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Fragmentos filosóficos delirantes XCXXXX* Um viciado em Facebook me segredou, não segredou de fato, mas gabou-se para mim de que havia feito 500 amigos em um dia. Minha resposta foi que eu tenho 86 anos mas não tenho 500 amigos. Eu não consegui isso. Então, provavelmente quando ele diz amigo, e eu digo amigo, não queremos dizer a mesma coisa. São coisas diferentes. Quando eu era jovem, nunca tive o conceito de redes. Eu tinha o conceito de laços humanos, de comunidades. Esse tipo de coisa, mas não redes. Qual é a diferença entre comunidade e rede? A comunidade precede você. Você nasce numa comunidade. Por outro lado, temos uma rede. E o que é uma rede? Ao contrário da comunidade a rede é feita e mantida viva por duas atividades diferentes: uma é conectar e a outra é desconectar. E eu acho que a atratividade do novo tipo de amizade do Facebook, como eu a chamo, está exatamente aí. Que é tão fácil de desconectar. É facil conectar, fazer amigos, mas o maior atrativo é desconectar
Poética clandestina* “A alquimia do verbo é um delírio” Arthur Rimbaud 1854-1891 Uma profecia de caráter excepcional recai sobre alguns escolhidos, parecem surgir de uma cepa rara, sujeitos a descrever a saga do personagem marginal. Estruturados para surgir como transgressão continuada, ser iconoclastas e seus contrários, quase ao mesmo tempo, desconstroem a certeza de uma só verdade para todas as coisas. A atitude inesperada de toda razão oferece a perspectiva plural na forma de poesia, filosofia, arte, subversão estética ao mundo instituído. No caso da inquietude filosófica, antes de virar técnica acadêmica, é a concepção do eu como outros que retorna na inspiração libertária dos movimentos da irreflexão. Um cavalheiro andante em busca de sua tribo encontra Adão e Eva no paraíso da singularidade. A palavra realiza u
SANTOS E PECADORES* “Todo homem vale mais que seu erro”. Li esta frase e pensei em escrever sobre os errantes, mas não com aquele olhar que enaltece o homem que erra na tentativa de descobrir algo ou acertar. Também não pretendo analisar crimes ou outros atos bestiais. Quero falar do outro lado do erro, daquelas pessoas que sem qualificação nem designação para a função, colocam-se no lugar de juízes, criticam e decidem o que é moralmente correto ou incorreto. Levam em conta suas verdades, aquilo que aprenderam ou lhes é conveniente no momento para condenar o suposto erro do outro. Acham-se donos da verdade, santos, castos, honestos, mas nem sempre fazem aquilo que pregam, tampouco reconhecem os próprios erros. Imaginem uma mulher que no início do século XX, teve a ousadia de se divorciar, realizando aquilo que muitas secretamente desejavam. Algumas mais destemidas chegavam até mesmo a planejar a própria morte ou a dos maridos como solução de seus casamentos infelizes. P
Escrituras, desleituras, releituras II* " Enquanto detivermos os olhos nos países de cultura mais avançada e adotarmos critérios de beleza em moda neles para adaptá-los aos nossos, nossa arte será um pueril arremedo, sem força para subsistir mais que o período de duração dessa moda" "(...) a literatura no Brasil é mero diletantismo, a que só por irresistível pendor natural se entregam sonhadores, os quais mais naturalmente propendem para o verso, propício aos sonhos e fantasias, que para a prosa, mais amiga das realidades" "(...) e fez da sua vida a sua grande obra d´arte" " (...) mas para eu te dar a minha atenção e o meu apoio é necessário que me dês tu´alma inteira transubstanciada em obras de vulto como as quero. Constrói-me com isso, por exemplo, o romance de São Paulo, o romance das ruas que esfervilham burburinhantes, como caudal de sonhos, ambições, vaidades, sofrimentos, a defluir para o sorvedouro do grande Nada.." "Que c
