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Erasmo de Rotterdam* LOUCURA E RAZÃO Elogio da Loucura foi dedicada a Thomas More. Editada primeiramente em 1509, na qual a loucura é uma deusa determinadora das ações humanas. Organizadora das cidades, mantenedora dos governos e da religião. Essa obra é relevante no movimento renascentista (KANTORSKI, 2010, p. 241). “Erasmo de Rotterdam soube atacar, com muita astúcia e capacidade, os abusos e as contradições presentes no clero e em toda sociedade de sua época, sugerindo alternativas para uma vida moralmente correta” (KANTORSKI, 2010, p. 243). Na obra erasmiana a deusa grega é vista como força de energia do cotidiano. Trata-se de um monólogo na qual a loucura apresenta os motivos que a torna cultuada. Mostrando, assim, sua relevância e superioridade às demais faculdades humanas, baseando-se nas ações dos próprios homens formando “as cidades, os governos, a religião e a própria vida, consistindo em uma espécie de divertimento da mesma” (KANTORSKI, 2010, p. 244). Nessa obra,
O LUGAR DA SENSIBILIDADE E DE PASCAL* Num tempo em que os valores estão em crise e a humanidade vive o caos mascarado em desenvolvimento, o homem se encontra perdido, sem saber para que lado ir. O estresse, a frieza , a superficialidade, a agressividade, a competição, a compulsão, os vícios são sintomas de uma sociedade doente emocionalmente. No isolamento as pessoas estão cada vez mais sós a buscar um mundo virtual para preencher este vazio existencial. Neste ponto de mutação, momento de transição, é preciso resgatar a sensibilidade e colocar a compaixão, o amor , a estética, a relação com os outros no plano de frente, ou morremos todos de depressão e tédio. Pascal, o filósofo do século XVII, integra a racionalidade com a afetividade. Ele afirma que o coração tem razões que a própria razão desconhece. Sua filosofia nos auxilia a resgatar a sensibilidade perdida. Ele nos coloca diante a faculdade emocional em uma era marcada pela supervalorização do racionalismo, cientificism
O que é um Remédio* Querido leitor, que você esteja em paz! Hoje vamos refletir sobre remédio. Há anos venho ouvindo e assistindo nos meios de comunicação propagandas de remédios e até dos locais onde são vendidos. “Melhore sua saúde, tome o remédio tal”, ou “Empresa tal, o endereço da sua saúde”. Enfim, exemplos não faltam. Sempre que ouço as propagandas, logo me vem à mente um pensamento: remédio não é para quem tem saúde, é pra quem está doente. E observando melhor a palavra “doente”, logo percebo que há um “ente” e, aqui, ente é um ser, uma pessoa. Portanto, indo um pouco mais a fundo, concluo que doente é um ser que não está com saúde. É aqui que entra o remédio. E remédio, é bom lembrar, vem de meio, ou seja, trazer a pessoa doente para o meio, “remediar”. Quando nos passamos, seja física ou psicologicamente, na grande maioria das vezes vêm os efeitos colaterais e, para muitos, a somatização. Surgem as doenças das mais variadas formas e locais e contar destas, a forma ma
Sentenças possíveis* “De onde as coisas têm seu nascimento, para lá também devem afundar-se na perdição, segundo a necessidade; pois elas devem expiar e ser julgadas pela sua injustiça, segundo a ordem do tempo”. (A sentença de Anaximandro – tradução de F. Nietzsche). Que o austero filósofo me permita uma espécie de licença poética e/ou talvez temporal – forçosamente adaptada aos nossos dias – de suas palavras. Mas me ocorreu, enquanto relia a sentença, que na nossa atual dimensão espaço-tempo, parece que sofremos uma espécie de sentença em escala planetária, associada aos prenúncios quase apocalípticos de que estamos à beira do caos existencial, pragmaticamente falando! Obviamente que estamos atravessando momentos críticos, no que tange à consistência física, estrutural e social do planeta, entre outros fatores. Mas creio que já estamos nesta fase há algum tempo. Talvez devêssemos começar a agir como as crianças que se encantam e buscarmos uma postura mais deslumbrada diante
