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O relativismo subjetivo é universal em Filosofia Clínica? Pedro de Freitas Junior Filósofo Clínico Florianópolis/SC Quando falamos em relativismo a primeira impressão que podemos ter é pejorativa. Parece que quando “tudo” é relativo as certezas se perdem. Como achar algo que se perde? A Filosofia Clínica responde em uma palavra: singularidade. O se perder no relativismo subjetivo é um dos grandes achados para a Filosofia Clínica. Reconhecer que o intersubjetivo se compõe de subjetivos que não podem ser enquadrados em nenhum universal objetivador da subjetividade. Objetivar e universalizar a subjetividade se mostra uma tarefa impossível em Filosofia Clínica. Cada subjetividade ou traduzindo para termos filosóficos clínicos cada Estrutura de Pensamento (EP) não pode ser classificada em uma universalidade que tenta deixar o desigual igual, o paralelo em serial. O relativismo geral passa a ser uma singularidade que se mostra em universo. O universo da Estrutura de Pensamento que
Discursos da água* “Tanto no líquido derramado quanto nas folhas levadas pelo vento, a desordem existe só para o observador incauto. Águas e folhas movem-se rigorosamente dentro de leis estabelecidas pela natureza.” Donaldo Schüler Uma fonte de matéria-prima se oferece num curso provisório que perdura. Ao ser incapaz de descrever idas e vindas, suas rotas e desvios parecem rumar para lugar nenhum. Um ponto onde tudo começa e se acaba para reiniciar. Sua transparência se dissolve em rastros de horizontes verticais, aprecia contar sobre suas origens ancestrais na confluência entre hoje e amanhãs. Riachos e córregos deságuam em rios a história plural. A interseção mista com as margens alterna a leveza dos passeios com a força dos tsunamis. É possível creditar-lhe a inspiração da vida ao seu redor, embora também ela seja refém de origens desconhecidas. Sendo uma versão sempre outra, se institui transgressora aos frascos que tentam lhe aprisionar, assim apodrece para se reinventa
Qualidade dos encontros Sandra Veroneze Filósofa Clínica Porto Alegre/RS O mundo em que vivemos é um convite explícito para encontros e conexões, seja de forma mais profunda ou superficial, pessoalmente ou por via eletrônica. Todos os dias, esbarramos, encostamos, tocamos e até nos fundimos com outras pessoas. São vozes, rostos, peles, maneiras de pensar e sentir, também de ver a existência, que de alguma forma acabam por integrar o nosso jeito de ser e estar no mundo. A qualidade das interseções é definida por vários fatores, entre eles a natureza de cada um, sua história, intenção, os objetivos e também o contexto.... Maior ou menor grau de intimidade ou de troca intelectual é estabelecido pelo quanto nos sentimos à vontade com a outra pessoa, o quanto confiamos nela, o quanto nos dispomos à exposição... Com o passar do tempo, vamos ficando mais ‘espertos’, com a percepção mais refinada, na avaliação daqueles com quem temos contato. Com alguns nos sentimos à vontade, aconc
O que aconteceu em 2009 Lúcio Packter Pensador da Filosofia Clínica Talvez cada vez mais podemos dizer cada vez menos de um ponto da história, uma vez que os elementos se combinam e muito do que aparece em uma época pertence a outra. Parece que em 2009 não deu para Aécio Neves, foi Serra, foi Dilma, foi Sarney ao contrário. Mas em 2010 poderemos saber que nada foi assim e que quem aconteceu de fato em 2009 sequer apareceu. Mas é parte significativa da história comemorar fantasmas. Eles enfeitam, distraem, porém também podem sustentar e erguer os eventos importantes que às vezes necessitam de um fantasma de prefácio. Como ficou aquele voo 447 da Air France? O apagão? A dinheirama na cueca, nas meias? O que de fato foi mais marcante em 2009? As mulheres iranianas protestando, a China novamente, a recessão acabando, Michael Jackson? Se depender da subjetividade, Claude Lévi-Strauss, em Filosofia, vem antes. John Updike também partiu, mas nos fios que constroem a história, não