O ser: consideração inicial* Desde Parmênides a filosofia ficou conhecida como aquela que busca o ser. O ser foi um conceito abstrato elaborado pelo homem para referir-se à totalidade. Entretanto, a abstração não significa destituição ou afastamento da concretude da vida. “Abstrato significa elaborado pelo espírito a partir da experiência.”[i] O filósofo é aquele que, antes de tudo, vive. Nessa vivência reconhece que há um conhecer caracterizado por um saber prático. Ou seja, o homem vive na ocupação (prática) de seus afazeres deparando-se constantemente com os entes em seu sentido individualizado: ferramentas, objetos, carros, pessoas, etc. Entretanto, há um elemento que impulsiona o homem a encontrar uma unidade de significado da realidade. Um desses impulsos é o caráter de indigência próprio do homem, que se vê na iminência de formar sua identidade a partir do que lhe é externo, ou do que não é o si próprio. Nessa busca, reconhece que há um fundamento que possibilita a relação
Vale quanto pesa* Quanto vale o seu prazer? E o que te dá prazer? Já sei. O poder te dá prazer. Não? Você nem sabe o que é o poder? Você tem um poder? Todos nós temos algum poder, depende do quanto e como o sabemos. Para mim, depende também do quanto precisamos representá-lo para o mundo. Ok, novamente a pergunta: Quanto vale o seu prazer? O meu prazer vale uma gargalhada, um suspiro profundo, a beleza de um olhar verdadeiro, uma acomodação da alma, um pulsar cardíaco além do natural, um aperto no ventre imoral. Vale alguém me pedir o meu sorriso mais aberto e gostoso, vale minhas lágrimas de alegria e a minha certeza em pensar que naquele momento eu morreria feliz. O meu prazer vale a minha casa em paz e o meu direito de ir e vir resguardado. Vale eu me reconhecer como uma pessoa boa e justa, ainda que defenda o meu ponto de vista sobre Deus e o mundo. O meu prazer vale me dedicar ao homem que eu amo sem me preocupar se aos olhos do mundo, sou menos alguma coisa que a conv
Forças que movem mundos* “A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original" (Albert Einstein) O mundo é movido por forças... provavelmente por infinitas forças pulverizadas a partir das vontades de todos que habitam seus próprios mundos. São forças passíveis de vencer inércias, sejam físicas ou existenciais. E que impulsionam a espiral existencial em direção ao desconhecido, na sua tortuosa trilha rumo ao limite que a espera. Teoricamente, até agora foram determinadas apenas quatro forças fundamentais, que ditam a coerência e a coesão do que percebemos e de como entendemos a realidade que experimentamos. A força gravitacional, aquela da maçã, é a que nos confere peso e nos mantém conectados ao planeta; a que não permite que a Lua caia sobre a Terra e a que impede o Universo de se estatelar sobre si mesmo. A questão é saber até que ponto estamos realmente atados a esta condição intrínseca à existência. A gravidade é apenas um atributo físico, ain
Rasuras a foto inesquecível* O processo de reinvenção pessoal está vinculado à superação dos obstáculos de travessia. As etapas de antes ou depois costuma exigir menos. A interseção entre ideia e atitude será testada e pode não bastar. A escolha e ensaio dos procedimentos, além de um robusto autoconhecimento podem ser decisivos para concretizar buscas. Um freio eficaz é a revisita ao velho álbum de fotografias. A escolha dos conselheiros, a idealização do que já passou. Olhar para trás, seguidamente e sem perspectiva agenda retrocessos, estanca transbordamentos, aprecia a sensação de protagonista em uma estória que não lhe pertence. À pessoa refém dessa lógica, ao querer matar a saudade, mata a vida passando. Sim, existem pessoas que vivem bem onde estão. Não se sentem ameaçadas com a transformação ao seu redor. Existencialmente pacificadas, testemunham a movimentação alheia com certa tranquilidade. Outra armadilha de transição é
