação entre os neurônios na visão da Filosofia Clínica Lúcio Packter Pensador da Filosofia Clínica O que acontece nas relações entre neurônios, no modo como cada um interage com outro e com muitos outros? Podemos imaginar que se associam, que lutam por espaço e energia, que formam grupos que travarão animosidades, ambivalências, lutas com outros grupos? Há neurônios que armam competições, renúncias, que atacam e exterminam neurônios isolados? Uma resposta plausível a partir da Filosofia Clínica é que sim, isso também acontece. Mas muito provavelmente esta é uma parte entre os eventos, não a principal. Caso a investigação se aprofunde, temos alguns elementos surpreendentes que chamam e instigam a atenção. O que podemos conjecturar a respeito de neurônios que aparentemente promovem o suicídio? Ou de grupos de neurônios que promovem a associação pacífica entre redes neuronais? Haveria talvez uma política democrata de relações neuronais?
Diário de um retorno* "Eu sou como eu sou pronome pessoal intransferível do homem que iniciei na medida do possível." Torquato Neto Diante de circunstâncias desfavoráveis à busca pré-estabelecida, a expressividade pode se ocultar esperando o momento oportuno para seu regresso. Aguardando esse instante encontram-se homens e mulheres escondidos em si mesmos, construindo uma historicidade de aparência. O brilho existencial, inerente daqueles que transmitem o bem estar de suas vivências, se confunde com reflexos internos tentando disfarçar suas faces cansadas e sem esperança. Alguns, de tão afastados de sua originalidade, perderam-se pelo caminho, e as possibilidades de volta não são mais consideradas. Outros, sustentados por suas buscas e valores, seguem confiantes nas possibilidades oriundas da dialética existencial. Esses desacordos são singulares. Cada história de vida apresentará seu roteiro. Nas convivências autoritárias é comum se encontrar indivíduos vive
Fragmentos filosóficos delirantes XXVII* "Sempre subindo a ladeira do nada, Topar em pedras que nada revelam. Levar às costas o fardo do ser E ter certeza que não vai ser pago. Sentir prazeres, dores, sentir medo, Nada entender, querer saber tudo. Cantar com voz bonita prá cachorro, Não ver "PERIGO" e afundar no caos. Fumar, beber, amar, dormir sem sono, Observar as horas impiedosas Que passam carregando um bom pedaço da vida, sem dar satisfações. Amar o amargo e sonhar com doçuras Saber que retornar não é possível Sentir que um dia vai sentir saudades Da ladeira, do fardo, das pedradas. Por fim, de um só salto, Transpor de vez o paredão." "Escute, meu chapa: um poeta não se faz com versos. É o risco, é estar sempre a perigo sem medo, é inventar o perigo e estar sempre recriando dificuldades pelo menos maiores, é destruir a linguagem e explodir com ela (…). Quem não se arrisca não pode berrar." *Torquato Neto 1944-1972

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