Fragmentos filosóficos delirantes XXXVII* "Se não fizesse versos Enlouqueceria. Minha saúde mental Depende da poesia. Se não fizesse versos Me suicidaria. Só na estrofe retorna A perdida alegria. Só no poema ultrapasso O limite do tédio. Para o poeta, a metáfora É o único remédio." "Cansei de amor de brinquedo Eu quero amor de verdade Quero sentir que a saudade Está judiando de mim Não quero dizer amor com o coração sossegado Quero pecar sem pecado E andar sorrindo sozinho Até que falem de mim Talvez me chamem de louco Esta loucura eu desejo Eu quero amor de verdade Cansei de amor de brinquedo." “Toda a página em branco Merece um poema. Não devemos viver Cada minuto da vida?” “Um dia eu caminharei na paisagem azul Com a surpresa de nascer de novo. E se tiver sede na jornada eterna Beberei orvalho em lírios transparentes” * Prado Veppo - Médico psiquiatra e poeta santamariense. Querido professor de literatura. Já na década de
Fragmentos filosóficos delirantes XXXVI* "Se se morre de amor! — Não, não se morre, Quando é fascinação que nos surpreende De ruidoso sarau entre os festejos; Quando luzes, calor, orquestra e flores Assomos de prazer nos raiam n'alma, Que embelezada e solta em tal ambiente No que ouve, e no que vê prazer alcança! (...) Amar, e não saber, não ter coragem Para dizer que amor que em nós sentimos; Temer qu'olhos profanos nos devassem O templo, onde a melhor porção da vida Se concentra; onde avaros recatamos Essa fonte de amor, esses tesouros Inesgotáveis, d'ilusões floridas; Sentir, sem que se veja, a quem se adora, Compr'ender, sem lhe ouvir, seus pensamentos, Segui-la, sem poder fitar seus olhos, Amá-la, sem ousar dizer que amamos, E, temendo roçar os seus vestidos, Arder por afogá-la em mil abraços: Isso é amor, e desse amor se morre!" "E eu amei tanto! — Oh! não! não hão de os homens Saber que amor, à ingrata, havia eu dado;
Escritura Idalina Krause Filósofa Clínica Porto Alegre/RS Escrever é desacordar Uma solidão brutal Somos "pugilistas" Socamos hipocrisias Vitórias momentâneas Lutas marcadas E o mundo lá fora Mas um "cheiro" cai bem Aquece entranhas Tempera criações Tchau!
Por que estudar a Filosofia da Mente ? Mônica Aiub Filósofa Clínica São Paulo/SP Alguns pensadores defendem que a filosofia da mente é a metafísica contemporânea, ou seja, aquela que se dedica à busca dos fundamentos de nossas formas de vida. Esta é uma pergunta muito comum. Algumas respostas iniciais assemelham-se aos motivos pelos quais estudamos o cérebro. Mas mente e cérebro são a mesma coisa? O que vem a ser a mente? Não seria esse, um campo da psicologia? Ou seria um estudo próprio da medicina, em especial da psiquiatria? Ou ainda, não seria melhor abordar o problema a partir da neurociência? Mais precisamente, o problema da filosofia da mente é o problema mente-corpo. John Searle, em Mind, aponta alguns motivos pelos quais os métodos utilizados pela ciência para estudar a natureza são insuficientes para estudar o mental, entre eles: subjetividade, consciência, intencionalidade e causação mental. Podemos mapear o cérebro com tomografias, ressonâncias e outros exames,
Agendamentos Miguel Angelo Caruzo Filósofo Clínico Juiz de Fora – MG Recebemos ao longo de nossa existência uma série de agendamentos. Entenda-se agendamento como influência recebida por diversos meios e que exercem algum tipo de reação em nós, moldando o que somos. Na sociedade encontramos uma série de influências que são aceitáveis coletivamente por se tratar de conteúdos geralmente expressos por autoridades como a ciência, a psicologia, os meios de comunicação, a religião, etc. Ao nos depararmos com situações diversas do nosso cotidiano, os que tendem a querer uma explicação plausível, recorrem a essas explicações prontas. Por exemplo, uma pessoa se encontra triste e resolve ficar fechada em seu quarto por um tempo. Na primeira tentativa de explicar o que está acontecendo com essa pessoa o que comumente pode vir é o diagnóstico de depressão. Pronto! Já sabemos o que nosso amigo, parente, ou nós mesmos temos. Como se tudo fosse tão fácil de definir desse modo. O erro pare
