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Fragmentos filosóficos delirantes XCXXII* AS MULTIDÕES Não é dado a todo o mundo tomar um banho de multidão: gozar da presença das massas populares é uma arte. E somente ele pode fazer, às expensas do gênero humano, uma festa de vitalidade, a quem urna fada insuflou em seu berço o gosto da fantasia e da máscara, o ódio ao domicílio e a paixão por viagens. Multidão, solidão: termos iguais e conversíveis pelo poeta ativo e fecundo. Quem não sabe povoar sua solidão também não sabe estar só no meio de uma multidão ocupadíssima. O poeta goza desse incomparável privilégio que é o de ser ele mesmo e um outro. Como essas almas errantes que procuram um corpo, ele entra, quando quer, no personagem de qualquer um. Só para ele tudo está vago; e se certos lugares lhe parecem fechados é que, a seu ver, não valem a pena ser visitados. O passeador solitário e pensativo goza de uma singular embriaguez desta comunhão universal. Aquele que desposa a massa conhece os prazeres febris dos quais se
Leituras de Filosofia Clínica III* “Lembro-me, já nos últimos tempos de sua estada conosco, de um conceito dessa natureza, que nem chegou a ser mesmo um conceito, mas antes unicamente um olhar. Foi quando um célebre historiador e crítico de arte, de renome europeu, anunciou uma conferência na universidade local e logrei persuadir o Lobo da Estepe a que fosse assistir a ela, embora não me demonstrasse nenhum prazer em ir. Fomos juntos e nos sentamos um ao lado do outro no auditório. Quando o orador subiu a tribuna e começou a elocução, decepcionou, pela maneira presumida e frívola de seu aspecto, a muitos de seus ouvintes, que o haviam imaginado algo assim como um profeta. E quando então começou a falar e, à guisa de introdução, endereçou aos ouvintes palavras lisonjeiras, agradecendo-lhes por terem comparecido em tão grande número, nesse exato momento o Lobo da Estepe me lançou um olhar instantâneo, um olhar de crítica àquelas palavras e a toda a pessoa do conferencista, oh!, um ol
A busca do que é “íntimo” na minha tela de computador* Nossa necessidade de outras pessoas é paradoxal. Ao mesmo tempo em que nossa cultura se encontra enredada na celebração de uma independência feroz, também ansiamos por intimidade e por uma ligação com um ser amado especial. Voltando um pouco para a raiz da palavra “intimidade”, do latim “intima”, que significa interior ou “mais interior”, para alguns autores como o Dr. Dan McAdams, que trata do tema intimidade, frequentemente a define assim: “O desejo de intimidade é o desejo de compartilhar nosso eu mais profundo com outra pessoa”. O psicanalista Social Erich Fromm afirmou que o medo mais básico da humanidade é a ameaça de ser isolado de outros seres humanos, que está relacionada afirma ele, a experiências humanas na tenra infância de onde se originam o medo, tristeza e mágoa. Levando-se em consideração a importância vital da intimidade, como tratamos de conseguir intimidade na nossa vida diária? Se uma das definições de i
Estranhamente muda! Ando tão calada que posso escutar as batidas do meu coração... Tenho me questionado o motivo de tanto silêncio e não encontro explicação! Será tristeza, apatia ou nada disso? Será que estou precisando ouvir mais? Mas o que? Como saber? Silenciando mais? Não encontro explicação. Talvez esteja enjoada ou cansada de falar para quem não entende determinadas coisas sutis... Talvez seja um silêncio de indignação ou só solidão. Não é vazio não, isso posso afirmar. Pensei que talvez seja porque ando a pensar em escutar com mais atenção. Porém, certeza, não tenho não! Sinto cada vez mais nítido o perfume das coisas, o som das poucas canções... Angústia também não é não! É um sem explicação! Os pensamentos tentam se organizar em meio ao silêncio do dia, as culpas vão se dissipando com leveza! Estou aprendendo a dizer não. Sim é fácil demais, entretanto, estive passando por cima de meu querer e de meu coração. Até, que o ato de escrever, tem me libertado
