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Apontamentos, poéticas noturnas IV* O Mapa Olho o mapa da cidade Como quem examinasse A anatomia de um corpo… (É nem que fosse o meu corpo!) Sinto uma dor infinita Das ruas de Porto Alegre Onde jamais passarei… Há tanta esquina esquisita, Tanta nuança de paredes, Há tanta moça bonita Nas ruas que não andei (E há uma rua encantada Que nem em sonhos sonhei…) Quando eu for, um dia desses, Poeira ou folha levada No vento da madrugada, Serei um pouco do nada Invisível, delicioso Que faz com que o teu ar Pareça mais um olhar, Suave mistério amoroso, Cidade de meu andar (Deste já tão longo andar!) E talvez de meu repouso… * Mario Quintana 1906 - 1994
Apontamentos, poéticas noturnas III* Aninha e suas pedras Não te deixes destruir… Ajuntando novas pedras e construindo novos poemas. Recria tua vida, sempre, sempre. Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça. Faz de tua vida mesquinha um poema. E viverás no coração dos jovens e na memória das gerações que hão de vir. Esta fonte é para uso de todos os sedentos. Toma a tua parte. Vem a estas páginas e não entraves seu uso aos que têm sede. *Cora Coralina 1889 - 1985
Apontamentos, poéticas noturnas II* Traduzir-se Uma parte de mim é todo mundo: outra parte é ninguém: fundo sem fundo. Uma parte de mim é multidão: outra parte estranheza e solidão. Uma parte de mim pesa, pondera: outra parte delira. Uma parte de mim almoça e janta: outra parte se espanta. Uma parte de mim é permanente: outra parte se sabe de repente. Uma parte de mim é só vertigem: outra parte, linguagem. Traduzir-se uma parte na outra parte - que é uma questão de vida ou morte - será arte? * Ferreira Gullar
Qual teu trauma?* - Tenho trauma de galinha! - Como assim? Que coisa mais estranha, explica melhor. Trauma de galinha com pena ou trauma de mulher galinha? - Não, meu trauma é do bicho galinha, aquele animal que faz cocóricocó. Espera um pouco, tenho trauma de mulher galinha também, mas este não me incomoda tanto. - Entendi, mas como é que uma galinha te deixou traumatizado? - Quando eu era criança, meus avós tinham galinhas no pátio e brincávamos com elas. Um dia, a mais grandona do galinheiro, saiu correndo atrás de mim me bicando. Quanto mais eu corria e gritava, as outras galinhas pareciam se unir a ela cacarejando e me bicando. A partir daí eu fiquei traumatizado com esta imagem e tenho medo de galinha. Se houvesse uma aqui, nesta sala, eu não entraria, muito menos tocaria nela. Tenho nojo do cheiro, do jeito como elas andam... - Tens certeza de que era mesmo uma galinha ou podia ser um galo? - Pois é, faz tanto tempo que nem lembro, mas por via das duvidas, ten
Apontamentos, poéticas noturnas I* ‎[…] porque, para mim, pessoas que me interessam, pessoas mesmo são os loucos, os que estão loucos para viver, loucos para falar, loucos para serem salvos, que querem tudo ao mesmo tempo, aqueles que nunca bocejam e jamais dizem coisas comuns mas queimam, queimam, queimam, como fabulosos fogos de artifício, explodindo como constelações em cujo centro fervilhante se pode ver um brilho intenso. *Jack Kerouac 1922 - 1969
Fonte* A fonte deste trabalho está no meu fluente interesse pelas movimentações do planeta Água chamado Terra. Foi através da Astrologia que passei a me sentir acolhida por este planeta, já que ela consegue mapear e indicar essas movimentações de forma viva, desenhando possibilidades a partir não somente de eixos, como também de triângulos, quadrados, retas e pontos, que se relacionam tanto ao mesmo tempo como ao longo do mesmo. A Astrologia é um saber dinâmico, considera e versa sobre a complexidade. Desde cedo, orientou muitos povos e, dentre eles, minhas crenças e buscas também. Como grande aliada do mapeamento destas possibilidades (a)fluentes, está a sabedoria Pitagórica, Numerológica, complementar de forma surpreendente da organização analítica entorno de um temperamento ou contexto que se apresente. De forma impressionante localiza períodos precisamente e define suas respectivas tônicas. A Voz da Sabedoria, como foi profetizado seu nome – Pitágoras -, realmente acessa a a
Fragmentos filosóficos delirantes XCXXXXV* Ismália Quando Ismália enlouqueceu, Pôs-se na torre a sonhar... Viu uma lua no céu, Viu outra lua no mar. No sonho em que se perdeu, Banhou-se toda em luar... Queria subir ao céu, Queria descer ao mar... E, no desvario seu, Na torre pôs-se a cantar... Estava perto do céu, Estava longe do mar... E como um anjo pendeu As asas para voar... Queria a lua do céu, Queria a lua do mar... As asas que Deus lhe deu Ruflaram de par em par... Sua alma subiu ao céu, Seu corpo desceu ao mar... *Alphonsus de Guimaraens 1870 - 1921

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