Papel existencial ou escolha nossa de cada dia Rosângela Rossi Psicoterapeuta e Filósofa Clínica Juiz de Fora/MG Televisão desligada. Que delícia! Nem novela, nem BBB. Noite quente com céu estrelado. Janela aberta para o mundo. Ar entrando no peito e reflexão sobre os papéis existenciais e as escolhas nossas de cada dia. Em nossa incrível singularidade vamos escolhendo o que fazer e o como fazer num mundo cheio de possibilidades. A ação nossa de cada dia imprime nossa marca registrada. Em cada lugar e circunstância fazemos um tipo de escolha. Somos multiplos e plurais. Capazes de diversificação e papeis diferentes. Se assim não acontecesse estaríamos engessados atrás de uma persona, máscara. Porque somos livres, seres da escolha, vamos trocando de papéis e de máscaras. Ilusoriamente pensamos que temos que apenas ter um só papel existencial em todos os lugares. Se isto acontecesse... O professor ao invés de ter o papel de pai, ou de marido, ou de amigo, seria em to
Simples assim Sandra Veroneze Filósofa Clínica Porto Alegre/RS Mais do que o refrão de uma das mais famosas músicas do Cazuza poeta, ‘ideologia, quero uma pra viver’ parece ter se tornado um mantra sagrado ou grito desesperado de muitas pessoas. Qual é o sentido da vida? Pra que viver? Qual é o verdadeiro significado de tudo isso? Questões como esta acompanham as pessoas todos os dias, colocando pontos de interrogação em acontecimentos, situações, relacionamentos, coisas... Algumas pessoas encontram sentido para a própria existência no desenvolvimento profissional. Para outras, a família é o centro de tudo. Algumas ainda orbitam sua existência em volta da satisfação dos sentidos, da busca dos prazeres... As opções são tão numerosas quanto são as pessoas vivas neste planeta. Algumas pessoas, inclusive, fazem da busca de um sentido para a vida o próprio sentido da vida. E nisso não reside novidade alguma. O que seria da filosofia e da história do pensamento da humanidade, nã
Fragmentos filosóficos delirantes XXXV* "Esperar clarear, para andar no calçadão. Quando me recomendou arejar o juízo andando no calçadão, meu combativo analista me disse: "Você vai fazer uma coisa que vai mudar a sua vida." Como todo mundo, principalmente escritor, quer mudar de vida, topei. De fato mudei, agora fico bestando, esperando clarear para andar no calçadão." "Recebo uma beijoca de uma senhora encanecida, que se confessa minha fã. Emocionado, fecho os olhos e penso que foi a moça do saiote. Agradeço penhoradamente e sigo em frente glorioso." "Ao atravessar a avenida para tornar à casa, topo com Zé Rubem Fonseca, barbado e embuçado, que finge que não me vê. Deve ter ingressado na carreira de crítico literário. Ou então deve ter acatado um conselho do analista dele. Deixo-o em paz. Mais tarde telefono e digo a ele que meu computador é maior que o dele. Isso mata o bicho." "Primeiro o expediente. Dois fax ( faxes ? Pensando
Fragmentos filosóficos delirantes XXXIV* "A vida só é possível reinventada. Anda o sol pelas campinas e passeia a mão dourada pelas águas, pelas folhas... Ah! tudo bolhas que vem de fundas piscinas de ilusionismo... — mais nada. Mas a vida, a vida, a vida, a vida só é possível reinventada." "Eu não tinha este rosto de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo. Eu não tinha estas mãos sem força, tão paradas e frias e mortas; eu não tinha este coração que nem se mostra. Eu não dei por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil: — Em que espelho ficou perdida a minha face?" "Não te aflijas com a pétala que voa: também é ser, deixar de ser assim. Rosas verá, só de cinzas franzidas, mortas, intactas pelo teu jardim. Eu deixo aroma até nos meus espinhos ao longe, o vento vai falando de mim. E por perder-me é que vão me lembrando, por desfolhar-me é que não tenho fim.&quo
VOCÊS SÃO RIDÍCULOS* "Em qualquer tipo de civilização, cada costume, objeto material, idéia ou crença, satisfaz alguma função vital" B. Malinowski Antropólogo polonês. Vou tentar validar esta proposta analisando o casamento. Será que alguns costumes realmente foram criados visando contemplar a função do acasalamento? A virgindade pode servir de exemplo. Na antiguidade não existia a pílula anticoncepcional, as mulheres mal conheciam seu corpo, não sabiam o que era orgasmo e o resultado de uma noite de sexo tinha grandes chances de terminar em gravidez. A mulher que sonhasse em ter seu príncipe encantado, deveria se manter virgem para evitar filhos indesejados antes do casamento. Além disso, os homens eram educados para ter uma mulher em casa e quantas quisessem na rua, enquant

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