Sexo foi feito pra fazer e ter prazer* Se tem uma coisa que é completamente relativa, é o resultado do diálogo quando utilizado para resolver desajustes na vida sexual de um casal. Cada dia fica mais provado, que sexo a gente faz e pronto. Deu certo, ótimo. Não deu. Aí vai depender muito das partes envolvidas serem coerentes e coesas o suficiente para, a partir de uma conversinha, a coisa ir se arrumando. É possível e inteligência, resolve bem isso. Vai depender muito do quesito receptividade e mais ainda de uma virtude extremamente difícil de ser praticada. A humildade. Vai depender ainda de a pessoa te amar a ponto de querer te agradar, mesmo que isto a fira de alguma forma. É bom saber que muitas pessoas amam egoisticamente, ou seja, desde que você as ame mais e nunca as contrarie. É muito difícil para alguém ouvir: É bom, mas... Foi bom, mas... Mais difícil ainda, é aquele que gostaria que algo fosse melhor no outro, precisar se manifestar ou pior ainda, suportar o que fa
Filosofia Clínica e Aconselhamento Pastoral* Muitas são as demandas quando entramos em contato com outro ser humano nos atendimentos paroquiais. Tão vastos quanto os mistérios do ser humano são as dificuldades apresentadas pelo mesmo no processo de construção de sua história pessoal. Cada pessoa é única, e esta singularidade precisa ser respeita. Fórmulas prontas não servem para todas as pessoas. No atendimento pastoral cada caso é um caso, cada história é uma história, cada lágrima é uma lágrima. Há lágrimas de felicidade e de dor. Há expressões faciais e gestuais diferentes. Há silêncios que podem dizer mais que mil palavras. Tudo isto é matéria prima para aquele que tem diante de si não apenas mais uma pessoa, mas sim um ser humano. Fato é, que cada pessoa que procura um padre, não chega ali por acaso. Ela traz consigo um assunto imediato, que nem sempre é realmente a causa de ter chegado até ao padre. Muitas vezes o assunto imediato da procura pode conduzir a um assunto últ
Segredos incompreendidos* “(...) certas conquistas da alma e do conhecimento não podem existir sem a doença, a loucura, o crime intelectual (...).” Thomas Mann A estética do delírio é uma das maneiras da natureza exercitar seus dons, transgredir definições, emancipar horizontes, transbordar limites. Via de exceção por excelência, esse instante de milagre possui linguagem própria. Atribui indícios ao murmurar vontades sobre o sonho dos buscadores de segredos. Nesse vagar incompreendido, a sina do inventor de amanhãs se desdobra diante do precipício das ameaças, contornos de paixão antiga pelas fendas dos padrões discursivos. Uma expressividade assim poderia ficar impronunciada, refugiada nalguma peça de ficção ou desconsiderada pelo saber poder especialista. É admirável no vislumbre descritivo, a interseção onde ingenuidade e descoberta se tocam. Seu momento de atração irresistível sugere, entre influência e agendamento, novos roteiros de saber incerto. João do Rio: “A
A riqueza contida na história de vida* A nossa capacidade de reviver momentos e fatos ocorridos no decorrer da vida pode ser uma experiência intensa e reveladora. Muitas vezes uma fotografia, um aroma, uma flor, uma música nos remetem à vivências intensas que de alguma forma estão registradas na nossa existência. A hitória de vida diz respeito à tudo aquilo que a pessoa vivenciou, sentiu, pensou, intuiu. São registros que nos acompanham no decorrer da caminhada existencial que é unica, singular a cada pessoa, mas também influenciada por questões culturais, religiosas, sociais entre tantas outras que se encarregaram da padronização de certas ações ou comportamentos. Algumas pessoas não se interessam evitam ou ficam desconfortáveis ao visitar sua história. Outras encontram aí um rico manancial de respostas para questões atuais, tomada de decisões e alívio para certas dores do corpo e da alma. A visita à própria história pode ocorrer da várias formas. Algumas pessoas ao acessá-l
