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Fragmentos filosóficos delirantes XCXIX* Convite Não sou a areia onde se desenha um par de asas ou grades diante de uma janela. Não sou apenas a pedra que rola nas marés do mundo, em cada praia renascendo outra. Sou a orelha encostada na concha da vida, sou construção e desmoronamento, servo e senhor, e sou mistério A quatro mãos escrevemos este roteiro para o palco de meu tempo: o meu destino e eu. Nem sempre estamos afinados, nem sempre nos levamos a sério. *Lya Luft
Sons da alma* “E na luz nua eu vi...pessoas escrevendo canções que vozes jamais compartilharam. E ninguém ousava perturbar o som do silêncio” (Simon & Garfunkel) Existem sons que vem de algum lugar que não distinguimos. Até conseguimos ouvi-los, mas eles nos surpreendem como se fossem brumas sonoras a se espalhar pelo ar... Essas ondas se espalham, penetram os sentidos e invadem expectativas, preenchendo entranhas e formando novos sonhos. Às vezes, formam delírios e transportam a outros mundos. Outras vezes, recordam instantes de êxtase que se propagam como impulsos a invadir destinos. Mas podem também massacrar como ferros, rasgando e ferindo, sepultando lembranças. E há os sonhos que cristalizam o momento, não permitindo que o tempo caminhe... ou talvez apenas o torne lento o bastante para que seus passos sejam marcados pelo deleite de um clímax anunciado. Esses momentos são como pérolas resgatadas que reverberam a concha que as abriga. Esses acordes iluminam os coraç
Me Esqueci de Viver* Querido leitor e querida leitora, paz! Em nosso artigo de hoje vamos refletir sobre uma bonita música gravada inicialmente pelo espanhol Julio Iglesias e regravada no Brasil numa versão assinada por José Augusto. Tanto um quando o outro foram cantores que marcaram a minha geração. A música “Me Esqueci de Viver” foi muito usada na minha época de grupo de jovens da igreja católica, principalmente nos anos de 1980 e depois, de casais na década seguinte, em 1990. Em 2006 foi uma das músicas que mais cantei no caminho de Santiago. Arrepiado saboreava a sua letra que, provavelmente, funcionou como uma dose de ânimo até chegar à casa do santo. Eis as duas primeiras estrofes: “De tanto correr pela vida sem freio, me esqueci que a vida se vive num momento. De tanto querer ser em tudo o primeiro, me esqueci de viver os detalhes pequenos”. “De tanto brincar com os sentimentos, vivendo de aplausos envoltos em sonhos, de tanto gritar as canções ao vento, já não sou o que
Antes de morrer, viva! Atenção! Este artigo pode ser lido por pessoas de todas as idades, mas dependendo da faixa etária, despertará interesses diversos e quem sabe até, antagônicos. Jovens não têm idéia e nem imaginam como será sua velhice, muito menos a morte. Já os velhos, mais sábios e experientes, convivem com a proximidade da morte mais realisticamente. Embora possa parecer paradoxal, este artigo é dedicado a todos aqueles que não querem envelhecer. Jovens, meia-idade e idosos, leiam enquanto é tempo. Um dos grandes sonhos da humanidade é a descoberta da fonte da juventude. Fortunas e vidas foram e continuam sendo gastas nesta procura. Milhões de pessoas foram enganadas com promessas de retardar, parar ou reverter o envelhecimento e a ilusão da vida eterna. Nas bases científicas atuais, imortalidade ainda é uma impossibilidade. Mesmo eliminando todas as causas de morte relacionadas ao envelhecimento que aparecem nos atestados de óbito, ainda assim ocorreriam acidentes
Fragmentos filosóficos delirantes XCXVIII* O Analista de Bagé Certas cidades não conseguem se livrar da reputação injusta que, por alguma razão, possuem. Algumas das pessoas mais sensíveis e menos grossas que eu conheço vem de Bagé, assim como algumas das menos afetadas são de Pelotas. Mas não adianta. Estas histórias do psicanalista de Bagé são provavelmente apócrifas (como diria o próprio analista de Bagé, história apócrifa é mentira bem educada) mas, pensando bem, ele não poderia vir de outro lugar. Pues, diz que o divã no consultório do analista de Bagé é forrado com um pelego. Ele recebe os pacientes de bombacha e pé no chão. — Buenas. Vá entrando e se abanque, índio velho. — O senhor quer que eu deite logo no divã? — Bom, se o amigo quiser dançar uma marca, antes, esteja a gosto. Mas eu prefiro ver o vivente estendido e charlando que nem china da fronteira, pra não perder tempo nem dinheiro. — Certo, certo. Eu... — Aceita um mate? — Um quê? Ah, não. Obrigado.
