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Sons da alma Luana Tavares Filósofa Clínica Niterói/RJ Existem sons que vem de algum lugar que não distinguimos. Até conseguimos ouvi-los, mas eles nos surpreendem como se fossem brumas sonoras a se espalhar pelo ar... Essas ondas se espalham, penetram os sentidos e invadem expectativas, preenchendo entranhas e formando novos sonhos. Às vezes, formam delírios e transportam a outros mundos. Outras vezes, recordam instantes de êxtase que se propagam como impulsos a invadir destinos. Mas podem também massacrar como ferros, rasgando e ferindo, sepultando lembranças. E há os sonhos que cristalizam o momento, não permitindo que o tempo caminhe... ou talvez apenas o torne lento para que seus passos sejam marcados pelo deleite de um clímax anunciado. Esses momentos são como pérolas resgatadas que reverberam a concha que as abriga. Esses acordes iluminam os corações em sua mais íntima vibração, mas em segredo, de forma quase imperceptível, num ímpeto que ninguém consegue perceber
Freios existenciais Lúcio Packter Pensador da Filosofia Clínica Quando você for à bela cidade de Dourados, interior do Mato Grosso do Sul, observe que ela não possui subidas e descidas. Tudo é plano, tudo é povoado de planícies, poucos prédios, bicicletas por todo lado, árvores. Caso comprasse algum patinete para transitar pela região, provavelmente não seria necessário que tivesse um daqueles freios de mão. Para quê? Em lugares assim, a gravidade é o melhor e o mais suave freio ao embalo macio que traciona as rodinhas delicadas do patinete. No entanto, há modelos importados que já trazem o freio, modulado por um cabo, que naturalmente faz parecer necessária esta peça acoplada ao veículo. Acredito que alguns ficariam surpresos se soubessem que um patinete não precisa de freios. Talvez não comprassem, talvez devolvessem achando que tivesse um defeito. Lembro disso quando encontro seguidamente no consultório pessoas cujas construções semânticas, sintáticas, gramaticais trazem
Alegoria da Matrix Pedro de Freitas Jr. Filósofo Clínico Florianópolis/SC Quando Platão escreveu a “Alegoria da Caverna”, ele provavelmente não previu que seria adaptada a qualquer outra forma de mídia. No entanto, o filme Matrix conseguiu trazer a metáfora de Platão, ao século 21. Para começarmos a entender esta comparação vamos a um trecho da Alegoria: Imagina a maneira como segue o estado da nossa natureza relativamente à instrução e à ignorância. Imagina homens numa morada subterrânea, em forma de caverna, com uma entrada aberta à luz; esses homens estão aí desde a infância, de pernas e pescoço acorrentados, de modo que não podem mexer-se nem ver senão o que está diante deles, pois as correntes os impedem de voltar a cabeça; a luz chega-lhes de uma fogueira acesa numa colina que se ergue por detrás deles; entre o fogo e os prisioneiros passa uma estrada ascendente. Imagina que ao longo dessa estrada está construído um pequeno muro, semelhante às divisórias que os apresen
Poentes do que ficou Pe. Flávio Sobreiro Filósofo Clínico, Poeta Cambuí/MG Saudade é a palavra que se foi, o abraço que não se despediu, o olhar que se eternizou, a lágrima que ainda não rolou. Talvez uma das palavras mais complexas de se definir seja a saudade. O que não se pode explicar o silêncio eterniza. Saudade eternizada é aquela tarde que ainda vive nas estações da alma. É a chuva que ainda caí nas manhãs de inverno da alma. O que fica da saudade é uma cicatriz silenciosa. Após a vida cumprir seu processo de cicatrizar a dor do que se foi, o silêncio não consegue verbalizar o que ainda vive. A vida que ainda cumpre seu ritmo nas esquinas das lembranças faz-nos deparar com aquilo que ficou estacionado no semáforo das emoções. Andamos por ladeiras e navegamos em oceanos tempestuosos de sentimentos que não conseguimos expressar. Será a saudade um lugar perdido nas montanhas de nossa alma? Ou será que a tendo encontrado não conseguimos mais abandoná-la e lhe juramos fidel
Diálogo Anormal Beto Colombo Filósofo Clínico, Empresário, Coordenador da Filosofia Clínica na UNESC Criciúma/SC Querido leitor, que você esteja bem. Hoje vamos fazer um diálogo anormal. Dias desses, atendi um novo partilhante que entrou no consultório e, de pronto, me disse: “Eu não consigo me adaptar nesse mundo. Será que eu sou anormal?” Confesso que a frase me pegou de chofre e me fez refletir alguns segundos, enquanto ele se ajeitava na poltrona. Perguntei-me silenciosamente naquela fração de segundos: O que é ser normal? Minha resposta, naquele momento, foi mais ou menos assim: Bem-vindo querido amigo! Normal, como o nome já diz, é todo aquele cidadão que está de acordo com a norma, com um padrão pré-estabelecido. Mais do que isso: é parecido com todo mundo nas ações, que é como todo mundo é, pensa parecido como todo mundo pensa, vive como todos vivem, sente como todo mundo sente. - Então eu não sou normal. - Afirmou meu partilhante. Meus pensamentos teimavam em v
Fragmentos filosóficos delirantes LXXIV* A Mulher Madura O rosto da mulher madura entrou na moldura de meus olhos. De repente, a surpreendo num banco olhando de soslaio, aguardando sua vez no balcão. Outras vezes ela passa por mim na rua entre os camelôs. Vezes outras a entrevejo no espelho de uma joalheria. A mulher madura, com seu rosto denso esculpido como o de uma atriz grega, tem qualquer coisa de Melina Mercouri ou de Anouke Aimé. Há uma serenidade nos seus gestos, longe dos desperdícios da adolescência, quando se esbanjam pernas, braços e bocas ruidosamente. A adolescente não sabe ainda os limites de seu corpo e vai florescendo estabanada. É como um nadador principiante, faz muito barulho, joga muita água para os lados. Enfim, desborda. A mulher madura nada no tempo e flui com a serenidade de um peixe. O silêncio em torno de seus gestos tem algo do repouso da garça sobre o lago. Seu olhar sobre os objetos não é de gula ou de concupiscência. Seus olhos não violam as c
Sexo e Desejo Rosângela Rossi Psicoterapeuta e Filosofa Clínica Juiz de Fora/MG Corpo quente e ardente de tanto querer. Alma saindo pelo coração de tanta paixão. Humanos sedentos de encontro e tesão. Tudo seria lindo e perfeito se compreendessemos nosso corpo do desejo. Com certeza o sexo seria poesia e a alma agradeceria. Mas, somos humanos, demasiadamente humanos com todas as imperfeições que temos direito. Aprendizes, se humildes. O desejo nasce da falta. O que nos falta? Nos falta o outro. Assim nosso corpo deseja a fusão para sentirmos, por um só momento, plenos. Somos todos seres incompletos na falta. Desejosos do gozo, do nirvana , do morrer e do nascer no encontro. Por que então o sexo não tem cumprido sua função transcendente? No tempo que a imagem se faz mais importante, o foco não é mais o encontro, porém o desejo narcisista de se mostrar para seduzir e competir. Busca-se o corpo ideal renascentista, sempre jovem. E como a maioria não serve para capa de rev

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