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DESCULPA LETÍCIA* Estava noivo, casamento marcado para o mês seguinte, quando fui abordado por uma namorada da adolescência, pedindo que abandonasse todos os planos e voltasse para ela. Parece até enredo de novela mexicana, mas a vida nos reserva surpresas que superam a ficção. Sabe aquela fase em que você está apaixonado, só tem olhos para sua amada, decoram juntos o apartamento onde vão morar, planejam detalhes da festa de casamento, entregam convites e sonham acordados com a lua de mel? Neste clima surge a Letícia jogando areia, propondo terminar meu casamento e re-iniciar um romance antigo. Havíamos namorado durante quase cinco anos. Foi um namoro ótimo, até o dia em que o pai dela foi transferido para outro estado e a família o acompanhou. Trocamos cartas com juras de amor durante um tempo, mas a distância foi nos afastando até que perdemos totalmente o contato. Quase dez anos sem noticias, para agora receber este furo de reportagem dizendo que sou o amor de sua vida e que
Apontamentos, poéticas noturnas XIV* Com licença poética Quando nasci um anjo esbelto, desses que tocam trombeta, anunciou: vai carregar bandeira. Cargo muito pesado pra mulher, esta espécie ainda envergonhada. Aceito os subterfúgios que me cabem, sem precisar mentir. Não sou feia que não possa casar, acho o Rio de Janeiro uma beleza e ora sim, ora não, creio em parto sem dor. Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina. Inauguro linhagens, fundo reinos — dor não é amargura. Minha tristeza não tem pedigree, já a minha vontade de alegria, sua raiz vai ao meu mil avô. Vai ser coxo na vida é maldição pra homem. Mulher é desdobrável. Eu sou. *Adélia Prado
Mozarts e Saliéris* Existe um tema quase invisível, talvez por seu teor ideológico: o convívio professor- aluno (destaque), ao qual ofereço algumas reflexões. Numa relação conturbada, muitos mestres, no convívio com seus alunos de maior competência, buscam desmerecê-los. Em uma sucessão de atitudes contraditórias: algumas vezes hostis outras elogiosas, propõe alijar o aluno de algo que lhe pertence. O crime deste? Ter habilidades e talentos singulares na disciplina do professor, muitas vezes até, ultrapassando os limites dos seus ensinamentos. A história nos ajuda a recordar o teor clássico do tema. Na premiada peça de teatro Amadeus de Peter Shaffer (1979), inspiradora do filme Amadeus de Milos Forman (1984), ganhador de vários prêmios, se vê retratado um período da vida e a convivência de Antonio Saliéri e Wolfgang Amadeus Mozart. No filme aparece um Saliéri, compositor italiano, integrante da corte de José II da Áustria como um mestre competente. Professor de gênios c
Apontamentos, poéticas noturnas XIII* Subversiva A poesia Quando chega Não respeita nada. Nem pai nem mãe. Quando ela chega De qualquer de seus abismos Desconhece o Estado e a Sociedade Civil Infringe o Código de Águas Relincha Como puta Nova Em frente ao Palácio da Alvorada. E só depois Reconsidera: beija Nos olhos os que ganham mal Embala no colo Os que têm sede de felicidade E de justiça. E promete incendiar o país. * Ferreira Gullar
Incertezas* Hoje estava pensando em como é difícil viver nesse mundo repleto de incertezas de um constante vai e vem por todos os lados. Sentei em um bar – sim, porque à beira do caminho é só para os literatos – para tomar um chope e pensar na vida. Recentemente, li um livro de um filósofo brasileiro chamado Mário Sergio Cortella que nos coloca muitas inquietações. O livro se chama Qual a tua obra? e eu me peguei pensando nisso enquanto tomava minha gelada. Confesso que não consegui pensar em nada... Só via pessoas indo e vindo em um frenesi que toma conta hoje de qualquer lugar no mundo – afinal, somos mais de 7 bilhões de destruidores do meio ambiente. Ainda absorto em meus pensamentos o olhando fixamente para o nada, comecei a pensar que poderia estar ficando maluco e que poderia estar sendo acometido pela doença dos grandes filósofos, assim como Nietzsche: a loucura. Sim! Porque nada faz sentido! As pessoas passando, de um lado para o outro, os ônibus e os carros – aliás, j