Renascer em Vida* Queridos leitores, Pablo Neruda, poeta chileno, diz que “morre lentamente quem não lê, quem não viaja, quem não ouve música, quem não acha graça em si mesmo, quem destrói seu amor próprio, quem não se deixa ajudar...” O mestre Jesus Cristo diz que “a semente tem que cair na terra, morrer para depois renascer”. Para mim, Ele estava falando dele mesmo, da sua paixão, de sua morte e, acredito, do nascimento do Cristianismo. Algumas pessoas são como mortos vivos, apenas respiram, comem e caminham, mas não sabem eles que “estão mortos”. Não sentem mais o gosto da comida, da bebida, não gostam do canto dos pássaros, não percebem a beleza das flores, não sentem o perfume da rosa, da orquídea. A lua, as estrelas, o sol, a noite, o dia, o inverno, o verão não são mais percebidos. Atravessam uma praça de flores e borboletas e não percebem, estão apressados. Apressados para quê? No que estamos nos transformando? Parece-me que estamos nos suicidando lentamente sem percebe
Escrituras, desleituras, releituras I* " Kafka, talvez sem o saber, sentiu que escrever é entregar-se ao incessante" "A escrita automática tendia a suprimir as limitações, a suspender os intermediários,a rejeitar toda mediação, punha em contato a mão que escreve com algo de original" "Quanto mais a inspiração é pura, mais aquele que penetra no espaço de sua atração, onde ele ouve o chamado mais próximo da origem, está despojado, como se a riqueza em que ele toca, essa superabundância da fonte, fosse também a extrema pobreza, fosse, sobretudo, a superabundância da recusa, fizesse dele o que não produz, o que vagueia no seio de uma ociosidade infinita" "Para Kafka, a angústia, os contos inacabados, o tormento de uma vida perdida, de uma missão traída, cada dia convertido de que 'a metamorfose é ilegível, radicalmente fracassada'" "A leitura do poema é o próprio poema, que se afirma obra na leitura, que, no espaço mantido aber
Filosofia: o ser, o conhecer, a linguagem* A filosofia, conforme apresentado em Introdução ao pensar[i], é compreendida a partir de três elementos: o ser, o conhecer e a linguagem. Trata-se de instâncias que se complementam na experiência do filosofar. Sucintamente é necessário elucidá-los, sabendo que serão paulatinamente esclarecidos ao longo das reflexões que sucederão esta. Esses textos sucessivos são baseados no supracitado livro de Arcângelo Buzzi e são parte de um autoexercício de resenha, resumo e exposição de conteúdos alheios os quais nem sempre estarei de acordo.[ii] Um conceito central e que serve de elo aos termos dessa reflexão é o pensar. “O homem é definido como ser que pensa ou animal que fala”[iii], ou seja, o pensamento e a fala, ou linguagem, são características marcadamente humanas. O homem que vive dentro do todo da realidade busca por meio do pensar expressar via linguagem essa realidade que se lhe desvela. Este é possível por meio dos entes, são por estes qu
Íntimas entregas* Os ipês rosa começam a entregar buquês aqui no cerrado. No inverno também é possível se apaixonar, e apaixonar pelo mesmo, reapaixonar, sofrer por isso e tentar se reconstruir. Nas entregas íntimas de falas inéditas, temos o outro em nossa mão, uma mão macia e paciente, que ainda é um carinho; as mãos que são os ouvidos do terapeuta, em seu cotidiano missionário, brincado por encontros de magnificência emocional. Enriquecem nosso pensamento letrado com a premência de entendimento sobre suas estratégias de vida, os motivos escusos, indiretos, as raízes dos comportamentos e dos gostos à primeira vista incompreensíveis e revividos a partir de óleos essenciais, peças de roupa, flores secas e texturas coloridas. E aparece a fala rebelde: quem quer livros que andam? Pessoas há muito substantivas, há as ativas, as interjeitivas. Mas muito nos assustam mesmo os seres adjetivos, para além da teoria, e vice-versa. A vida sensível, na nossa semana de compromissos e con

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