Fragmentos filosóficos delirantes XCXXI* "Vagabundo* Eu durmo e vivo no sol como um cigano, Fumando meu cigarro vaporoso, Nas noites de verão namoro estrela; Sou pobre, sou mendigo, e sou ditoso! Ando roto, sem bolsos nem dinheiro; Mas tenho na viola uma riqueza: Canto à lua de noite serenatas, E quem vive de amor não tem pobreza. Não invejo ninguém, nem ouço a raiva Nas cavernas do peito, sufocante, Quando à noite na treva em mim se entornam Os reflexos do baile fascinante. Namoro e sou feliz nos meus amores; Sou garboso e rapaz... Uma criada Abrasada de amor por um soneto Já um beijo me deu subindo a escada... Oito dias lá vão que ando cismado Na donzela que ali defronte mora. Ela ao ver-me sorri tão docemente! Desconfio que a moça me namora! Tenho por meu palácio as longas ruas; Passeio a gosto e durmo sem temores; Quando bebo, sou rei como um poeta, E o vinho faz sonhar com os amores. O degrau das igrejas é meu trono, Minha pátria é o ven
Estamos juntos ?** Haicai * é uma forma extremamente pequena de poesia, surgida no Japão durante o século XVI, que valoriza a concisão e objetividade. A idéia é transcender a limitação imposta pela linguagem usual e pensamento científico-linear e transmitir a percepção da essência de um local, momento, drama em apenas 17 silabas. Tudo precisa estar refletido em poucas palavras. Em seu livro “Shogun”, James Clavell descreve esta forma de expressão como uma parte do ritual onde o guerreiro samurai escreve um Haicai antes de cometer o suicídio. Exemplo: “Barco de papel naufraga na torrente chuva de verão” ou “Estas pimentas! Acrescentai-lhes asas e serão libélulas”. Se já é difícil descrever o significado de uma existência, imagine agora fazer isto em apenas 17 silabas. Palavras impactantes que vão enquadrar o que restou da jornada de alguém neste planeta, neste plano. Um costume ocidental semelhante é colocar frases sobre túmulos e mausoléus (epitáfios) homenageando pessoas ali
Crônica de um Aviso* De que forma lhe avisam que não está bem, que tome cuidado, ou que precisa acordar? Se tentava libertar dos mitos que lhe ensinaram e das lendas que fez em si próprio. Escolhera não um caminho, pois gostava de variedade, mas três possibilidades. Um coração, uma mente e um espírito a seguir. E como agradar a tantos senhores, governantes de bulas diversas? A virtude queria corpo casto e mente limpa, ordeira como receptáculo do Bem, meta do espírito. Invariavelmente não realizava nem um, nem outra, nem outro. E brigava com Fulano, esfomeava Cicrana, amordaçava Beltrano. O fantasma reclama da usura e o ridiculariza em nome de modéstia e humildade, fruta amarelo-ocre com coração de espinhos. - Mas esses valores não estão na moeda, dizia ele. E não sabia se se escravizava nas dívidas, na acumulação ou na pobreza. O corpo mortificado pela mente esmorecia e definhava a esperança por músculos ferozes e poderosos, doces para os dentes da amiga. Não há mais fo
Estilo e Construção - A Alquimia na arte de escrever* Escrever é o mesmo que preparar uma receita. As palavras são os ingredientes necessários na etapa de preparação. Cada palavra somada a muitas outras irá dar a forma e consistência necessárias à elaboração da receita que já existe silenciosa na alma do escritor. Cada um irá elaborar seus textos de acordo com as inspirações nascidas no coração ou na razão. Na alquimia da arte de escrever criam-se estilos e métodos próprios. Cada texto tem sua receita única. Por mais que alguém tente copiar uma receita literária, ela nunca sairá como a original. Estilos na escrita são tão variados quanto às estrelas no céu. Na infinidade das formas está o ser de cada autor. Por isso que escrever é sempre uma aventura solitária. É sempre o autor diante de si mesmo e de suas vivências, na busca de tentar levar até o leitor o mundo que deseja partilhar no plural da vida. O que a vida imprimiu na alma é expresso em palavras nas páginas do tempo.