Texto de consulta * A página branca indicará o discurso Ou a supressão o discurso? A página branca aumenta a coisa Ou ainda diminui o mínimo? O poema é o texto? O poeta? O poema é o texto + o poeta? O poema é o poeta - o texto? O texto é o contexto do poeta Ou o poeta o contexto do texto? O texto visível é o texto total O antetexto o antitexto Ou as ruínas do texto? O texto abole Cria Ou restaura? O texto deriva do operador do texto Ou da coletividade — texto? O texto é manipulado Pelo operador (ótico) Pelo operador (cirurgião) Ou pelo ótico-cirurgião? O texto é dado Ou dador? O texto é objeto concreto Abstrato Ou concretoabstrato? O texto quando escreve Escreve Ou foi escrito Reescrito? O texto será reescrito Pelo tipógrafo / o leitor / o crítico; Pela roda do tempo? Sofre o operador: O tipógrafo trunca o texto. Melhor mandar à oficina O texto já truncado. A palavra cria o real? O real cria a palavra? Mais difícil de aferrar: Real
O poder das palavras...* Existem palavras caras, outras baratas, outras bonitas e outras sem graça. A palavra "graça" não tem a menor graça! É vazia, fria, triste... Já a palavra "triste" é pomposa, forte, elegante, robusta! Sinto até vontade de falar... Oh! Que triste dia... A palavra "alegria" em compensação trás muita satisfação, não sei se pela pronúncia ou por sua vibração. O que sei, que no campo do saber é quase nada, são que existem palavras que são mais belas e sofisticadas que outras e que por isso costumam ser expressadas. Entretanto, eu procuro me certificar de todas as palavras utilizadas por mim, pois um simples "oi" pode ter vários significados. E, como significamos as coisas!!! Percebo que uma mesma palavra proferida por mim pode ter um significado totalmente invertido ou truncado para um outro... Amo muito todas as palavras, são elas que preenchem meu vazio quando nada mais vale por perto. Eu escrevo e relaxo...
Apontamentos, poéticas noturnas XII* AS MULTIDÕES Não é dado a todo o mundo tomar um banho de multidão: gozar da presença das massas populares é uma arte. E somente ele pode fazer, às expensas do gênero humano, uma festa de vitalidade, a quem urna fada insuflou em seu berço o gosto da fantasia e da máscara, o ódio ao domicílio e a paixão por viagens. Multidão, solidão: termos iguais e conversíveis pelo poeta ativo e fecundo. Quem não sabe povoar sua solidão também não sabe estar só no meio de uma multidão ocupadíssima. O poeta goza desse incomparável privilégio que é o de ser ele mesmo e um outro. Como essas almas errantes que procuram um corpo, ele entra, quando quer, no personagem de qualquer um. Só para ele tudo está vago; e se certos lugares lhe parecem fechados é que, a seu ver, não valem a pena ser visitados. O passeador solitário e pensativo goza de uma singular embriaguez desta comunhão universal. Aquele que desposa a massa conhece os prazeres febris dos quais serão
Ser Amigo é...* Saber ouvir os silêncios da alma, expresso em olhares, gestos, sorrisos, lágrimas... É falar quando for preciso sem medo de ser mal interpretado. Pois no fundo do coração, um verdadeiro amigo sabe que somente quem se preocupa com ele tem a coragem de falar a verdade. Acolher os medos reais ou ilusórios. O medo sempre é maior quando estamos sozinhos diante dele. A presença de um amigo sincero do lado torna a vida mais fácil de ser compreendida. Quem descobriu no sorriso de um amigo o antídoto para seus medos, encontrou um companheiro para a vida toda. Se alegrar com as conquistas do outro. Muito mais difícil do que acolher uma dor é se alegrar com as vitórias que não são nossas. Muitos sabem ser solidários na dor, mas incapazes de se alegrar com a felicidade de outros. Cultivar a amizade em pequenos gestos. Um “oi”, ou simplesmente um sorriso, um “bom dia”, “boa tarde” ou “boa noite” podem fazer grande diferença na vida de alguém. Amizade que não se cuida, morr

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