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ABUNDÂNCIA Ildo Meyer Médico, Filósofo Clínico, Escritor. Porto Alegre/RS Ainda era escuro quando Clara acordou. Passara as noites anteriores em claro pensando em sua triste, densa e já distante vida de casada e nos eventuais encontros e desencontros pós separação. Olheiras e papadas demonstravam seu esgotamento. Aquela noite tudo foi diferente, era escuro, mas de alguma forma, havia luz. Mais do que isso, havia brilho em seus olhos. Sentia-se segura, tranquila e feliz. Durante o sono havia feito as pazes com seu inconsciente e com o mundo. Voltemos um pouco no tempo. Recém divorciada, quarenta e cinco anos de idade, bonita, independente, livre e desimpedida para encontrar um novo amor. Tudo o que precisava para seu futuro era conhecer alguém legal, se apaixonar, não cometer os mesmos erros do passado e ser feliz. Apesar da suposta liberdade, Clara não conseguia se soltar. Permanecia escravizada pelas dúvidas. Pensamentos mil, resposta nenhuma, atitude zero. Valeria à pen
Explorando Mundos - Representação Rosemiro A. Sefstrom Filósofo Clínico Criciúma/SC No artigo anterior exploramos o mundo como coerção, que é o mundo enquanto ferramenta de enquadramento do ser. E não é de se assustar ao saber que a maior parte das pessoas de que se tem notícia veem a realidade desta maneira. Neste artigo veremos o mundo como representação, onde a questão se torna muito mais difícil, uma vez que o que se apresenta no mundo enquanto representação é fácil de entender e ensinar, mas difícil de viver. O exercício que se dá deste ponto em diante é o de levar a compreensão de dois princípios básicos da Filosofia Clínica. O primeiro destes princípios vem de um filósofo chamado Protágoras, o qual diz: "O homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são." O segundo filósofo chama-se Schopenhauer e disse: “O mundo é minha representação”. Antes de avançar em direção ao que cada filósofo disse e a
Ferimentos Idalina Krause Filósofa Clínica Porto Alegre/RS Sem porto seguro navego águas turbulentas encostas sacode corpo nú massageia espírito dolorido sopro quentes palavras borbulhantes poções aquecem entranhas inspiração possível criação metamorfoseante colo treme frenesi caixa possuída inquietação fantasma fantasias fome febres fendas frágil fidelidade filosofias fugidias fisionomias finos fazeres fios fachadas fora faiscado falso fascínio fomentado fosfóricamente fazendo ficar flores ferimentos
A difícil arte de escutar Rosângela Rossi Psicoterapeuta e Filósofoa Clínica Juiz de Fora/MG A tagarelice real e mental toma conta quando aos encontros surgem. Cada um quer falar mais que o outro. A ansiedade domina. A luta pelo poder e a competição assumem o comando. Silenciar, escutar e dialogar, na maioria das vezes, não acontece. Sair de si, Escutar por inteiro, Em pura presença, No tentar compreender, É uma arte sábia. Ouvir não basta. Silenciar é preciso, Em total atenção a fala do outro. Muitas vezes, só se pensa na autoafirmação, Querendo alimentar o ego do poder. Não se escuta o que outro está falando pois, A preocupação é apenas no que vai responder. E na maioria responde-se exatamente algo que não tem nada haver com a conversa. Escutar requer respeito, Abertura, Capacidade reflexiva, Humildade, Capacidade aprendiz. O silenciar nem sempre significa escuta. A tagarelice interna pode estar cheia de prejuízos. O silêncio da escuta pontua e
Significados Beto Colombo Filósofo Clínico. Empresário. Coordenador da Filosofia Clínica na UNESC. Criciúma/SC Aquela água da torneira clorificada torna-se benta se colocada num cântaro no altar da gruta, assim como a flor pode ser uma confissão de amor, ou até uma afirmação de saudade se jogada sobre uma sepultura. O fogo torna-se símbolo sagrado nas velas dos altares e nas piras olímpicas. Rubem Alves, no livro O Que é Religião, com sabedoria diz que há coisas que significam outras, são as coisas/símbolos. “Uma aliança significa casamento; uma cédula significa um valor; uma afirmação significa um estado de coisas além dela mesma.” E se alguém simplesmente usar uma aliança na mão esquerda sem ser casado? Uma cédula pode ser falsa. Uma afirmação pode ser uma mentira. Por isso, quando nos defrontamos com as coisas que significam outras coisas é inevitável que levantemos perguntas acerca de sua verdade ou falsidade. Aquela fonte no morro, que era apenas uma bica d’água, t
Ilhas de risco Luana Tavares Filósofa Clínica Niterói/RJ Desde que nascemos, ou mesmo antes de sermos concebidos, quando bilhões de metades percorrem longos e vagos impulsos para cumprir metas que sequer têm consciência, perdendo-se e chocando-se contra o desconhecido e contra si mesmos, parece que temos impressa uma característica de risco, de um ‘não sei o que pode acontecer’, tal como um caminhar no vazio, por entre penumbras e sensações desavisadas, sempre expostos ao inusitado ato de sobreviver. O exercício da vida pode ser traduzido como uma constante respiração suspensa, onde desafios nos remetem a desbravar trilhas sinuosas e realizar escolhas, como se os desdobramentos existenciais futuros dependessem da nossa capacidade intrinsecamente humana de resistir e se sobrepujar aos acontecimentos e devires a que estamos constantemente nos expondo. Estranho é supor que há risco em qualquer momento, talvez a todo instante, e não importa a que representação de mundo nos remet
A arte da convivência Sandra Veroneze Jornalista e Filósofa Clínica Porto Alegre/RS Estou com vizinhos novos. Quer dizer, em breve os terei, porque a fase atual é de reparos na casa ao lado do meu prédio. Mas já não gosto deles. Uma amiga disse que estou exagerando e sendo chata e é bem provável que sim, só porque não gosto do som que eles escutam e democraticamente compartilham com toda vizinhança: funk. Essa amiga minha também tem uma situação chata pra administrar. A mãe ainda não percebeu que a filha cresceu e tem andado com umas ideias meio estranhas, como por exemplo acompanhá-la nas férias na praia, junto com o amor e os amigos da menina, como forma de protegê-la (em outras palavras: monitorá-la). Detalhe: minha amiga tem 33 anos. Os exemplos de quanto a arte da convivência é delicada são infinitos. Alguém disse certa vez que a liberdade de um termina quando começa a liberdade do outro. Particularmente, acredito que todo mundo pode ter liberdade conjuntamente, desde q

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