A palavra fora de si* Na percepção dos excepcionais arranjos existenciais se movimenta uma euforia narrativa. Sua estética de viés inacabado contém presságios de reciprocidade com o indizível. Seu vislumbre aponta rascunhos de exceção para anunciar regiões desconsideradas. Um traço de alvoroço criativo antecipa subterfúgios de vida nova. Acrescenta rasuras a máscara bem moldada da definição. Seu aspecto de miragem delirante possui uma fonte inesgotável. A nascente multifacetada denuncia o refúgio de onde alça voos e mergulhos ao viver sem pensar. Seu estado de ânimo de embriaguez epistemológica sugere a quimera por onde a irrealidade se faz saber eremita. Sendo evento de rara inspiração, se aloja nas entrelinhas de quase tudo. Ao desrealizar seu cotidiano atualiza andanças pelas margens de si mesmo. Em meio à multidão estrangeira de pensamentos, sensações, ideias o enredo visionário antevê a alquimia das múltiplas versões. A
No conhecer, mais é menos* “Querem que vos ensine o modo de chegar à ciência verdadeira? Aquilo que se sabe, saber que se sabe; aquilo que não se sabe, saber que não se sabe; na verdade é este o saber.” (Atribuída a Confúcio) Tenho pensado em escrever sobre o filósofo alemão Martin Heidegger. Pode parecer estranho que, estudando especificamente um autor, fale tão pouco sobre ele – embora suas influências não deixem de aparecer no que escrevo para o Alétheia. Pensei em diversas possibilidades para apresentá-lo: a partir de resenhas, de textos introdutórios, de temas, de problemas, etc. Enfim, fiquei me perguntando o motivo da minha autocrítica constante em não expô-lo, haja vista que é minha leitura mais frequente. E, em meio a essas interrogações, acabei chegando à conclusão de que quanto mais conheço determinada situação, ideia, pessoa, mais sei o quanto estou longe de compreendê-las em sua totalidade, profundidade ou mais me convenço do quanto é limitado meu conhecimento.
Fragmentos filosóficos delirantes XCXXVII* Estranheza do Mundo Olho a árvore e indago: está aí para quê? O mundo é sem sentido quanto mais vasto é. Esta pedra esta folha este mar sem tamanho fecham-se em si, me repelem. Pervago em um mundo estranho. Mas em meio à estranheza do mundo, descubro uma nova beleza com que me deslumbro: é teu doce sorriso é tua pele macia são teus olhos brilhando é essa tua alegria. Olho a árvore e já não pergunto "para quê"? A estranheza do mundo se dissipa em você. *Ferreira Gullar
Os Sinais do Caminho* Breno cuidou tanto os sinais que esqueceu da estrada. Percorreu todo o trajeto e quando terminou sabia exatamente que tinha terminado porque tinha lido na última placa, metros antes. Alcina viveu a estrada, os sinais eram apenas referências, instruções sobre cuidados. Avistou Breno diversas vezes, mas este nunca a viu. Afonso povoou a jornada com sinais contraditórios. Acabou atrapalhado, mas não sabia direito com o que, uma vez que um sinal lhe avisava que tudo estava bem, calçadas abertas. Clóvis nunca viu qualquer sinal, sempre guiou pelo curso que se abria diante de seus olhos, viajou bem, chegou em paz; diferente do que houve com Evaristo, que também ignorava os sinais, e acabou precocemente sua andança em uma bifurcação acentuada à esquerda. Gunter vinha atrás de Clóvis e de Evaristo, cuidou as coisas, cuidou ambos, tornou-se um especialista na evolução de Clóvis e de Evaristo, mas pouco sabia de si mesmo. Isso não lhe interessava, aliás. Herald

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