Respeite a vida e o tempo do outro* Por que todo ser humano tem a pretensão de achar que pode interferir na vida alheia? Ou dando palpites, ou pitacos, opiniões… Diferente de um psicólogo, psicanalista ou terapeuta que faz a pessoa buscar suas verdades, suas razões, seus princípios e ir em busca da sua individuação, as pessoas em geral acham que têm o direito de invadir a vida alheia e opinar sobre aquilo que lhes convém, da forma que lhes convém, esquecendo que o outro tem uma trajetória diferente, gostos diferentes, escolhas diferentes e principalmente uma história de vida diferente da sua. Talvez seja porque temos a triste ideia de que todos devem seguir como nossa cabeça e nosso coração manda. É estranho saber que outros pensam de forma diferente. O esquisito disso tudo é que na maioria das vezes nós mesmo não sabemos em que direção seguir, pra que lado ir ou com quem ficar. Pior ainda quando cismamos de dar uma de Santo Antônio, Santo Casamenteiro, Cupido ou coisa que o va
Fragmentos filosóficos delirantes XCXVI* "As coisas estão longe de ser todas tão tangíveis e dizíveis quanto se nos pretenderia fazer crer; a maior parte dos acontecimentos é inexprimível e ocorre num espaço em que nenhuma palavra nunca pisou" "As obras de arte são de uma infinita solidão; nada as pode alcançar tão pouco quanto a crítica. Só o amor as pode compreender e manter e mostrar-se junto com elas" "(...) se possuir este amor ao insignificante; se procurar singelamente ganhar como um servidor a confiança daquilo que parece pobre - então tudo se lhe há de tornar fácil, harmonioso e, por assim dizer, reconciliador (...)" "Numa ideia criadora revivem mil noites de amor esquecidas que a enchem de altivez e altitude" "Amar também é bom: porque o amor é difícil. O amor de duas criaturas humanas talvez seja a tarefa mais difícil que nos foi imposta, a maior e última prova, a obra para a qual todas as outras são apenas uma preparaçã
Divagações V* Mais uma divagação no Alétheia. Estava no ônibus seguindo de Juiz de Fora (MG) para Teresópolis (RJ) enquanto ouvia algumas músicas do Teatro Mágico e lembrava uma série de coisas que a música me suscita (e que já relatei num texto anterior). Nesse caminho me vieram aulas que ando assistindo, textos que ando lendo, ideias, etc., enfim, conteúdos que geram o movimento (devir) de meus pensamentos e concepções acerca das coisas. Isso me fez repensar o que ando escrevendo na série Divagações. Repensei, mas não desfiz o que construí nos textos anteriores. Somente senti a necessidade de pensar alguns aspectos não tratados e tratar outros pouco tratados nos escritos precedentes. Encontro-me em um momento ímpar da vida (talvez todos o sejam). Instante em que, racionalmente, critico a tentativa de minha própria razão de querer dar conta de tudo. Tenho voltado a fazer uma coisa que há tempos não havia dado atenção: ouvir música com mais frequência. Isso me trouxe uma série
Diante da folha em branco* Escrever é uma catarse... quase um delírio. Difícil até mesmo dimensionar. Um movimento que transborda, vindo do que ainda falta ser dito, do que nem mesmo se entende, do que se pretende ou não e até do que não se consegue dizer. Vindo do âmago ou da superfície, não importa. O que conta é que costuma vir da alma, do que reconhecemos em nós mesmos; daquilo que se desafia, se precipita e se extingue. Uma eterna página inacabada; um eterno devir. Escrever é quase solitário, imprevisível, incrivelmente confortador! Mas não é um caminho simples. Que ninguém pense que é corriqueiro ou mesmo obviamente possível externar o que se sente ou o que se pensa. Pode ser até doloroso... de uma dor que machuca, mas que também compensa e se redime pelo sofrimento provocado, curando e renovando. Por conta do seu movimento, é uma ação autorreflexiva, autoflageladora, de onde não se prevê a consequência... quase uma loucura, exacerbada pela irresistível ação que a motiv

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