Uma filosofia da exceção* “Depois de ler essa passagem de Gertrude Stein, estilisticamente estranha: ‘uma rosa é uma rosa, é uma rosa’, ela de repente nos faz perceber que os problemas que a preocupavam só podiam ser expressos daquela forma.” Jacob Bronowski É incrível notar que gestos significativos possam ter o silêncio como chão. Ao saber das coisas indizíveis, parecem restar atitudes de excesso, para além do gesto reconhecível no olhar cotidiano. Esse lugar onde os loucos sonhos se exercitam, aprecia ter vínculos estreitos com a alma em instantes de transgressão criativa. Quase inacreditável ser a interrogação sua própria resposta, um vislumbre a se perder de vista para outros horizontes. Um rascunho de abstração profunda, no lugar nenhum da palavra reconhecida, eis a ousadia desses contornos de exceção. Na raridade da menção obtusa muita coisa morre pra seguir vivendo. Os desdobramentos subjetivos apreciam a i
O lastimável Ser Humano* Tenho uma necessidade bem humana de crescer ,evoluir e estar ligada ao todo, sigo buscando conhecimento, aperfeiçoamento e evolução. Faço exercício para policiar meus limites e respeitar a todos até que possam se mostrar,sem julgar e muito menos sentenciar, é um caminho trabalhoso e exige dedicação. Ontem no final da tarde, estava um pouco envergonhada , não sabia porque sentia aquilo , estava assim mas não era por mim, era por algumas pessoas (poucas felizmente) que acabo tendo que conviver devido as minhas buscas. Criaturas que a principio parecem politicamente corretas , pais e mães de familia, religiosas, espiritas, pessoas que vivem falando da beleza do amor trancendental de espíritos que supostamente são do bem , pessoas pretendem ensinam o amar, que falam de Cristo, do amor ao proximo e ao mesmo tempo as vejo ali discursando e deboxando de quem é diferente, de quem se agita por demanda sentimental. Como pode, pessoas com curso superiror, espe
Vivendo Interpretações* “Para terminar nosso estudo resta esclarecer ainda uma última ficção, um engano fundamental. Todas as ‘interpretações’, toda psicologia, todas as mentiras de tornar as coisas compreensíveis se fazem por meio de teorias, mitologias, de mentiras; e um autor honesto não deveria furtar-se, no fecho de uma exposição, a dissipar essas mentiras dentro do possível. Se digo ‘acima’ ou ‘abaixo’, isso já é uma afirmação que exige um esclarecimento, pois só existem acima e abaixo no pensamento, na abstração. O mundo mesmo não conhece nenhum acima nem abaixo” (Hermann Hesse. O Lobo da Estepe, p. 70). O presente texto expõe a questão da interpretação a partir da qual nos situamos no mundo, no todo, do qual somos parte. E essa interpretação corre o risco de tornar-se tão certa para quem a possui, que a imposição desta aos convivas se torne quase impulsiva. É como se o detentor dessa interpretação, levasse consigo “a verdade”. Os filósofos citados ao longo do texto são apre
Sou assim* Sou pessoa de dentro pra fora. Minha beleza está na minha essência e no meu caráter. Acredito em sonhos, não em utopia. Mas quando sonho, sonho alto. Estou aqui é pra viver, cair, aprender, levantar e seguir em frente. Sou isso hoje. Amanhã, já me reinventei. Reinvento-me sempre que a vida pede um pouco mais de mim. Sou complexa, sou mistura, sou mulher com cara de menina. E vice-versa. Me perco, me procuro e me acho. E quando necessário, enlouqueço e deixo rolar... Não me dôo pela metade, não sou tua meio amiga nem teu quase amor. Ou sou tudo ou sou nada. Não suporto meio termos. Sou boba, mas não sou burra. Ingênua, mas não santa. Sou pessoa de riso fácil...e choro também! Sou gente! *Jane Difini Kopzinski Fisioterapeuta, Quiropraxista, Filósofa Clínica Porto Alegre/RS

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