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A palavra fora de si* Na percepção dos excepcionais arranjos existenciais se movimenta uma euforia narrativa. Sua estética de viés inacabado contém presságios de reciprocidade com o indizível. Seu vislumbre aponta rascunhos de exceção para anunciar regiões desconsideradas. Um traço de alvoroço criativo antecipa subterfúgios de vida nova. Acrescenta rasuras a máscara bem moldada da definição. Seu aspecto de miragem delirante possui uma fonte inesgotável. A nascente multifacetada denuncia o refúgio de onde alça voos e mergulhos ao viver sem pensar. Seu estado de ânimo de embriaguez epistemológica sugere a quimera por onde a irrealidade se faz saber eremita. Sendo evento de rara inspiração, se aloja nas entrelinhas de quase tudo. Ao desrealizar seu cotidiano atualiza andanças pelas margens de si mesmo. Em meio à multidão estrangeira de pensamentos, sensações, ideias o enredo visionário antevê a alquimia das múltiplas versões. A
No conhecer, mais é menos* “Querem que vos ensine o modo de chegar à ciência verdadeira? Aquilo que se sabe, saber que se sabe; aquilo que não se sabe, saber que não se sabe; na verdade é este o saber.” (Atribuída a Confúcio) Tenho pensado em escrever sobre o filósofo alemão Martin Heidegger. Pode parecer estranho que, estudando especificamente um autor, fale tão pouco sobre ele – embora suas influências não deixem de aparecer no que escrevo para o Alétheia. Pensei em diversas possibilidades para apresentá-lo: a partir de resenhas, de textos introdutórios, de temas, de problemas, etc. Enfim, fiquei me perguntando o motivo da minha autocrítica constante em não expô-lo, haja vista que é minha leitura mais frequente. E, em meio a essas interrogações, acabei chegando à conclusão de que quanto mais conheço determinada situação, ideia, pessoa, mais sei o quanto estou longe de compreendê-las em sua totalidade, profundidade ou mais me convenço do quanto é limitado meu conhecimento.
Fragmentos filosóficos delirantes XCXXVII* Estranheza do Mundo Olho a árvore e indago: está aí para quê? O mundo é sem sentido quanto mais vasto é. Esta pedra esta folha este mar sem tamanho fecham-se em si, me repelem. Pervago em um mundo estranho. Mas em meio à estranheza do mundo, descubro uma nova beleza com que me deslumbro: é teu doce sorriso é tua pele macia são teus olhos brilhando é essa tua alegria. Olho a árvore e já não pergunto "para quê"? A estranheza do mundo se dissipa em você. *Ferreira Gullar
Os Sinais do Caminho* Breno cuidou tanto os sinais que esqueceu da estrada. Percorreu todo o trajeto e quando terminou sabia exatamente que tinha terminado porque tinha lido na última placa, metros antes. Alcina viveu a estrada, os sinais eram apenas referências, instruções sobre cuidados. Avistou Breno diversas vezes, mas este nunca a viu. Afonso povoou a jornada com sinais contraditórios. Acabou atrapalhado, mas não sabia direito com o que, uma vez que um sinal lhe avisava que tudo estava bem, calçadas abertas. Clóvis nunca viu qualquer sinal, sempre guiou pelo curso que se abria diante de seus olhos, viajou bem, chegou em paz; diferente do que houve com Evaristo, que também ignorava os sinais, e acabou precocemente sua andança em uma bifurcação acentuada à esquerda. Gunter vinha atrás de Clóvis e de Evaristo, cuidou as coisas, cuidou ambos, tornou-se um especialista na evolução de Clóvis e de Evaristo, mas pouco sabia de si mesmo. Isso não lhe interessava, aliás. Herald
Sem palavras...* Sabe aquele momento em que tudo parece sem cor, sem tom, sem sabor? Aquele momento cinza, sem sentido, sem vida... Aquele momento, Aquele! Sabe quando tudo parece simples e complicado? Enrolado e são? Sabe? As cores mais pastéis... A vida por um triz e uma noite gris? Que nem uma gota pode ser, tampouco saber! Eu tento expressar, mas... Sei lá! Estranhamento na alma criativa e ativa Apatia, dor, solidão Nenhum grão! Nada, ninguém, vazio, fundo, profundo, obscuro. Sem palavras, só um pulsar, bem devagar Leve, quase sem cor, pálido! Frio, quente, morno, insensato... Ingrato! Momento de hiato... Medo? Tristeza? Desencontro? Sei não. Nenhuma definição adequada ou bem estruturada Suspiros, madrugada! Fome, sede, vontades... Sem sanidade. *Vanessa Ribeiro Filósofa, matemática, atriz, dançarina, estudante de filosofia clínica Petrópolis/RJ
Fragmentos filosóficos delirantes XCXXVI* "A presença do caos impede que o mundo se imobilize. O mundo não é só uma coleção de coisas, é também o arranjo das coisas, tocadas pelos projetos dos que nele habitam. O mundo está e não está pronto" "Tanto no líquido derramado quanto nas folhas levadas pelo vento, a desordem existe só para o observador incauto. Águas e folhas movem-se rigorosamente dentro de leis estabelecidas pela natureza" "O homem define-se nas suas muitas relações. Define-se ao se indefinir. Onde procurar o homem se a cada instante quebra grilhões ?" "A busca da verdade empreende-se no silêncio, longe do ruído das multidões. Estas exigem palavras claras, consagradas, familiares. Como esperar que aplaudam intrincadas oposições ? Os que se embrenham no matagal do saber carregam a singularidade como sacrifício. Isolam-se, porque a poucos interessa tão insólita aventura. Forma-se uma elite marginalizada, porque colocada sem recursos
O Palhaço das Ilusões* A alegria no picadeiro prometia ao meu coração triste uma manhã com sabores de eternidade. O sorriso atrás da maquiagem que lhe roubava o seu verdadeiro semblante escondia um olhar que descobri somente quando me ofereceu uma flor enquanto eu esperava a pipoca ficar pronta. Enquanto ela estourava na panela meu coração estourava de alegria dentro de um sorriso que não conseguia disfarçar. Enquanto o circo arrastava multidões, você arrastava meu coração para os seus braços. Nada conseguia esconder minha felicidade diante do espetáculo do amor que a cada noite se tornava mais belo. Foi assim que em muitas noites que pareciam nunca terminar que planejamos um futuro sem máscaras ou tristezas. No palco eu contemplava seu olhar a distância. Em meio à multidão eu colhia cada sorriso seu como as mais belas flores no jardim dos meus sonhos. Naquela noite em que a chuva chegou sem avisar, voltei para casa contemplando as estrelas que se emocionavam com minha felicidade

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